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AGO
23
23 AGO 2019
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA
"Protagonismo LGBTI" promove palestra sobre transfobia e vulnerabilidade
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Imagine nascer em um corpo com o qual, com o passar do tempo, você não se identifica mais, depois da descoberta, aos poucos, de que a atração física que você sente é por pessoas do mesmo sexo. Experimentar culpas e o próprio preconceito, depois o da família e, enfim, o de toda uma sociedade. Mas a coisa não termina aí: para se tornar uma pessoa trans, deixando de se reconhecer com o sexo de nascimento e passando a se colocar no mundo com o gênero oposto ao de nascença, é preciso passar por um processo de mudança corporal que inclui a tomada de hormônios e, muitas vezes, riscos com a implantação de silicone industrial. Para ganhar a vida, ter poucas opções além da prostituição e, para acessar serviços e políticas públicas, enfrentar diversas dificuldades. E, mesmo com tudo isso, seguir existindo, resistindo e lutando para usufruir direitos que deveriam estar garantidos a todos.

Para falar sobre esses e outros assuntos, o Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual (Cellos) Contagem promoveu na quinta-feira (22/8), no auditório da Prefeitura de Contagem, a palestra “Transfobia e Vulnerabilidade”. Quatro mulheres trans foram convidadas a apresentar um pouco de seus relatos de vida e suas muitas histórias de luta e superação. O evento contou também com apresentação da artista drag Kyara Drummond, Miss Gay Plus Size 2018, e a presença de representantes da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.

Depoimentos e testemunhos de sofrimento e superação

Lua Zanella, cantora, estudante de cinema e arte visual, asseverou que ser trans não é uma questão de escolha e que, diferentemente de outras meninas, contou com o apoio da família em seu processo de transição. “As crianças nascem assim, não é uma questão de escolha. Quando eu era pequeno, eu me reconhecia como um menino gay e, na adolescência, tive certeza sobre minha sexualidade. Depois de um tempo, quando passei a fazer drag queen, fui vendo que eu não me identificava mais com aquelas roupas de homem. Hoje tenho 22 anos e sou uma mulher, independentemente de ter nascido homem. A transfobia é vivenciada desde que você se reconhece como trans. Entre as trans e travestis, 90% estão na prostituição por falta de outras oportunidades, e não por escolha. A expectativa de vida de uma pessoa trans é de 35 anos. Resistirmos não é uma escolha, é uma necessidade para seguirmos vivendo, e eu seguirei resistindo”, disparou Lua.

Sthephanny de Monaco é profissional do sexo e drag queen. Ela conta que sua transição foi muito difícil, e que, ao contrário do relato de Lula Zanella, sofreu bastante preconceito por parte da família. “Na primeira vez em que eu me montei [jargão para se referir ao ato de se vestir como mulher] eu tinha 14 anos. Eu não queria mais vestir roupa de menino e botei fogo em todas as minhas roupas. Só consegui completar meus estudos porque, embora já me sentisse gay, eu ainda não havia completado minha transição. Fui embora de casa aos 18 anos e morei em muitos lugares, sempre trabalhando como profissional do sexo, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e aqui em Contagem, onde vivo há sete anos. Sinto-me muito orgulhosa da mulher que me tornei, mas nós, trans, somos vítimas constantes de diversos tipos de violência. Muitas meninas que trabalham nas ruas acabam fazendo sexo sem proteção, ficando vulneráveis a Infecções Sexualmente Transmissíveis. Muitas descobrem estarem doentes já à beira da norte. Ser trans faz perdermos almoços de domingo com a família, amigos, oportunidades. Mas, às vezes, surgem aberturas para novas possibilidades. Neste ano, através do Marco Antônio Diniz [superintendente de Políticas de Defesa dos Direitos Humanos e Diversidade Sexual da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania], consegui fazer o curso de Corte e Costura do Centro de Formação do Trabalhador de Contagem (Cefort). Grande parte da turma era formada por mulheres mais idosas, que com o passar do tempo foram aprendendo a me respeitar, a me chamar pelo meu nome social e a se referir a mim com pronome de tratamento feminino. Foi uma conquista”, contou Sthephanny, muito emocionada.

Scarlla Veigr, que conseguiu emprego como subchefe de Cozinha, descobriu-se trans aos 24 anos. “Comecei um processo hormonal e tinha medo da sociedade, embora minha família já me aceitasse como um menino gay. Nós, trans, não podemos ter como opção de trabalho apenas a prostituição e o salão de beleza. Precisamos batalhar para ocupar novos espaços”, opinou Scarlla.

