“Trabalhar na feira foi a realização de um sonho”. Antes, o que era apenas um complemento, tornou-se a única fonte de renda de Raquel Viana e sua família. Nascida e criada em Contagem, a feirante é uma das várias pessoas que tiveram suas vidas transformadas após iniciar no empreendimento. Criada na década de 1980, a Feira de Arte e Artesanato do Eldorado, popularmente conhecida como “feirinha do Eldorado”, é uma das mais tradicionais do município. Atualmente ocorre aos sábados e domingos, das 8h às 15h, na avenida José Faria da Rocha.
A feira é dividida em sete segmentos, sendo eles, vestuário adulto e infantil, decoração, bijuterias, couro, alimentação e hortifrutigranjeiros, todos identificados por cores diferentes. Mais de 510 barracas são expostas, aos sábados, e cerca de 150, aos domingos. Ela também conta com expositores da Economia Solidária, sendo 16 aos sábados e seis aos domingos. Isso faz do ambiente um ponto de encontro tradicional, que movimenta a economia local e atrai visitantes de outras cidades, além de possibilitar a geração de empregos e renda.
A maioria dos feirantes tem acima de 50 anos, sendo que 84% dos empreendimentos são administrados por mulheres. É o caso de Raquel, que vende bijuterias desde 2018. “Sou muito grata e tenho orgulho das conquistas que o trabalho proporcionou para mim e minha família. Hoje é a nossa única fonte de renda”.
Ela conta com o apoio do marido e do filho na produção e comercialização das peças. “Trabalhamos com bijuterias com propósito, com materiais recicláveis e naturais como pedras e sementes, tudo feito à mão. Nós, também, fazemos da nossa atividade uma forma de cultura, pois recebemos encomendas para diferentes segmentos religiosos”.
Para a artesã, uma das principais realizações, fruto de seu trabalho, é contribuir com a faculdade do seu filho. “Ele cursa nutrição e já está na metade da graduação. Poder proporcionar um futuro melhor para o meu filho é a minha maior alegria. É uma oportunidade maravilhosa tirar daqui o sustento da minha família e falar que eu moro em Contagem. Nasci, fui criada e, hoje, eu me sinto pertencente a essa cidade, trabalhando aqui na feira”, destaca.
Anita Melo é, também, uma das feirantes que acompanhou o desenvolvimento do local desde o início. Mãe solo, ela levava o filho para o trabalho e assim conseguiu garantir o sustento do seu lar. “Fiquei viúva muito jovem e, além da oportunidade para trabalhar, a feira foi o local onde fui acolhida. Minha história de vida não foi fácil, na época até fome a gente passou. Segui em frente graças ao apoio que recebi aqui, pois tinha que criar meu filho.” Ela relata as conquistas com emoção e orgulho. “Com as vendas dos materiais de decoração pude proporcionar duas faculdades para ele. Sou muito grata por tudo o que conquistei e por ter conseguido criar um bom homem. A feira é uma dádiva para mim”, conclui, agradecida.
Raquel e Anita, artesãs e empreendedoras, mulheres que transformaram a vida delas e de suas famílias a partir do trabalho na Feira do Eldorado. Foto: Luci Sallum/PMC
Avançando no empreendedorismo
Não são raras as histórias de pessoas que começaram com um estande na feira e depois foram criando suas próprias empresas. Atanagildo Hortelan trabalha no local vendendo alimentos como espetinho, tropeiro e macarrão na chapa desde 1999. “Para mim, a feira é importante, porque tudo o que conquistei foi fruto do meu trabalho aqui. Além da minha casa e da educação dos meus filhos, hoje tenho uma sorveteria e um bar. Fico muito feliz por empreender e poder contribuir para gerar oportunidades. Já trouxe muitos jovens para trabalhar comigo que se tornaram amigos, muitos evoluíram, fizeram faculdade e conquistaram a profissão que sonhavam. É gratificante”, ressalta.
Já Luana Araújo, que atua no segmento de moda feminina, explica que a ideia do empreendimento veio da família. “A marca foi fundada pela minha mãe e minha irmã mais velha, que hoje tem uma linha de acessórios. Elas sempre acreditaram na moda. Minha mãe é autodidata, fazia as nossas próprias roupas mesmo com pouca condição financeira. Como ela sempre costurou muito bem, as pessoas começaram a fazer encomendas e, dessa forma, começamos a acreditar no nosso sonho.” A mãe da empresária começou a trabalhar na feira logo nos primeiros anos. “Já fazem 40 anos que minha mãe começou a trabalhar na feira, 10 anos depois ela já fazia estampa, modelagem e desenho próprio para se diferenciar no mercado.”
“Eu e minhas irmãs crescemos na feira vendo o trabalho dela. Tudo começou vendo minha mãe costurar e, hoje, eu tomo conta do negócio. Atualmente temos outros pontos de venda, como showroom e loja on-line. Na nossa confecção, cortamos os tecidos, estudamos a modelagem e vemos o corpo feminino em toda a sua formas e detalhes. Hoje temos nossa própria fábrica com costureiras e faccionistas. Então, também geramos emprego e, tudo isso, surgiu a partir do trabalho aqui na feira.” finaliza.
A feira é assim familiar, acolhedora, trabalho que passa de geração para geração. Foto: Luci Sallum/PMC
Histórias como essas representam a importância socioeconômica e cultural do local no contexto no qual ele está inserido. O gerente da feira do Eldorado, Carlos Henrique, reforça sobre seu significado. “A feira é uma tradição da cidade. É um ponto de encontro, um lugar em que as famílias se reúnem para conversar, comprar um presente, lanchar, criar laços e construírem memórias afetivas. Além disso, movimenta a economia de Contagem, potencializa a geração de empregos, renda e, o mais importante, transforma realidades.”