No fim da década de 1950, enquanto outras regiões da cidade já estavam em desenvolvimento impulsionadas pela industrialização e a presença de grandes fábricas, uma parte da cidade ainda era um território de espaços verdes, córregos e áreas rurais. As fazendas Olhos d’Água, Pau Grande e Gafurinha, que dominavam essa paisagem, começaram a ser loteadas, e vendidas a pequenos compradores, que se tornaram os primeiros moradores da região, hoje conhecida como região Petrolândia. Na época, não era chamada por esse nome, pois era apenas um lugar de oportunidade, onde as famílias vinham tentar a vida com o que tinham: um lote, uma enxada e um sonho.
O primeiro bairro que surgiu foi o Petrolândia, que recebeu esse nome por causa da Refinaria Gabriel Passos (Regap), da Petrobras, instalada em Betim, mas bem no limite com Contagem. O reflexo da Regap foi imediato: trouxe trabalhadores, oportunidades, e influenciou nome das ruas: Petróleo, Oleoduto, Gasoduto, Gasolina, Querosene, Refinaria Cubatão e outras.
Com inspiração no petróleo, refinado na Gabriel Passos (1), Petrolândia foi de áreas verdes e de fazendas a uma região urbanizada sem perder a tranquilidade original - Fotos: acervo Secult/PMC (1 e2) e Victor Venâncio/PMC (3)
Bem no centro do bairro, uma igreja e um terreno, originalmente destinados a obras sociais, se tornaram símbolo de resistência da população que não aceitou a implantação de um posto de saúde no local. Afonso Paulo Gomes, morador do bairro Petrolândia desde 1979, lembrou que as primeiras conquistas vieram da organização popular.
“Os padres colombianos nos ensinaram a nos organizar. Começamos com reuniões na igreja, depois formamos uma associação de moradores. Lutamos por água, por transporte, por educação. Queríamos uma praça para toda a comunidade”, contou.
A praça Irmã Maria Paula está presente na história da região e na memória dos moradores que lutaram para ter esse espaço de lazer e manifestações religiosas
Fotos: acervo Secult/PMC (1) e Adelcio Ramos/PMC (2)
Assim nasceu a primeira praça: inicialmente nomeada de praça Petrobras, e se tornou um espaço de fé, resistência e manifestação cultural. A partir daí, a comunidade passou a ter um espaço para se reunir, as crianças para correr no chão de terra, as mulheres para fazer orações coletivas, e aos domingos uma feira improvisada com pão, legumes, peixe no carrinho de mão e um pouco de conversa para atravessar a semana. Anos depois, a praça foi renomeada e passou a se chamar praça Irmã Maria Paula, em homenagem à religiosa que dedicou sua vida à população, especialmente aos mais pobres. Até hoje a fé e a praça permanecem como um espaço para receber eventos e a população.
Desenvolvimento comercial
Se os bairros da região Petrolândia foram moldados pela força do povo, seu comércio foi sustentado pelo instinto de sobrevivência. Ao todo são mais de 270 estabelecimentos ativos na região, entre mercados, oficinas, lojas, farmácias, academias, sacolões e bares.
O senhor Manuel Jerônino, abriu sua loja na região em 1981, quando se mudou para o bairro em busca de um lugar que pudesse morar e empreender. Hoje sua loja é uma das mais conhecidas pela população. “Comprei o lote e construí minha lojinha na frente e morava nos fundos. À noite, afastava as prateleiras para guardar o fusquinha dentro do comércio. Vendia de tudo. De vara de pescar, vestido de festa junina até material escolar. Tudo que o bairro precisava, a gente tentava vender”.
Hoje, quem segue à frente da loja é a filha, Gisele Cristina. “Tem cliente que morou aqui, foi embora há 20 anos e ainda volta pra comprar com a gente. O comércio tem memória. As pessoas gostam de ser atendidas por quem conhece o bairro. Isso faz diferença”. O comércio local atrai moradores de bairros vizinhos como Beija-Flor, São Luiz, Tropical, e até de cidades próximas como Igarapé e Ibirité.
