O encerramento da quinta edição da Feira Mercado Afro, realizada pela Prefeitura de Contagem, aconteceu no Sambódromo, na noite do último sábado (18.11), com a apresentação de uma das sambistas mais importantes da MPB na atualidade: Mart'nália. Ela embalou o público com os principais sucessos de sua carreira, como “Cabide”, “Pé do meu Samba”, “Entretanto’, entre outras canções. A Feira Mercado Afro é parte da programação especial de novembro, para celebração e reflexão do Mês da Consciência Negra. Em sua mensagem ao público, a prefeita Marília Campos destacou que o evento celebra as lutas diárias do povo, e, sobretudo, a luta contra o racismo. “Trabalhamos todos os dias para construir uma cidade sem preconceito e com mais igualdade racial”, afirmou.
Com dois dias de duração, quem visitou a feira pode saborear tudo do bom e do melhor da ancestralidade dos pratos servidos nas barracas de alimentação, se encantar com a a exuberância das cores e das formas das barracas de artesanato e o estilo e a identidade do vestuário afro. Ao todo, 42 empreendimentos da Economia Solidária participaram da feira, que contou com apresentações de samba, capoeira e outras manifestações da cultura negra. Um playground também foi montado para atender a criançada que passou por lá.
Do outro lado do balcão, como destacado pela prefeita Marília Campos, muitas histórias de luta. É o caso, por exemplo, da cozinheira Kelbia, carinhosamente conhecida como Kel, que comanda a barraca Sabores da Kel. Na área de alimentação da feira era difícil não ter a atenção capturada por suas panelas de barro, oferecendo numa delas, uma feijoada carnuda, e na outra, um belo cozido de pescoço de peru com pedaços de milho verde. Kel é quem lidera a barraca onde também trabalham dois dos seus irmãos, o marido e a mãe. Toda a renda da família vem desse empreendimento. “A gente vive disso, literalmente”, explicou..
Moda
Noutro ponto da feira, na área destinada à venda de vestuário, José Correa Domingos, carinhosamente conhecido como “Juca”, participa da Feira Mercado Afro desde a sua primeira edição. Seus produtos se destacam pelo design e pela qualidade, reunindo símbolos da estética africana com elementos da moda brasileira. Entre os modelos, o Bubu, que é uma bata um pouco mais longa, muito usado pela realeza africana. Estudioso do tema, ele completa: “Tem o saruel, que vem de uma colonização árabe, mas que a cultura africana absorveu e tem também a excelência, que é o turbante, a coroa da mulher negra”, detalhou.
Juca explica que seu trabalho vai além do comércio, puro e simples. “No meu caso, é um movimento a partir de uma militância, que agora estamos colhendo os frutos. É toda uma convivência, uma troca, e um conhecimento adquirido a partir de discussões e debates. Principalmente da galera que vem do continente africano. É um intercâmbio cultural e também educacional”, disse.
Parte desses frutos, como não poderia deixar de ser, também passa pelo faturamento cada vez mais crescente. Não são tecidos baratos, até por serem importados. “Mas para garantir aos nossos produtos qualidade e um preço justo, nós desenvolvemos peças que misturam tecidos brasileiros e africanos”.
Mas Juca ressalta que não faz nenhum tipo de segregação. “Claro que nós costuramos para qualquer um que queira comprar. Mas o povo para o qual a gente costura, o nosso cliente idealizado, é o povo preto”.
Juca explica a um grupo de clientes que a moda é um ato político, mas também um ato econômico, que não é só o vestir de um corpo, mas que a forma como alguém, se veste comunica o conjunto das suas idéias. ”Eu sei o que ela defende e o que ela pensa. E isso é muito legal. Ou seja, é sair do seu quadrado. Aquele que tentaram nos colocar, um quadrado principalmente eurocêntrico”.
Entre os participantes da Feira Mercado Afro, o sentimento era de celebração. “É uma política pública que contribui para o empoderamento da população minorizada, e que também combate o racismo. As demais cidades brasileiras deveriam investir em ações como essa, que promovem a visibilidade e a diversidade. Isso é fundamental, porque se a gente fala de democracia, a gente tem que atender a todas e todos. Senão estamos falando apenas palavras bonitas”, resumiu.
Galeria de fotos/Luci Sallum https://www.flickr.com/photos/prefcontagem/sets/72177720312786438/with/53341256189