Quem ouve o sujeito surdo? As respostas para essa pergunta envolvem complexos processos de configurações entre ouvintes, não-ouvintes e intérpretes, tipos de tradução e interpretação e um conhecimento profundo e estratégico de cada minúcia das línguas envolvidas. Para abordar o tema, a Associação dos Surdos de Contagem (ASC) realizou o 4º Simpósio de Libras, salientando a importância do intérprete surdo. O evento ocorreu na sexta-feira (25), em espaço localizado ao lado da ASC, situada na regional Eldorado, e reuniu em torno de 200 pessoas, entre surdos, não-surdos e interessados no assunto.
Lucieni José de Oliveira, da ASC, integra a comissão organizadora do simpósio e explica, mediada pela ouvinte e intérprete de Libras Rosane Lucas, que esta é a quarta vez em que a associação realiza, de forma consecutiva, esse tipo de evento. “Uma vez por ano fazemos esse evento, para, entre outros objetivos, divulgar a Língua de Sinais, as Libras, e aspectos relacionados à cultura surda”, assevera Lucieni.
As palestrantes convidadas para o simpósio foram Éricka Viviene Faria Macedo e Ivonne Azevedo Makhoul, surdas e intérpretes de Libras. Para elas, é preciso estar atento ao fato de que os cursos de formação de intérprete são, principalmente, voltados às técnicas de interpretação da língua de sinais para a língua oral, e vice-versa (intralingual), mas que também existe conversão entre modalidades de línguas em que ocorre a conversão de uma língua para outra (interlingual). “Temos profissionais, por exemplo, que traduzem o sistema de Libras Americana para as Libras em Português, e vice-versa. Mas isso envolve um conhecimento muito profundo de noções de discurso, língua, sujeito, efeitos de sentido, tradução e interpretação. Envolve inclusive considerar o público para quem está-se falando: são acadêmicos, pessoas mais simples, crianças? Por isso, é preciso também se colocar no lugar do outro e ter muita empatia”, reforçam as palestrantes.