Contagem é a primeira cidade de Minas Gerais a ser contemplada com o “Programa Cuidados Paliativos no SUS - Atenção Hospitalar, Ambulatorial Especializada e Atenção Domiciliar”, do Ministério da Saúde. O programa consiste no cuidado de pacientes em uma fase mais terminal, já que à medida que as doenças avançam, os sintomas costumam ficar cada vez mais frequentes e mais intensos. Por isso, é preciso aprimorar e oferecer um cuidado mais adequado para minimizar o sofrimento dos pacientes.
Na segunda-feira (19/12), a Secretaria Municipal de Saúde - SMS apresentou o programa aos profissionais de saúde, no auditório do Hospital Municipal de Contagem - HMC. Ele faz parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde - Proadi-SUS. É executado pelo Hospital Sírio-Libanês e conta com o apoio do Conselho Nacional de Secretários de Saúde - Conass.
O objetivo é apoiar os serviços de saúde em práticas de Cuidados Paliativos - CP, por meio da construção e implementação de fluxos e protocolos, além de capacitação dos profissionais de saúde atuantes na atenção hospitalar, ambulatorial especializada e atenção domiciliar.
No município, o programa será de dez meses e terá caráter multidisciplinar. Segundo a superintendente de Urgência e Emergência da SMS, Karina Taranto, esse projeto nasceu mediante vários movimentos que o município de Contagem já tinha iniciado no processo de qualificação da assistência em cuidados paliativos. “Durante este ano, as equipes da atenção especializada, do serviço de atenção domiciliar e também da atenção básica, estão fazendo esse esforço de trabalhar essa vinculação com os equipamentos de saúde, por meio das nossas referências e da equipe capacitada. O Hospital Municipal de Contagem também já vinha trabalhando no processo de qualificação dessa temática da assistência. Tudo veio a contribuir com o fato de sermos contemplados com esse programa”, disse.
O que é o Cuidado Paliativo?
Segundo dados do Proadi, o cuidado paliativo é uma abordagem que melhora a qualidade de vida de pacientes e das suas famílias, diante de doenças que ameaçam a vida. Previne e alivia o sofrimento nas suas múltiplas dimensões, do ponto de vista físico, psíquico, social e espiritual. “O Cuidado Paliativo - CP é exatamente tirar um pouquinho o foco da doença em si e mudar o foco para o paciente que sofre de uma doença grave, no sentido de favorecer a qualidade de vida”, explica a médica do Proadi – Hospital Sírio Libanês, Manuele Amorim.
Manuele Amorim ressalta que os cuidados envolvem também a família dos pacientes que sofrem com doenças ameaçadoras da vida. “Quem sofre é o paciente, a família, seus cuidadores, aqueles associados e ligados ao seu cuidado. Então, se a gente pensar em melhorar a qualidade de vida deste paciente, isso envolve cuidar da qualidade de vida também da família”.
É importante que o CP não aconteça apenas quando o tratamento não é respondido, mas que ele seja implementado desde o início do diagnóstico. A médica desta que o cuidado paliativo também não se encerra quando o paciente vai a óbito. "É importante cuidar do luto daqueles que faziam parte do cuidado daquele paciente".
Por que o projeto está sendo implementado?
De acordo com relatório divulgado pela OMS, as iniciativas de cuidados paliativos no Brasil ainda não são suficientes. Por isso, é importante a implementação do programa, para caminhar no sentido de cuidar melhor desses pacientes. O cuidado paliativo vem se disseminando, mas esse crescimento ainda não corresponde à demanda e se concentra, majoritariamente, na região sudeste. É necessário fazer com que o CP chegue a todas as regiões do país.
Como o projeto irá funcionar?
Os principais impactos do CP são a melhoria da qualidade de vida do paciente, melhor controle de sintomas, prevenção e minimização do sofrimento e melhor utilização de recursos de saúde.
Em termos de saúde pública, existem quatro pilares fundamentais para o funcionamento do CP. São eles: os cuidados paliativos gerais, cuidados paliativos especializados, rede de apoio informal e redes coerentes com o serviço de saúde, mas que não são da área.
Entre os cuidados paliativos gerais estão o manejo básico de dor e sintomas físicos, manejo básico de ansiedade e depressão e discussões básicas sobre prognóstico, objetivos de tratamento e plano de cuidados.
O programa que será realizado em Contagem é focado nos cuidados paliativos gerais, e para o psicólogo do Proadi, Leonardo Bohner, saber fazer esses cuidados já é muito significativo. “Se os profissionais de saúde que já estão inseridos na rede de assistência conseguirem fazer isso, vamos dar conta de uma demanda que existe, mas que nem sempre enxergamos. Sempre tem que criar novos profissionais para isso. A demanda está aí, o profissional está aí, a questão é saber fazer cuidados paliativos básicos. Isso já é bastante coisa”, diz.
Entre os cuidados paliativos especializados estão o manejo de sintomas refratários, manejo de luto e sofrimentos existenciais e complexos e assistência e resolução de conflitos relacionados aos objetivos ou métodos de tratamento entre familiares/equipes.
O psicólogo ainda frisa que é importante começar a se falar sobre os serviços que não são de saúde. “Para que seja possível formar uma rede coerente com o serviço de saúde é importante falar sobre isso em templos religiosos, escolas, comunidades, para que possam fazer parte da rede de apoio”.
Cronograma
O programa tem como área de atuação o desenvolvimento de técnicas, operação de gestão e serviço de saúde. O objetivo é disseminar cuidados paliativos gerais nesses serviços envolvidos por meio da implementação de protocolos de CP e capacitação das equipes do SUS.
O projeto é sempre realizado de maneira híbrida, on-line e presencial. “Nós viemos aqui e ficamos alguns dias. A ideia é que a gente retorne a cada três semanas, dentro desses dez meses, com exceção do monitoramento, que é um período feito de forma on-line”, relata a enfermeira do Proadi, Heloísa Maragno.
Os dez meses de duração do programa são divididos em algumas fases. Sendo a primeira o alinhamento inicial, seguido pelo diagnóstico, definição e interpretação do plano de ação, monitoramento e as capacitações.