Em meio a uma epidemia de dengue, na qual os números gerais seguem uma tendência de crescimento, é essencial redobrar os cuidados para evitar o contágio, principalmente com as crianças. Diante disso, todos os meios de prevenção devem ser adotados, a fim de mitigar, ao máximo, a possibilidade de proliferação do mosquito Aedes aegypti.
Este é o alerta da pediatra e referência técnica em pediatria do Centro Materno Infantil de Contagem (CMI), Aurora Souza. “A gente está em um momento epidemiológico muito sério. Já foram registrados cerca de 1.500 óbitos por causa da dengue nos últimos dois meses no Brasil, em todas as faixas etárias, o que é mais do que o ano passado inteiro”, afirmou.
Confira, abaixo, alguns alertas do profissional:
Sinais:
“Em um primeiro momento a gente vai observar febre, geralmente alta. Nas crianças muito pequenas pode ocorrer uma não aceitação de líquidos ou até do seio materno. Uma prostração, irritabilidade e um choro sem motivo aparente também são sinais. Já as crianças que já falam, elas comunicam também dores no corpo, nas pernas e dor de cabeça. As maiores já conseguem delimitar um pouco melhor e podem se queixar de dor atrás dos olhos (retro-orbitária). Na evolução da doença, as crianças podem apresentar também pequenas manchas vermelhas na pele (petéquias). Se criança está saindo do padrão dela, não está aceitando alimentação, o ideal é não demorar a buscar avaliação médica, principalmente para os menores de dois anos.”
Tratamento em casa
“Os pais precisam entender que se trata de uma espécie de ‘internação domiciliar’, que precisa seguir à risca as orientações do médico para a plena recuperação da criança. Na maioria das vezes, nos casos mais simples, é indicado o repouso e hidratação em casa”.
Já a febre e as dores devem ser tratados com analgésicos, sendo que os únicos recomendados são dipirona e paracetamol. “Os anti-inflamatórios, como o ácido acetilsalicílico, ibuprofeno, nimesulida, entre outros, devem ser evitados, pois podem induzir ao sangramento e evoluir para uma hemorragia, tanto nas crianças quanto nos adultos”, alertou. Nesse caso, o médico costuma marcar um retorno ao paciente para averiguar os resultados do tratamento.
Riscos de agravamento em crianças
“Principalmente nas menores de dois anos e aquelas que são portadoras de algumas doenças que comprometem o sistema imunológico. Mesmo uma criança sem qualquer comorbidade pode ter seu quadro de saúde agravado por causa da dengue, o que reforça o alerta aos pais e responsáveis para que fiquem atentos e busquem atendimento médico já nos primeiros sintomas”.
Fora do padrão
“É diferente das outras duas epidemias nas quais trabalhei. Nessa a gente está vendo muita criança com diarreia e vômito, o que compromete a hidratação delas, sendo um agravante. Há, também, bastante crianças com sangramento nasal e na boca, além das petéquias. Já vimos casos de hipoglicemia, pois a criança não estava ingerindo alimentos, e até mesmo de convulsão febril por causa da dengue, por isso o alerta“.
Dengue, Covid, H1N1...
Além da questão delicada com a dengue, as equipes médicas estão precisando lidar com crianças infectadas também com outros vírus. “A gente está tendo uma sobreposição viral, com casos positivos de dengue e covid. Em alguns lugares da cidade, temos conhecimento de crianças com dengue e gripe H1N1. No ano passado, a gente teve alguns casos de doença respiratória que chegou a ter três vírus positivos ao mesmo tempo. Isso nos leva a crer que possa ocorrer novamente, nos próximos 7 ou 10 dias, algum caso com dengue, covid e H1N1, com até três positivos”, afirmou Aurora, que acrescentou a necessidade do esforço em fortalecer ainda mais as medidas de prevenção, como o uso regular de repelentes, além dos cuidados para evitar a proliferação do mosquito transmissor.
Repelentes e outros cuidados
“Quando possível, é importante aplicar o repelente e reaplicar nos períodos indicados. O produto deve conter uma substância chamada icaridina, que tem sua eficácia contra insetos, principalmente o Aedes aegypti. Já nos bebês menores de 3 meses, a barreira é física, com roupas adequadas, telas de proteção nos berços e carrinhos, além de evitar circulação nos horários em que há mais risco de picada, principalmente no final da tarde”, destacou a pediatra, ressaltando que os pais, assim que possível, vacinem as crianças.
Atendimento às crianças com dengue em Contagem
Na rede pública de saúde de Contagem, o atendimento às crianças com sintomas de Dengue está sendo feito em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS), sendo indicado aos pais que procurem a mais próxima de sua localidade. Elas funcionam nos dias úteis, das 7h às 17h, sendo que 17 unidades estão atuando com horário estendido até as 19h por causa do aumento no número de casos da doença. Nos finais de semana, os pais podem buscar atendimento para as crianças também nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) Industrial, Ressaca e Vargem das Flores. Encontre a unidade mais próxima aqui. O atendimento deve ocorrer, preferencialmente, na UBS de referência, buscando as UPAs somente quando isso não for possível.
Números
“Outro fato que chama a atenção é o número do adoecimento das crianças. Na semana passada registramos um aumento de 82% nos atendimentos em relação à primeira semana de janeiro. Além disso, elas vêm sendo acometidas também por quadros gripais, o que deve ser motivo para que todos dobrem a proteção sobre eles”.