Uma reunião, na tarde desta quinta-feira, (4/11), voltou a destacar a proposta para o traçado do Rodoanel Metropolitano. Em Audiência Pública realizada no auditório da Prefeitura de Betim, gestores municipais discutiram alterações no projeto, visando, entre outros aspectos, a preservação da região da Área de Proteção Ambiental -APA de Várzea das Flores (APA).
As obras do Rodoanel são de responsabilidade da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade - Seinfra. No entanto, o projeto do governo estadual não satisfaz os anseios dos municípios afetados, por isso uma proposta conjunta foi elaborada pelos gestores e técnicos das cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte e apresentada na reunião.
Presente na audiência, a prefeita Marília Campos agradeceu ao prefeito de Betim, Vittorio Medioli, que esteve na sede do Executivo de Contagem, na semana passada, para ouvir as sugestões do município para a obra do Rodoanel e as incorporou à sua proposta. “Eu acredito que é possível construir este novo traçado que propusemos. O traçado que o Governo do Estado apresentou resolve o problema do Anel Rodoviário, mas, cria um outro com repercussões metropolitanas, porque ele corta a Bacia de Vargem das Flores. O impacto pode ser tão negativo, que seria capaz de secar a lagoa e comprometer o abastecimento de água da região. É uma preocupação ambiental, mas, também, pelo direito à água. Precisamos de água para sobreviver, para produzir. E se a lagoa secar vamos buscar água muito mais longe e muito mais caro, com repercussões para a população e para o empresariado das cidades”, pontuou.
Além de impactar e colocar em risco a saúde da Bacia de Vargem das Flores, outro ponto que gera contestação é que, se executada conforme apresentada, a proposta do governo estadual tornaria Contagem uma cidade de passagem, representando retrocesso para o município, que é o segundo maior em extensão de Minas Gerais e o terceiro em arrecadação.
A chefe do Executivo de Contagem destacou que o traçado proposto pelo Governo de Minas vai provocar a divisão da cidade, trazendo um impacto negativo que não foi pensado à época da elaboração do projeto, afetando a integração da região. Marília ressaltou que quando ocorre acidente na BR-381, por exemplo, Betim, Contagem, Belo Horizonte, Igarapé, o trânsito de todas essas cidades fica parado e que uma via que corta as cidades, como esta que propõe o governo estadual, afetará a vida do cidadão, a economia da cidade, além do impacto ambiental, pontos que, segundo a prefeita, não estão sendo levados em conta. “A única coisa que se considera é a quantidade de quilômetros que o Rodoanel teria. Eu sou, radicalmente, contra a proposta de traçado apresentada pelo Governo do Estado. Temos que pensar em desenvolvimento, em mobilidade, em qualidade de vida, ou seja, desenvolvimento sim, mas, de forma sustentável. As cidades envolvidas já são constituídas, têm a sua identidade, e não podemos daqui a dez anos ter um novo grande problema na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por causa do Rodoanel”, alertou.
Marília ainda lembrou que é necessário efetuar as alterações propostas pelos municípios a fim de evitar, ao máximo, que famílias precisem ser desapropriadas, o que, fatalmente, produzirá disputas judiciais que travam a vida dos envolvidos e oneram o poder público. “O que o Estado está propondo, que é cortar a bacia de Vargem das Flores ao meio, neste trajeto de 13 km, certamente, terminará em disputa judicial e a primeira delas será a da Prefeitura de Contagem. Não vamos deixar cortar a Bacia de Vargem das Flores”, afirmou.
Condutor da Audiência Pública desta quinta-feira, o prefeito de Betim, Vittorio Medioli, reforçou o alinhamento do município que governa, com a proposta feita pela Prefeitura de Contagem, listando os pontos positivos da atualização do traçado. Na proposta conjunta dos municípios, está prevista a implantação de três pistas, proporcionando trânsito rápido e eficiente, acessos diretos e ausências de interseções. O projeto contempla interligações entre as rodovias federais 381, 262 e 040, redução de impactos ambientais e atração de investimentos. A diferença na extensão do primeiro projeto para este novo é de um aumento de cerca de 12 km no Rodoanel (100,65 km para 112,93 km).
“Estamos plenamente de acordo com Contagem. A segurança hídrica de toda a região depende de Vargem das Flores, inclusive, toda nossa proposta deixa a APA de fora. O Estado cortou (o traçado) ao meio, dizendo que não teria outra opção, mas, encontramos uma alternativa de menor impacto, com o mesmo custo, garantindo a segurança hídrica e evitando que corte o município de Contagem ao meio”, afirmou Medioli, que ressaltou, em consonância com Marília Campos, que o valor da obra seria compensado pela economia feita com as reduções de processos judiciais, provocados pelas desapropriações.
O projeto, orçado em R$5 bilhões, será custeado, em parte, pelo acordo de R$3,07 bilhões, do Estado com a empresa Vale, em virtude da tragédia-crime ocorrida pelo rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019.
O próximo passo é se reunir, novamente, com os gestores estaduais para pleitear as alterações necessárias que atendam as demandas dos municípios. “O objetivo é convencer o governo estadual a aceitar a vontade dos municípios e não impor uma vontade que não se sabe a procedência. Refizemos todas as contas e termos técnicos, então muitos pontos devem ser corrigidos pelo Estado. Na nossa proposta, as obras poderiam começar em um ano e ficariam prontas em três anos. Enquanto a proposta do Governo de Minas começaria daqui a cinco anos. Seria uma perturbação que não podemos aceitar”, concluiu Medioli.
Participaram da Audiência Pública lideranças municipais das cidades de Igarapé, Brumadinho, Sarzedo, Esmeraldas, Ribeirão das Neves e Ibirité.