13 de maio de 2025 – A cidade de Contagem reviveu sua memória histórica neste último fim de semana com a tradicional Festa da Abolição da Comunidade Quilombola dos Arturos, marcada por cortejos, rituais religiosos e uma emocionante encenação teatral que resgatou a resistência do povo escravizado. A celebração, que acontece anualmente em homenagem à assinatura da Lei Áurea, é um dos eventos culturais mais significativos da cidade e reuniu centenas de pessoas em torno da fé, da ancestralidade e da luta por direitos.
A programação teve início na última sexta-feira (9/5), com o encerramento da novena e o ritual do candombe no Quilombo dos Arturos, fortalecendo a conexão com as raízes africanas e com a espiritualidade que permeia a história do povo quilombola. No sábado (10/5), as Guardas de Congo e Moçambique se concentraram no quilombo e participaram do tradicional levantamento dos mastros em três pontos simbólicos: na Casa de Cultura Nair Mendes Moreira, na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário e no próprio Quilombo.
O ponto alto da festa aconteceu no domingo (11/5), começando nas primeiras horas do dia com a Festa da Matina, às 4h. Em seguida, as guardas e os representantes dos escravizados saíram em cortejo da Casa de Cultura rumo à Igreja Matriz, onde, às 10h, foi realizada uma encenação teatral comovente sobre o fim da escravidão.
Às 11h, a Missa Conga, celebrada pelo padre José Geraldo Sobrinho, reuniu fiéis, guardas e devotos em um momento de fé e reflexão. Em seguida, a tradicional procissão em honra a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Santa Efigênia e Nossa Senhora Aparecida seguiu em direção ao Quilombo dos Arturos.
A tradicional Festa da Abolição faz parte do calendário cultural da Comunidade Quilombola dos Arturos
Fotos Luci Sallum / PMC
Para o secretário municipal de Cultura, Ramon dos Santos, a festa transcende a comemoração histórica e se consolida como um ato de resistência e afirmação. "É com muita alegria que participamos deste momento, que entendemos como um ato de resistência. Sempre dizemos que não houve uma abolição plena, mas uma abolição inacabada. Ainda são necessárias políticas públicas, reforma agrária, acesso à saúde e à educação. A Secretaria de Cultura está comprometida com essa luta para fazer valer os direitos do povo pobre, especialmente do povo negro, como a Comunidade Quilombola dos Arturos, que segue firme em sua missão histórica. Que todos se sintam abraçados pela Prefeitura de Contagem nesta caminhada de resistência. Salve Maria, salve o povo preto, salve a resistência!", afirmou.
Entre os presentes, o sentimento era de orgulho e pertencimento. Vanilza Francisca Pereira, de 55 anos, operadora de máquina, acompanha a festa desde a infância. "Eu me sinto bem, acho bonito. Esse som do tambor emociona a gente. Minha mãe já vinha, minha tia participava. Venho desde os meus 10 anos. A festa representa nossa liberdade, mesmo sabendo que ainda enfrentamos muito preconceito. Mas só de lembrar como era antes, dá um alívio", disse.
O motorista Guilherme Francisco, de 50 anos, também ressaltou a importância da tradição e da luta contra o racismo. "Participar da festa é um ato de fé, é tradição e também representa contra o racismo, que infelizmente ainda está presente. É gratificante fazer parte do Congado", destacou.
A Festa da Abolição é, sobretudo, um lembrete de que a liberdade precisa ser vivida, defendida e celebrada todos os dias – especialmente em comunidades como a dos Arturos, que há mais de um século mantém viva a memória, a fé e a luta do povo negro em Minas Gerais.
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