Em noite marcada pela emoção, pela resistência e pelo orgulho ancestral, a Comunidade Quilombola dos Arturos se reuniu em peso para assistir à exibição do filme “13 de Maio: A Abolição da Escravatura”. No evento, realizado nesta terça-feira (15/4) , teve pipoca acompanhada de uma energia vibrante que percorreu cada segundo da projeção. Mais do que uma sessão de cinema, foi uma celebração viva da memória, da luta e da identidade negra.
O documentário, produzido com recursos da Lei Paulo Gustavo por meio da Prefeitura de Contagem, reconstrói, com sensibilidade e força, a história do festejo do 13 de Maio – data que marca a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel e que, apesar de controversa, representa uma ruptura histórica para o povo negro brasileiro. Em cerca de 40 minutos, o filme acompanha os preparativos e os significados da tradicional festa da comunidade, que vai além da celebração: é um grito político, um chamado à resistência e uma convocação à memória coletiva.
Força, Cultura e Resistência
A noite começou com um momento especial: adolescentes da comunidade e convidados declamaram poesias da escritora Conceição Evaristo, reforçando a potência da literatura negra como instrumento de fortalecimento identitário. Logo após, a exibição do documentário emocionou o público, especialmente ao mostrar a mobilização da comunidade para manter viva a festa do 13 de Maio.
“A festa do 13 de maio é uma festa política, onde a comunidade é convidada a resistir e cobrar publicamente tudo o que a Lei Áurea não conseguiu nos garantir”, destaca a narração do filme.
Presente na exibição, a superintendente de Políticas Culturais, Aniele Leão, destacou a importância da parceria entre o poder público e as comunidades tradicionais na preservação da cultura. “Temos conseguido fazer esse diálogo próximo da comunidade, acompanhar as agendas e ver, quando termina, que o documentário tem o apoio da Prefeitura de Contagem, pela Lei Paulo Gustavo. Ficamos muito felizes, porque é bem trabalhoso organizar esses editais”, disse.
Ela ressaltou que Contagem recebeu quase R$5 milhões pela Lei Paulo Gustavo, sendo R$3,5 milhões destinados ao audiovisual. “Para permitir que joias como essa aqui fossem produzidas. A Comunidade dos Arturos é um grande exemplo do bom uso do recurso público. Vida longa à Comunidade dos Arturos”, festejou Aniele.
A estreia do documentário foi exibida nesta terça-feira (15/4) na Comunidade dos Arturos
Fotos: Pablo Abranches / PMC
Audiovisual como ferramenta de memória
Para a produtora do filme, Gracielly Naiara, o audiovisual é uma poderosa ferramenta de salvaguarda das tradições afro-brasileiras. “Sempre, primeiramente, honrando a nossa ancestralidade. Dizer que esse filme é um importante elemento de salvaguarda. Desejo fortemente que a juventude abrace a tecnologia e o audiovisual como esse importante instrumento para salvaguarda do nosso patrimônio”, declarou.
Ela contou que, durante a produção do filme, foi realizado um processo formativo com os jovens da comunidade: “Colocamos esses jovens para pesquisar o histórico dos Arturos e, junto a essa pesquisa, também a história real do povo negro, a história real do que foi a abolição da escravatura no Brasil.”
Para o presidente da Comunidade dos Arturos, Everton Eustáquio, a responsabilidade de dar continuidade ao legado é um compromisso coletivo. “Temos uma missão, o fardo é pesado, é difícil presidir a comunidade, mas se dividir fica leve. Estamos hoje colhendo frutos, graças aos nossos avós, nossos antepassados, a todos eles. Podemos ir bem mais longe, só depende de cada um. É responsabilidade de cada um participar e ajudar. É um momento muito marcante. Vai ficar pra história. E é nossa responsabilidade dar continuidade a esse legado.”
10 anos de reconhecimento e uma história centenária
A exibição do documentário integra a programação que celebra os 10 anos do reconhecimento da Comunidade dos Arturos como Patrimônio Imaterial de Minas Gerais e de Contagem. Fundada em 1885, a comunidade é uma das mais antigas quilombolas do Brasil e um símbolo da cultura afrodescendente mineira.
A comunidade está localizada no bairro Vera Cruz, em Contagem, e mantém viva a história, os ritos e as tradições herdadas de seus ancestrais. Em 2004, foi reconhecida oficialmente como quilombo pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA), e em 2014, a Festa de Nossa Senhora do Rosário foi declarada patrimônio cultural imaterial do estado.