Promovido na última segunda-feira (26), o I Seminário Sobre a Violência Psicológica contra a Mulher dentro dos Espaços Familiares, intitulado Reconhecer para Combater, foi uma oportunidade de compartilhar experiências e refletir sobre a temática a partir da perspectiva de profissionais renomados que lidam cotidianamente com a questão.
Como parte da programação do Mês da Mulher, o seminário trouxe importantes palestras e discussões sobre as leis que protegem as mulheres, dos avanços e das dificuldades que elas encontram para que tenham seu direito à vida, sem violência, garantido e preservado.
Ao abrir o evento, o secretário de Direitos Humanos e Cidadania, Rodinei Ferreira, lembrou que é dever da sociedade lutar pela superação desta prática. “É uma conduta que já deveríamos ter banido mas, infelizmente, ela é muito presente em nossa vida e se manifesta de diversas formas, sendo a psicológica a mais difícil de ser detectada, porém, uma das mais severas violências”, destacou.
Em seguida, a coordenadora de Políticas para as Mulheres, Gê Nogueira, ressaltou que, apesar das conquistas obtidas, há um longo caminho a ser percorrido para chegar onde se almeja. “A ideia é que possamos sair deste seminário mais preparados para mitigar essa violência e amparar a mulher da melhor forma possível. O espaço de debate é importante, mas ele não significa nada se não formos para o campo das ações”, fundamentou a coordenadora.
[caption id="attachment_4655" align="alignleft" width="300"] Lidiane Chagas fez depoimento emocionado[/caption]Um dos fatos marcantes ocorridos no seminário foi o depoimento de Lidiane Chagas, que escolheu dividir sua história de superação e sobrevivência com o público presente. Aos 17 anos, após terminar um namoro de 1 ano e meio, a jovem levou do ex-namorado dois tiros, sendo um na nuca e o outro na perna. Os tiros não tiraram a vida de Lidiane, mas a deixaram paraplégica. Marcas no corpo e na alma.
Outros pontos importantes do evento, que se transformaram em momentos de intensa reflexão e aprendizado, foram as palestras da vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CPR-MG), Cláudia Natividade; da mestre e coordenadora do Núcleo Para Elas da UFMG, Elza Machado Melo e da coordenadora da Casa Sempre Viva, Carolina Mesquita.
Palestrantes
Para Cláudia Natividade, a violência psicológica se enquadra na categoria mais invisível dentre as violações. “Ela acontece de forma velada e silenciosa dentro de contextos desiguais de relações de poder que se transformam em práticas abusivas. Tais condutas causam danos à competência emocional e influenciam a motivação, a autoimagem e autoestima da mulher”. Além disso, na opinião da psicóloga, qualquer que seja a idade do agressor, essa violência contra a mulher sempre será uma prática machista e sexista, confundida comumente com a violência verbal. “Pode ocorrer tanto nas relações de intimidade quanto no trabalho e nos espaços públicos. Essa forma de violência não mensurável ocorre por meio de estratégias isoladas ou combinadas, tais como: desautorização, desqualificação, ridicularização, inferiorização, manipulação, controle, isolamento, chantagem e vigilância, comprometendo a autonomia e a autodeterminação das mulheres”, explicou Natividade.
Da mesma forma, a coordenadora da Casa Sempre Viva, Carolina Mesquita, ressaltou o abismo que existe entre a violência física e psicológica. “Facilmente conseguimos reconhecer a violência que deixa marcas, escoriações, roxos. Porém, a psicológica, que ocorre com maior frequência e recebe uma infinidade de nomes: amor, cuidado, ciúme, não é percebida por nós e nem mesmo denunciada. É aí que reside o perigo ”, alertou Mesquita.
Já para a coordenadora do Núcleo Para Elas da UFMG, Elza Machado, o tema está intrinsecamente interligado à violência de forma geral. “Precisamos entender que estamos vivendo em um país violento, que mata mais do que países em conflito. Estamos chegando na casa dos 60 mil homicídios por ano. Isso nos coloca na situação de barbárie que, inevitavelmente, chega à mulher, à mãe, à esposa, à filha”.
Contudo, apesar dessa violência quase indevassável, Machado avalia que é possível superar as adversidades. “A experiência que trago é que podemos ser otimistas e continuarmos a luta, pois estou vendo o sorriso brotar nos lábios das mulheres. Elas trazem suas famílias, trazem seus agressores para serem cuidados e responsabilizados numa perspectiva de reintegração já que, na maioria das vezes, são herdeiros de uma violência anterior. O segredo é estabelecer laços de solidariedade e de reconhecimento do outro, onde cada um contribui com todos numa condição de coletividade. Assim a gente consegue superar a violência”, afirmou.
Elza Machado é também fundadora do Ambulatório de Práticas de Promoção da Saúde da Mulher em situação de Violência e Vulnerabilidade da UFMG. Também participaram do evento, a professora e coordenadora do projeto de extensão com a temática da violência doméstica, Simone Francisca, a coordenadora do curso de psicologia da UNA, Camila Fardim, e a diretora da Saúde Mental de Contagem, Luiza Mara da Silva Lima.
Esta última explicou como funciona o fluxo de atendimento da mulher vítima de violência e como aperfeiçoá-lo. Ao final do evento, foram entregues flores e distribuídos brindes às mulheres presentes.