Evellyn Loren, vice-presidenta da Cellos Contagem, disse que sempre se sentiu mulher. “Eu era um gay muito bonito, mas eu me sentia diferente, e aos poucos fui descobrindo que o que eu queria mesmo era ser mulher. Tive apoio de uma prima, que me ajudou a entender o que se passava comigo. Hoje, sou uma mulher trans e luto diariamente contra preconceitos e violências diversas. Anseio e luto pelo tempo em que não será mais uma raridade vermos professoras, enfermeiras, médicas e advogadas trans”, ambiciona Evellyn.

Iniciativa fez parte do projeto “Protagonismo LGBTI”

O ativista, militante da causa LGBT e integrantes do Cellos Contagem Leandro Neves explica como foi que surgiu a iniciativa da palestra desta quinta-feira (22). “Ela surgiu a partir de um projeto chamado "Protagonismo LGBTI", do qual participei representando o Cellos Contagem. O objetivo do projeto é capacitar militantes LGBTI+ para atuarem nos espaços de controle social e desenvolverem ações de advocacy, promovendo a cidadania LGBTI+. Após o término do curso, a gente precisa desenvolver uma atividade que envolva esse aprendizado, dentro da nossa cidade. E a atividade que a gente desenvolveu foi essa palestra, para falar sobre transfobia e vulnerabilidade, uma pauta que é muito invisível inclusive dentro do próprio movimento LGBTI+”, contou Leandro Neves.

Apoio da prefeitura

O secretário Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Marcelo Lino, destacou a importância de as minorias ocuparem espaços públicos e de poder e da união frente aos retrocessos. “Precisamos nos sentir fortalecidos e ter a consciência de que existimos e que precisamos ocupar os espaços de poder. Falo na primeira pessoa do plural porque esse debate não é só de um grupo da sociedade, como a comunidade LGBTI+, mas de todas as minorias de direitos, é de todos nós. Se não nos abrirem as portas, ocuparemos com flores e delicadeza ou com a força que se fizer necessária. Precisamos estar juntos e fortalecidos, para podermos cobrar de quem nos representa, inclusive de nós, do poder executivo municipal. Vamos juntos enfrentar o obscurantismo no Brasil e no mundo”, exclamou o secretário.

O superintendente de Políticas de Defesa dos Direitos Humanos e Diversidade Sexual da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Marco Antônio Rezende Diniz, salientou que a atividade da quinta-feira (22) foi um ato político muito importante em tempos de supressão de direitos. “Falar sobre trans, que hoje é uma pauta invisível até mesmo dentro da comunidade LGBT, para mim é essencial entre militantes, ativistas e proporcionadores e garantidores de direitos”. O superintendente comentou também sobre a importância das parcerias entre governo e sociedade civil organizada na luta para a garantia de direitos: “A partir do momento em que eu assumi a superintendência, o Cellos Contagem foi convidado a caminhar junto conosco e, desde então, está sendo um parceiro de primeiríssima hora. Nesses tempos em que direitos deixaram de ser conquistas e tornaram-se novamente objeto de luta, a parceria com a sociedade civil contribui para obtermos mais dados para a proposição de políticas públicas, porque esses movimentos civis organizados, além de estarem na ponta, são os impulsionadores dessas conquistas e lutas por direitos. Esses movimentos sociais são um ponto de respiro para que nós, do governo municipal, consigamos trabalhar e chegar até essas pessoas que necessitam, os LGBTs que estão no gueto, que estão sendo colocados para fora de casa, espancados e mortos. É sempre importante lembrar que o Brasil ainda continua sendo o país que mais mata travestis e transexuais no mundo”, disse o superintendente.

O segundo semestre deste ano vem sendo marcado por uma série de atividades promovidas ou apoiadas pela Prefeitura de Contagem em prol da causa LGBT, como a promoção da Semana da Diversidade Contagem 2019. Entre os dias 30/7 e 4/8, diversas foram as atividades que promoveram reflexões acerca da reafirmação de direitos, do respeito à diferença e da resistência e luta da população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e intersexual (LGBTI+). O ápice da semana foi a realização da 15ª Parada LGBT de Contagem, que, de acordo com o superintendente Marco Antônio Diniz, recebeu moção das forças de segurança da cidade porque a Parada deste 2019 foi a mais organizada dos últimos tempos.

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