Cerca de 100 pessoas, entre guardas civis, estudantes, membros de conselhos, servidores municipais e representantes de religiões de matriz africana, participaram do “Seminário de Segurança Pública e Promoção da Igualdade Racial”, nesta quinta-feira (18/11), no auditório da PUC Minas/Campus Contagem.
O evento faz parte da programação do “Novembro Negro” e foi desenvolvido pelas secretarias municipais de Defesa Social e de Direitos Humanos e Cidadania, com o objetivo de propor debates e reflexões acerca de duas importantes temáticas: o rompimento de estereótipos nas abordagens de segurança pública e o direito ao sagrado para religiões de matriz africana.
Para falar sobre os temas, foram convidados diversos especialistas, entre eles, o professor e doutor em psicologia, Alessandro Pereira Santos; a advogada e pós-graduanda em Juventudes, Camila Marques, e o professor e secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Marcelo Lino.
Ao abrir o evento, a secretária de Defesa Social, Paola Soares, descreveu o seminário como uma oportunidade para pensar e ressignificar o trabalho frente a uma política de segurança pública que clama por direitos humanos e respeito. “Como área finalística, o nosso melhor indicador é a prestação do serviço. Mas de que forma o fazer? Eu não tenho dúvida que o melhor caminho é a inclusão, o respeito e o entendimento sobre as minorias, sejam elas quais forem. Parabenizo aos organizadores por criar esse espaço, pois acredito que sairemos daqui diferente do que entramos”, ponderou.
O comandante da Guarda Civil, Wedisson Luiz, lembrou que segurança pública é e sempre será objeto de estudo para a construção da cidadania, pois ela não é instrumento exclusivo de polícia. “Somo o elo de uma corrente enorme. Como agentes públicos de segurança, estamos submetidos a diversos desafios e, portanto, temos que fazer um exercício diário de tolerância, entendendo que é necessário priorizar a garantia de direitos. Só assim conseguiremos mudar corações e mentes”, avaliou.
Para o professor e doutor em psicologia, Alessandro Pereira Santos, o debate que unifica segurança e igualdade racial ainda é pouco discutido na sociedade. “Parabenizo pelo ineditismo e agradeço o convite. É sempre um desafio contrapor esses dois temas, que são sensíveis e espinhosos”, destacou.
De acordo com ele, a segurança pública nasceu com um vício de origem. Os exércitos estaduais, a guarda imperial, as forças de segurança foram criadas para proteger o patrimônio e não a vida. “Faz pouco tempo que a sociedade discute segurança como proteção do cidadão, porque ele era visto como inimigo até alguns anos atrás. Inimigo você não protege, elimina. E o inimigo no Brasil tem cara, cor, gênero e território. Esse mesmo corpo que aqui evoca e vos fala é o mesmo corpo que pode ser encontrado em becos, vielas e praças. Eu só posso proteger a vida quando eu reconheço que ali tem uma vida”.
Por tudo isso, Alessandro deixou claro que defende uma segurança pública que valoriza a vida, inclusive a vida dos agentes de segurança. “Essa política de eleger inimigos não resolve o problema de segurança. Sabemos que o uso de álcool e outras drogas e o adoecimento psíquico em servidores da segurança pública aumentaram no país, inclusive o número de suicídios. No meu entendimento, enquanto a segurança ficar buscando o inimigo, a sociedade e os agentes vão adoecer. A gente precisa compreender atrás de quem estamos correndo, porque isso nos adoece e não, necessariamente, produz um país mais seguro”, alertou o professor e especialista.
Já a advogada Camila Marques, em sua palestra, fez um convite à reflexão ao expor trechos de notícias envolvendo policiais e pretos e relatos de jovens sobre a percepção truculenta que eles têm das abordagens das forças de segurança. “Essa é a percepção que muitos jovens têm. Eu sei que não dá para chegar em um determinado ambiente e pedir licença para atuar. Há determinados ambientes que são hostis e demandam atenção e repressão maior na abordagem. Mas, em outros espaços e relações, isso pode ser revisto. A gente pode construir esse diálogo e um relacionamento mais saudável, aproximando a segurança e evitando que abordagem dos agentes sejam percebidas como um elemento de violação”, defendeu a advogada.
E, por fim, o secretário Marcelo Lino colocou em pauta o desafio de consolidar uma política de direitos humanos, inter-religiosa e ecumênica que respeite todas as manifestações religiosas. “Temos esse compromisso de preservar o direito ao sagrado de uma parcela da população, que muitas vezes tem até a sua fé criminalizada. Precisamos perceber que temos desafios imensos a romper e cabe ao poder público o protagonismo de promover os debates e evitar que essas questões fiquem escondidas ou subentendidas. Precisamos falar e mudar, é isso que nos move e nos faz estar aqui hoje”.
O seminário também foi marcado por manifestações religiosas de matriz africana e pela apresentação da Banda de Música da Guarda Civil de Contagem. Também estavam presentes a subsecretária de Prevenção e Segurança Pública, Daniela Tiffany, e a subsecretária de Direitos Humanos e Cidadania, Lorena Lemos.