No domingo (20/11), durante a terceira edição da Feira do Mercado Afro de Contagem, aconteceu a entrega de mais uma edição do Prêmio Zumbi dos Palmares. A iniciativa tem o objetivo de reconhecer e dar notoriedade pública às pessoas e instituições que se destacaram por suas atuações no enfrentamento, combate ao racismo e discriminação racial contra a população negra e na luta pela igualdade de direitos no município de Contagem. Foram contempladas três instituições e, na modalidade individual, foram sete os homenageados.
A professora da Rede Pública de Contagem, presidenta do Conselho Municipal de Promoção de Igualdade Racial de Contagem e uma das ganhadoras do prêmio, Patrícia Pereira, falou da importância da premiação como um ato de reconhecimento e de resistência. Segundo ela, receber o prêmio em Contagem, no dia de aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, o maior herói brasileiro, é um reconhecimento de que a luta por justiça é uma semente brotando por dias melhores e com mais esperança.
“Esse prêmio é uma honraria e uma homenagem a memória coletiva, em nome das mais de 700 mil vidas ceifadas pela Covid 19, dentre elas, meu irmão Paulo Pereira Machado; em nome da memória de Agatha Félix e todas as crianças e jovens assinados pelo racismo; em memória de Mestre Moa, Kathen Romeu; Moise Kabagambe, João Alberto Silveira Freitas, Genivaldo da Silva e por todas vidas negras”, ressaltou.
Vice-presidenta da Comissão de Direitos Humanos da OAB subseção Contagem e segunda secretária do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial, Cássia Pinto Coelho também foi uma das homenageadas. Advogada, especialista na área criminal e defensora de direitos humanos, ela destacou sua formação técnica como ferramenta no combate ao racismo tanto no âmbito social, quanto judiciário, inclusive no que se refere ao racismo estrutural na área penal.
“Nos últimos anos ajudei no desenvolvimento de projetos e iniciativas de promoção da igualdade racial, diversidade de gênero, e em defesa de produtos culturais da cultura urbana preta. A iniciativa de Contagem é um exemplo para as demais localidades do país, uma vez que conhecer a história da nação, reconhecer as personalidades pretas que ajudaram a escrever essa história é fundamental para o desenvolvimento da autoestima, e crescimento de qualquer povo. Foram séculos de apagamento da história preta, e agora, na era da informação, temos a oportunidade de tentar desfazer esse prejuízo. Iniciativas como o Prêmio Zumbi dos Palmares engrandecem a pauta racial. Foi uma grande honra e será uma grande responsabilidade carregar o título de homenageada desta edição do prêmio”.
O superintendente de Políticas para Promoção da Igualdade Racial, João Pio, destacou a importância da premiação no reconhecimento e justiça social. “O Prêmio Zumbi dos Palmares dá visibilidade e empodera pessoas e instituições que cotidianamente, a partir de seus territórios, desenvolvem ações de enfrentamento ao racismo. A premiação também é importante na perspectiva de resgatar a memória e a luta histórica do povo negro pela sua identidade, pelos seus direitos e cidadania”.
Prêmio
A premiação ocorre anualmente e é promovida pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, por meio da Superintendência de Políticas para Promoção da Igualdade Racial e do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial.
Este ano, três instituições foram contempladas:
Na modalidade individual sete homenageados levaram o troféu para casa, são eles:
Zumbi dos Palmares
Dia 20 de novembro celebra-se, anualmente, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, data instituída pela Lei Federal nº 12.519. Nesse dia falecia o líder negro Zumbi dos Palmares, descendente de guerreiros angolanos que nasceu no quilombo por volta dos anos de 1665. O nome Zumbi significa “a força do espírito presente”.
Guerreiro, forte e valente, juntamente ao seu povo, dominava as estratégias de guerra e defesa. Foi assim que Palmares resistiu por mais de cem anos aos ataques de bandeirantes e militares portugueses que tinham como objetivo derrotar a experiência da República Negra de Palmares. Zumbi, líder máximo do maior quilombo, é símbolo da resistência negra do Brasil no período colonial.
Samba e resistência
O samba tomou conta do último dia da terceira edição da Feira do Mercado Afro de Contagem. A sambista e compositora Dona Elisa, ícone e representante feminina da velha guarda do samba de Belo Horizonte, que já foi condecorada pelo Governo de Minas em 2018 com a medalha da Inconfidência, cantou sua vida e trajetória com suas composições autorais que retratam toda luta e resistência da mulher no samba, além dos clássicos do samba popular brasileiro.
Dona Elisa já possui mais de 700 canções registradas, falou sobre sua trajetória de vida, relembrando o berço do samba, o preconceito e a discriminação que sofreou por ser uma sambista mulher em Minas Gerais. Segundo ela, é preciso valorizar a presença da mulher no samba, visto que antigamente não eram aceitas nas rodas de samba. “Para entrarmos em uma roda de samba era um sacrifício. Éramos xingadas, humilhadas, diziam que só entrávamos para atrapalhar”.
Com uma história de resistência, dona Elisa contou que foi uma das primeiras mulheres a “bater de frente com os homens” na roda de samba. “Quando eu chegava falavam que eu não ia cantar e que iam parar de tocar, porém eles sabiam que se parassem os instrumentos ficaria feio para eles, e não para mim. Depois de um tempo consegui ser aceita. Nós mulheres conseguimos. Hoje o samba tá aí pra todo mundo, em qualquer lugar do Brasil, e a mulher é a estrela da hora. Eu fico muito orgulhosa, porque vivi a época de dificuldade da mulher no samba. A mulher pode cantar também, por que não?!”
O encerramento ficou por conta da Banda da Consciência, com Letícia Reis, Pithy Max, Piolho e Anderson Olodum.
Galeria 1 - Clique aqui e confira as fotos. Fotos: João Pedro Alcântara/PMC
Galeria 2 - Clique aqui e confira as fotos. Fotos: Luci Sallum/PMC