Desenvolvimento urbano
Mas nunca foi só a fé e a refinaria, foi, acima de tudo, trabalho coletivo. E os bairros que ali nasceram, não foram todos construídos por empreiteiras e grandes empresas, muitas casas foram erguidas pelas mãos dos próprios moradores.
O Programa "Moradia Popular" possibilitou o loteamento do bairro Sapucaias I, onde os moradores construíram as próprias casas, enquanto as crianças se divertiam brincando nos cavalos de fazendeiros da região
Fotos: acervo Secult/PMC (1 e 2) e acervo pessoal (3)
Regina Maria foi uma das beneficiadas pelo programa de moradia popular que existia na época. Ela chegou ao bairro Sapucaias I e ainda guarda na memória como se fosse ontem. “Quando recebemos a carta eu estava trabalhando. Quando li, achei que era um engano. Lia e relia. A carta dizia que eu tinha sido contemplada com um lote num programa da Prefeitura. Fui correndo ver. Cheguei aqui e era um pasto enorme. Meus filhos e as crianças dos vizinhos se encantavam com os cavalos. Montavam neles, dava briga com os donos. Mas era bom demais!”.
O relato de Regina é o de milhares de famílias que chegaram à região entre o fim dos anos 1980 e os anos 1990. "A empresa disponibilizou o engenheiro só para orientar, pois quem pegava no tijolo, passava o dia misturando cimento, carregando lata d’água, levantando as paredes era a gente. Para ficar mais leve a gente acampava, fazia fogueira para esquentar o almoço. Não havia encanamento, nem esgoto, nem iluminação em muitos trechos. Mas havia o sentimento e a certeza: o que se construía ali não era só moradia, era a realização de um sonho”.
Petrolândia hoje
Atualmente, a região Petrolândia é bem desenvolvida, com infraestrutura urbana sólida: ruas asfaltadas, escolas, rede de esgoto, transporte coletivo, iluminação pública e espaços comunitários distribuídos em mais de 15 bairros, como Campo Alto, Solar do Madeira, São Caetano, Estância Imperial, Sapucaias I, II e III, Tropical I e II, Vila Ipanema, Vila Universal, Vila União, Nascente Imperial do Madeira e outros. O crescimento urbano foi acompanhado de investimentos públicos, que mudaram a região visualmente e também a vida da população com entregas e uma série de obras.
Na área da saúde, os avanços dos últimos anos transformaram completamente o cotidiano da população que, muitas vezes, tinha que se deslocar para longe para conseguir atendimento. Hoje há uma rede ampla, com unidades em todos os pontos da região. Na Atenção Básica, as UBSs São Luiz I e II, Campo Alto, Tropical II, Sapucaias, Estâncias Imperiais e Duque de Caxias se tornaram referências para os moradores. Junto a elas, a Farmácia Distrital e a UPA Petrolândia garantem o atendimento e o fornecimento gratuito e regular de medicamentos essenciais, ampliando o acesso da população aos tratamentos.
As UBSs Estâncias Imperiais, Sapucaias e São Luiz I integram as sete unidades da Atenção Básica que promovem o atendimento da população na região Petrolândia - Fotos: Luci Sallum/PMC (1), Adelcio Ramos/PMC (2) e Janine Moraes/PMC (3)
E uma grande novidade na saúde pública da região está em construção e tem gerado expectativa entre os moradores: a nova UPA Petrolândia, classificada como Porte II pelo Ministério da Saúde. A obra, iniciada em novembro de 2024, segue em ritmo acelerado. A nova unidade está localizada entre as ruas Madeirão, Maripá e Monte Belo, e será composta por dois blocos interligados por corredores com rampas, garantindo acessibilidade plena e fluxo eficiente entre os ambientes. A nova UPA vai proporcionar mais qualidade e eficiência ao atendimento perto de casa.
Se a saúde melhorou, a educação não ficou para trás. O que, décadas atrás, era escasso, se transformou em uma grande rede de ensino, que atende desde a primeira infância até o nível técnico. Destaque especial para a Funec Petrolândia, que oferece ensino médio e cursos técnicos integrados, preparando os alunos da região para o mercado de trabalho e para o ingresso no ensino superior. Na educação infantil, os Cemeis Sapucaias, Cora Coralina, Maria do Perpétuo Socorro Madureira Nascimento, são alguns dos que oferecem ensino e acolhimento pedagógico qualificados, desde os primeiros anos, aos pequenos.
