A busca pela autonomia das pessoas com deficiência é fundamental. Cada pessoa tem o direito de descobrir qual é sua capacidade, a essência e interesse que pode ter no mundo do trabalho. Esse foi um dos assuntos tratados na palestra “Diversidade em Ação: Construção de Autonomia no Trabalho”, promovida pelo Centro de Atendimento e Inclusão Social (Cais), na última segunda-feira (22/9), que engloba a programação da Semana da Pessoa com Deficiência.
O Cais é uma organização sem fins lucrativos que atua no atendimento especializado a pessoas com deficiência. Além dela, a ação também contou com o apoio do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência e da Prefeitura de Contagem.
Um dos assuntos tratados na palestra foi o Programa de Emprego Apoiado, que conecta pessoas com deficiência que desejam trabalhar com empresas que optam por este formato de contratação, seja para cumprir cotas ou por políticas inclusivas. O programa oferece acompanhamento próximo, tanto da pessoa quanto da empresa, até que ambos se tornem independentes nesse processo. Mesmo após a conclusão, a parceria pode continuar conforme novas demandas surgem. No evento foi possível conhecer a trajetória de trabalhadores que foram incluídos e que já estão no mercado de trabalho, por meio de relatos de suas experiências.
O secretário de Direitos Humanos e Cidadania, Marcelo Lino, ressaltou o trabalho de excelência que a instituição realiza para assegurar os direitos que as pessoas com deficiência merecem. “Hoje é um dia importante para todos. Quando se trata de pessoas com deficiência, é possível a inclusão no mercado de trabalho ser bem-sucedida desde que se invista nisso. Tem custos para empregar, metodologia, formas e estudos. Mas se quiser investir e fazer com que seja um processo de longo prazo, é possível fazer bem feito e o Cais demonstra como isso é eficaz para investir em nós, pessoas com deficiência, na nossa produtividade e na nossa capacidade de entrega”, disse.
A superintendente do Cais, Cristina Branches, destacou a relevância de compartilhar a prática da inclusão das pessoas com deficiência no mercado profissional. “A pessoa com deficiência deve ter espaço no mundo do trabalho, não apenas em casa ou em oficinas. Sem oportunidades de inclusão na idade adequada, pode ocorrer regressão, tornando essencial a parceria das empresas, das famílias e, principalmente, do poder público para que todos acreditem na capacidade. A inclusão não se faz sozinho, fazemos com o apoio de todos.”
Determinação que transforma
O superintendente de consumo do Verdemar, Leandro Pinho, empresa que é parceira, participou da roda de conversa e reforçou o papel das pessoas com deficiência no ambiente de trabalho. “A inclusão deve garantir dignidade e sentido ao trabalho de cada pessoa. O acompanhamento não apenas ensina, mas inicia a inclusão desde a primeira chegada, em um processo bem estruturado. Por isso, essa parceria busca ampliação. É visível a crença genuína de toda a equipe do Cais, tornando o trabalho cheio de propósito e transformador”, destacou.
Com relatos de força e determinação, o evento deu espaço para as pessoas com deficiência que já estão no mercado de trabalho e fortalecem a importância do programa de inclusão. A moradora de Belo Horizonte, Jessica Gabriele, de 30 anos, trabalha como atendente de telemarketing na empresa AeC. Ela é acompanhada pelo Cais há um ano e contou sobre a sua experiência de já ter trabalhado em três empresas, todas voltadas para PCD.
“Não é porque somos deficientes que não devemos trabalhar, conseguimos também. É muito importante o trabalho, porque eu posso receber o meu próprio salário. Por mais que antigamente eu recebia do governo, não é a mesma coisa. O trabalho também é bom para se distrair, conversar e ter pessoas no trabalho que gostam de ajudar a gente. O trabalho é muito importante para mim, eu trabalho desde os meus 17 anos de idade. Há três anos que eu estou na empresa que eu trabalho como telemarketing e eu amo muito. Com o meu trabalho, posso fazer tudo o que eu quero e ter autonomia.”
Já Jeferson Borges, de 21 anos, é acompanhado pelo Cais desde criança. Ele participa da avaliação ecológica e ingressou recentemente no mercado de trabalho, no Verdemar, enquanto ainda faz curso de cabeleireiro, que é seu grande objetivo. “Eu acho bom fazer esse curso, porque meu sonho mesmo é virar cabeleireiro dos autistas. Eu sei que isso vai ser bom para mim, porque quem tem sabe que as crianças têm a maior dificuldade do mundo para cortar o cabelo, como minha mãe teve comigo, então sei como é.”
Jeferson também comentou sobre seu processo de introdução na empresa e ressaltou a importância do trabalho. “Entrar para o Verdemar foi bom para mim, porque trabalhar e ter inclusão é importante. Acho que as famílias precisam dar forças para seus filhos buscarem espaço no mercado de trabalho e entrar em uma empresa. Minha mãe e minha família me ajudaram muito nesse processo, e isso fez toda a diferença. O Cais também ajuda, abrindo muitas portas, por isso, é importante se esforçar. Uma frase minha que até ficou conhecida é: “que a inclusão vire rotina”. Eu realmente acredito que é possível, porque, quando a gente olha para o futuro e já está trabalhando, percebe que é uma experiência incrível”, ressaltou.
Além de estreitar parcerias e compartilhar orientações, a palestra mostrou experiências bem-sucedidas de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Foto: João Pedro Alcântara/PMC
Sobre o Cais - Centro de Atendimento e Inclusão Social
O Cais é uma organização sem fins lucrativos, localizada em Contagem, atua há 53 anos no atendimento especializado a pessoas com deficiência intelectual e transtorno do espectro autista. Seu objetivo é promover inclusão, defender direitos e oferecer acompanhamento no mercado de trabalho, valorizando uma cultura inclusiva nas empresas. Todo o atendimento oferecido é gratuito. Os programas do Cais abrangem diversas áreas:
Saúde: atendimento realizado por uma equipe multidisciplinar composta por neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta e assistente social;
Educação: acompanhamento de educadores, incluindo atendimento educacional especializado no contraturno para crianças em idade escolar;
Cultura: atividades com música e arte, que contribuem para o desenvolvimento das pessoas atendidas;
Família: acompanhamento social, pois o cuidado com a pessoa com deficiência também envolve apoiar a família.