Outubro é tempo de Outubro Rosa, uma campanha internacional que busca chamar a atenção para o câncer de mama, o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo. Contagem faz parte desta campanha e promove, durante todo este mês, ações para o Outubro Rosa. A Unidade Básica de Saúde (UBS) Bernardo Monteiro também está engajada nesta luta contra o câncer e vem promovendo junto à comunidade diversas ações que incentivam o autocuidado, a prevenção e a promoção da saúde, como a intensificação de realização de papanicolau, exames e encaminhamentos para mamografia.
Logo na entrada da unidade, uma decoração que prima pelo esmero e pela disponibilização de informações importantes salta aos olhos. Aos poucos, o usuário vai sendo convidado a pensar sobre a importância da prevenção, do autocuidado e dos diagnósticos. No sábado, 6 de outubro, por exemplo, entre 50 e 100 pessoas estiveram presentes às atividades de caráter preventivo ofertadas na unidade. Na ocasião, 50 preventivos ginecológicos foram colhidos.
Mas o engajamento dos profissionais da unidade não está restrito à campanha: ele data de bem antes e seus resultados estão se traduzindo em melhorias na assistência prestada à comunidade assistida pela UBS. Aos poucos, as apinhadas e tensas manhãs na unidade, que chegavam a registrar o acolhimento de até 80 usuários, segundo relatos de funcionários, foram dando lugar a um local com atendimento organizado e sem as longas esperas na recepção.
“O acolhimento era muito pesado. Já chegamos a acolher 80 pessoas em uma só manhã. Muitas vezes, as pessoas chegavam aqui às três da manhã, para conseguir ficha de atendimento. Hoje, isso não acontece mais. Os processos de trabalho estão muito mais organizados e as pessoas estão aprendendo a usar o sistema e a entender a lógica da Estratégia de Saúde da Família. Não tem mais tumulto”, garante Luciana Rodrigues da Anunciação, desde 1999 servidora em Contagem e há cerca de um ano uma das enfermeiras de Saúde da Família da unidade.
Do modelo tradicional à Estratégia de Saúde da Família
Em julho do ano passado, teve início o processo de mudança de modelo de assistência da unidade, que passou a seguir as orientações da Estratégia de Saúde da Família (ESF). A ESF é operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais nas UBSs, e essas equipes são compostas por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Ao longo de pouco mais de um ano de ESF, de acordo com a gerência da unidade, já foi possível identificar doentes crônicos e pacientes com sofrimento mental que vivem na região, graças ao trabalho de busca ativa que faz parte desse novo modelo assistencial. Em Contagem, a cobertura de EFS aumentou de 50,13% em janeiro de 2017 aos 67,05% atuais, segundo a Coordenação de Atenção Básica da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
“Ainda estamos em processo de transição. Quando a gente veio para cá, eu era a única enfermeira de Saúde da Família daqui. Hoje, temos três equipes de ESF, que por sua vez contam com o apoio do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf)”, explica Luciana Rodrigues. O Nasf é composto por fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, nutricionistas, pediatras, ginecologistas e psiquiatras.
A enfermeira de Saúde da Família pondera, contudo, que a aceitação da comunidade à ESF não se deu de uma vez. “A comunidade não estava acostumada com esse modelo de assistência, que era feita basicamente por meio dos agendamentos. Não havia classificação de risco, tinha equipamentos desmontados e salas fechadas. Acompanho o processo de transição desde o início e vi as melhorias na estrutura e na assistência. Chegamos com uma nova forma de trabalho. No princípio, enfrentamos muita resistência. Aos poucos, o mobiliário foi sendo substituído e novos processos de trabalho foram sendo implementados. A primeira coisa que fizemos foi dividir os territórios para atuação das três equipes, uma ação fundamental para a ESF. As áreas delimitadas receberam cores primárias, para facilitar a identificação para os usuários. Hoje, os usuários já começam a entender que Saúde da Família não é “só” pegar exame, renovar receita e fazer curativo, que existem as prioridades, horários de atendimento, processos de trabalho e a prevenção”, relata Luciana Rodrigues.
“Praticar o autocuidado é muito importante na perspectiva da Saúde da Família. No tratamento das doenças crônicas, por exemplo, os resultados dependem das pessoas praticarem o autocuidado no dia a dia, e para isso elas precisam estar instruídas”, completa o gerente da UBS Bernardo Monteiro, o médico cubano Jorge Romero Ortiz.
Empatia na prestação da assistência à saúde
Jorge Romero chegou à unidade em maio de 2018. Ele, um entusiasta da ESF, trabalha sob filosofias de trabalho que incentivam a cooperação e o trabalho de equipe. “A saúde pública evoluiu bastante. Antes, o cuidado era centrado na doença e em fatores epidemiológicos. Hoje, o foco foi ampliado e passou a ser na pessoa, no ser integral, sob a qual influem fatores psicossociais. E a ESF vai além, observando não só o indivíduo, mas também a família dele e suas tendências culturais. O acolhimento é mais que uma ação, é uma perspectiva. E para que isso seja possível, o compromisso dos servidores é fundamental. Esse compromisso é que está rendendo frutos e honrando o atendimento à população aqui na unidade. E a população está entendendo e aceitando melhor essas mudanças que vieram com a ESF. Hoje, a comunidade pode contar com um atendimento mais completo e contínuo. Toda mudança gera resistência, isso é próprio do ser humano. Pode faltar algum insumo, pode haver deficiências estruturais, o que não pode faltar é amor pelo outro. E os servidores têm amor pelo que fazem. É preciso se colocar no lugar do outro e chamar para si essa responsabilidade de prover a assistência. A fórmula é o trabalho em equipe. Acho que estamos conseguindo isso”, afirma o médico.
Ronaldo Paulo da Silva é usuário da UBS Bernardo Monteiro e presidente da associação comunitária do bairro. Ele, que participa das reuniões do Conselho Local de Saúde da UBS, diz que está acompanhando as mudanças na unidade e avalia positivamente essas modificações. “Hoje, você consegue atendimento. Com o PSF, também vieram para cá outras especialidades. As mudanças estão sendo positivas, como a divisão dos bairros. Só temos dificuldade nas consultas especializadas, que demoram de três a quatro meses”. Ronaldo aproveita para convidar a comunidade a participar das reuniões de conselho local da unidade, que acontecem uma vez por mês. “Em toda primeira quarta-feira do mês tem reunião do Conselho Local de Saúde, e é muito importante a participação de todos. Temos também o lian gong, aqui mesmo na unidade, e aulas de ioga e ginástica, com o Movimenta Contagem, na praça bem ao lado da UBS”, diz o usuário.