A região também abriga várias escolas municipais e estaduais, que atendem milhares de crianças e adolescentes. As estruturas foram modernizadas, os quadros pedagógicos reforçados e os projetos ampliados com foco no desenvolvimento integral das crianças. Entre as mais tradicionais estão as escolas municipais Isabel Nascimento de Mattos, no Petrolândia; José Silvino Diniz, no Solar do Madeira; Professora Maria Martins, no Tropical; Eduarda Pereira de Oliveira, no Campo Alto; além da Senador José Alencar, que atende o bairro Sapucaias II.
Lazer e encontros
Contagem está sendo reconhecida por muitos como a cidade do encontro, devido às suas praças e parques. Na região, três parques se destacam: o Tropical, o Sapucaias, e o novo parque, a ser inaugurado, no bairro Sapucaias 2. O parque Sapucaias I, recentemente foi reformado, e agora conta com uma nova estrutura, segurança reforçada e recebe aulas de dança, ginástica, capoeira e atividades recreativas.
Mas nenhum espaço talvez reúna tantas possibilidades como o parque Tropical, ele tem uma área superior a 51 mil metros quadrados, composta por estrutura pensada para o esporte e o lazer para todos. Nele acontece também o esporte adaptado para pessoas com deficiência, como o basquete sobre rodas, é um projeto social para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).
O parque Sapucaias II, está com as obras finalizadas e sendo preparado para a tão aguardada inauguração. No novo espaço está sendo implantado playground, academia ao ar livre, mirante, áreas de convivência, quiosques, rampa para acessibilidade e sinalização tátil. Um paisagismo cuidadoso, com espécies típicas da vegetação brejosa da região, garantirá a preservação ambiental ao lado da beleza visual.
Parques e praças são locais de lazer, prática esportiva e reforçam o clima de encontro e tranquilidade típicas da região - Fotos: Fábio Silva/PMC (1 e 2) e Adelcio Ramos/PMC (3)
Outro espaço queridinho dos moradores é a praça Irmã Maria Paula, no bairro Petrolândia. Como dito antes, ela é muito importante para a história local e se mantém viva na memória de todos. Nela acontecem os principais eventos da região, encontros culturais e ações comunitárias. Além das edições da Feira da Ecosol, o espaço já recebeu os eventos natalinos, teatro da Paixão de Cristo e o tradicional Arraiá de Contagem.
Recentemente outras praças, como a do Campo Alto e a do Solar do Madeira, ganharam mais vida com os projetos de paisagismo, iluminação e arborização promovidos pela Prefeitura. Em vários trechos da região, é possível perceber canteiros bem cuidados, novos bancos, brinquedos restaurados, calçadas acessíveis, lixeiras, arte urbana e sinalizações.
Mobilidade
A Via Expressa de Contagem, que passa dividindo ao meio os bairros da região, é um dos principais caminhos para quem vai tanto no sentido Betim como para Belo Horizonte. Nos últimos anos, foram executadas importantes obras de infraestrutura e serviços, entre elas a construção do Viaduto Petrolândia e a implantação do Terminal Petrolândia, que funcionará junto com o Sistema Integrado de Mobilidade (SIM). Além disso, diversos bairros da região foram contemplados com o Programa “Asfalto Novo”, que recuperou 38 vias.
Região acolhedora
O tempo passou, os bairros cresceram, as ruas foram urbanizadas, e a vida seguiu seu curso. O morador João Batista, que mora na região desde a década de 1960 destacou que apesar de tantas transformações, uma coisa nunca mudou: o sentimento de pertencimento.
“Minha sensação sobre a região é ótima! Moro aqui desde 1969 e, ao longo dos anos, vi muita coisa mudar, mas continuo achando um lugar muito agradável para se viver. É uma região tranquila, com vizinhança acolhedora, o que faz toda a diferença no dia a dia. Nos meus momentos de lazer, gosto muito de frequentar a praça Irmã Maria Paula, especialmente quando acontecem eventos culturais ou comunitários por lá. É um espaço onde encontramos amigos, conversamos e revivemos boas lembranças”.