O Galpão de Triagem da Associação de Catadores Autonômos de Materiais Recicláveis de Contagem (Asmac), do bairro Novo Riacho, celebrou com missa festiva no último sábado (24), a sua reinauguração. As reformas de melhorias foram realizadas em parceria com a Prefeitura de Contagem, por meio do Instituto de Referência em Resíduos (IRR), da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) e a Paróquia Cristo Salvador. O espaço passou por reformas e adequações com o principal objetivo de oferecer aos associados melhorias nas instalações e condições de trabalho, organização do fluxo de entrada, processamento e saída dos materiais recicláveis, e também possibilitar a inclusão de novos catadores.
A missa festiva, realizada no Galpão, foi co-celebrada pelo padre Ferreira, pároco da Paróquia Cristo Salvador, responsável pela Pastoral de Rua, que é uma equipe de leigos e religiosos que abraçou o trabalho dos catadores, favorecendo a criação da Asmac. Padre Ferreira celebrou a alegria da reinauguração do espaço. “Essa casa promove a cidadania de seus trabalhadores, pessoas simples e humildes que mexem com toda a cidade, favorecendo a questão social e ambiental. A parceria entre a Prefeitura de Contagem, paróquia Cristo Salvador e empresas apoiadoras é relevante e necessária para o cuidado com a cidade de Contagem e do nosso planeta. Neste local, o lixo dignifica o ser humano, mantendo a subsistência dos catadores e seus familiares”, ressaltou.
A Prefeitura de Contagem e a Asmac possuem uma parceria de longa data, com a participação 50 associados e mais de 200 famílias. Esses trabalhadores coletam cerca de 120 toneladas de lixo reciclável ao mês, sendo cinco toneladas ao dia. A Associação conta com três galpões para a seleção dos resíduos, sendo um no bairro Perobas, um dentro da Ceasa e o terceiro no Novo Riacho, que possui valor singular na história da Asmac, pois o espaço sediou o processo de organização e criação da entidade no ano de 2001,com o apoio do movimento Pastoral de Rua. Em cada galpão a distribuição da renda se dá de maneira diferente. No caso do Novo Riacho, a produção é por catador.
Para a técnica em Mobilização Social e Educadora Ambiental da Superintendência de Planejamento em Resíduos Sólidos da Semad, Nilma de Souza Pena, durante esses 18 anos de funcionamento a Asmac tem possibilitado a geração de trabalho e renda para dezenas de catadores e seus familiares. “Isso se dá devido a uma construção histórica sobre a noção de lixo e resíduo e as atribuições a ele designada”, lembrou. Ela informou que a entidade dedica parte do trabalho para tirar os catadores informais das ruas na tentativa de acabar com a vulnerabilidade social. Porém, existe grande resistência da parte dos cerca de 1.500 catadores nessa situação. “Para se associar é necessário contribuir no INSS, cumprir horário de trabalho, usar uniforme e equipamentos de segurança, o que afasta os catadores que não querem vínculo responsável”, informou Nilma Pena.
O evento foi muito comemorado também, pelo coordenador da Equipe Técnica do IRR/Semad, José Aparecido Gonçalves. Ele agradeceu, em nome da Prefeitura de Contagem, a parceria com a arquidiocese. “Padres são pessoas que abriram mão de várias possibilidades, para servir. Apesar de todas as dores vale a pena trabalhar nesse projeto de inclusão dos mais pobres. É do lixo que a sociedade descarta e joga fora, que criamos possibilidades para que esses trabalhadores sintam que a vida prevalecerá sempre”, acredita Gonçalves.
História de superação
A função da Asmac não se resume a destinação adequada dos resíduos sólidos coletados ou o papel social, ambiental e econômico do catador, mas também a Associação mudou e muda a vida de quem necessita da atividade exercida ali para sobreviver. São muitas as histórias de superação que orgulha e emociona a todos os envolvidos com a entidade.
Marlene Lourenço Pereira, ou Dona Marleninha, coordenadora e co-fundadora, é um exemplo de superação dentro da Asmac. Vinda quando adolescente da cidade mineira de Pescador para Contagem em busca de uma melhor qualidade de vida encontrou dificuldades. Trabalhou como auxiliar de escritório e balconista. Porém, com o nascimento dos dois primeiros filhos não tinha com quem deixar as crianças para trabalhar. Assim, morando no bairro Nacional, começa a catar papelão dentro da Ceasa, como fonte de trabalho e renda para sustentar os filhos que logo se tornaram cinco e que ela levava para o trabalho.
Na época, a Pastoral de Rua começou a procurar os trabalhadores informais dentro da Ceasa. Após dezenas de reuniões e a parceria com a cerealista e o poder público criou-se a Asmac. Depois de anos empurrando o carrinho por quilômetros diários, a Ceasa emprestou um caminhão, e Dona Marleninha começou a sentir a vida melhorando e o objetivo de chegar em Contagem para trabalhar se tornou realidade.
“Hoje, com 66 anos, dez netos e um bisneto, sinto que venci e sou feliz. Fui discriminada pela minha família. Meus irmãos sentiam vergonha do meu trabalho, mas foi com ele que criei meus filhos com dignidade. E agora, perto de aposentar estou vivendo intensamente o meu sonho”, comentou emocionada. Ela ainda deixa um legado. Sua filha Lucélia, 35 anos, é catadora no Galpão Ceasa da Asmac.