O aprendizado para além da sala de aula, baseado na pesquisa que olha para o cotidiano e busca em fórmulas, medidas, conceitos e modos de melhorar o cotidiano e sua realidade sempre desafiadora. Esse é o caminho que 120 alunos dos cursos técnicos e regular da Fundação de Ensino de Contagem (Funec) estão apresentando na Feira Científica, Tecnológica e de Extensão da Funec, a (Fecitex) entre terça (24/10) e quinta-feira (26/10), no Espaço do Encontro, na sede da Prefeitura.
Os resultados das suas pesquisas são frutos do Programa de Iniciação Científica Júnior da fundação. Ao todo são 30 projetos de pesquisas que possibilitaram o desenvolvimento do pensamento crítico, criativo, formulando perguntas e buscando soluções para problemas reais do dia a dia. A Fecitex foi aberta ao som dos acordes da Orquestra Jovem das Gerais, formada por alunos da rede municipal de ensino. A feira está aberta a visitação nesta quarta-feira (25/10), das 8h às 17h, e na quinta-feira (26/10), das 13h às 20h, com cerimônia de premiação para os melhores trabalhos.
Em visita aos estandes montados na Prefeitura, conversando com os estudantes, a prefeita Marília Campos destacou a importância do evento para a educação do município. “Isso é maravilhoso. Estamos estimulando a produção científica, que, certamente, vai influenciar o futuro dessa garotada. A Funec é de Contagem, uma escola importante e tenho muito orgulho de saber que estamos produzindo conhecimento de alto nível aqui em nossa cidade”.
Durante visita aos estandes a prefeita conheceu muitos projetos, entre eles, o do estudante de análises clínicas do Centec, Wanderson Fernandes da Silva Rocha, 19. Surdo desde que nasceu, Wanderson sentindo-se triste e muitas vezes solitário por não ter com quem dialogar na língua brasileira dos sinais (Libras), o estudante foi ao universo da linguagem, durante os últimos 10 meses - período da pesquisa - para falar da importância da popularização da Libras .
“Senti um incômodo grande, solidão ao perceber que não estava sendo possível me comunicar com os professores e colegas, uma vez que eles não sabem a linguagem dos sinais. O meu projeto vem, justamente, para suscitar nas pessoas não surdas o desejo de aprender Libras. Eu fico muito triste quando não consigo me comunicar com as pessoas e vice-versa. Desejo que a língua dos sinais se popularize e as pessoas possam começar a aprender e se comunicar. Aí, quem sabe, não descobrem uma segunda língua para se comunicarem. Tenho certeza que isso trará uma expansão para o surdo, um sentimento de pertencer”, contou ele, sendo traduzido simultaneamente pela intérprete de Libras, Rosilene de Paula.
O projeto do estudante de análises clínicas do Centec, Wanderson Fernandes da Silva Rocha, 19 anos, quer popularizar a Libras
Em Contagem, na rede municipal de Ensino e na Funec, são disponibilizados profissionais que fazem a tradução na língua dos sinais para os estudantes com déficit de audição. Além de Wanderson, há, ainda, na Funec, duas outras pessoas com deficiência auditiva: uma na unidade Inconfidentes e outra na Cruzeiro do Sul.
A orientadora de Wanderson, a professora de Filosofia da Funec Centec, Neusa Rezende, destacou que o projeto de pesquisa dele provoca a sociedade ao perguntar se ela promove a integração ou a inclusão. Segundo ela, mais do que integrar, a sociedade deve se colocar como inclusiva ao preparar-se para promover mudanças necessárias em sua estrutura para receber a pessoa com deficiência, permitindo a ela que se desenvolva com cidadania e não apenas seguindo uma pseudointegração que cria sala, classes, e escolas especiais que, por fim, separam, isolando essa pessoa que tem uma deficiência. “É só por meio da inclusão, da aceitação das diferenças individuais, sem a segregação, que vamos, de fato, construir uma sociedade comprometida e respeitosa em termos da individualidade de cada pessoa”.
Da unidade Centec também vem a ideia de pesquisa sobre um shampoo vegano, que pode ajudar pessoas que sofrem com a alopécia androgênica. A doença, que atinge mulheres e homens, provoca a perda de pelos pelo corpo, sendo sinônimo de angústia para quem tem o diagnóstico.
A ideia surgiu é da estudante e pesquisadora, Emanuelle Costa, 18, que, ao assistir a um programa na televisão e ficou comovida com a história de pessoas que enfrentam a doença. “Eu acho que a alopecia afeta muito a autoestima da pessoa e, hoje, o cabelo está muito em destaque na composição dos looks das pessoas. E o que percebi é que esse problema pode deixar muitas pessoas tristes, deprimidas”.
Com a ideia na cabeça e recursos disponíveis na escola, ela juntou-se às colegas de curso e sala, Alexia Dias, 17, e Geovanna Victória da Mata Souza, 17, formando, assim, um trio de pesquisadoras de química. “Com um laboratório, produtos químicos, todos os insumos necessários disponíveis, foi muito tranquilo e prazeroso desenvolver a pesquisa. Acreditamos que foi algo bem interessante.”
“O resultado foi a descoberta de um produto que retarda a queda, fortalece o fio capilar, com baixo custo e acessível a milhares de pessoas que sofrem com o problema”, falou a jovem pesquisadora, Geovanna.
A poucas semanas da formatura, elas disseram que a possibilidade de trabalhar, na prática, com fórmulas, composições e medidas aprendidas na teoria, trouxeram para elas uma nova visão da química e de todo o processo de aprendizado. “Vamos ver como será. Mas podemos dizer que foi uma alegria participar ativamente dessa pesquisa”, finalizou Emanuelle.
As estudantes do curso técnico de química pesquisaram um shampoo para combater a queda de cabelo por causa alopecia andogênica
Uma feira para chamar de sua
No ano do cinquentenário da Funec, a secretária de Educação de Contagem, Telma Fernandes, destacou a decisão da instituição de promover uma feira própria de ciência e tecnologia. “Desde que criamos a iniciação científica em 2009, sempre participamos de outras feiras e agora queremos produzir a nossa própria feira, mostrar o que nossos educandos estão pesquisando, se interessando. Assim nossos estudantes vão criando um histórico com o desenvolvimento da pesquisa, podendo participar em outras feiras e vão tomando gosto de se tornarem pesquisadores. Assim, desejamos que essa feira seja fixa no calendário da instituição.” Neste ano, de forma inédita, além das bolsas, a Funec disponibilizou R$2.000,00 em custeio para cada projeto.
O vice-presidente da Fundação de Ensino de Contagem, o professor Paulo Figueiredo, também enfatizou que a feira produzida pela instituição está à altura de outras como as da UFMG, USP e UNB. “Não podemos esquecer que somos a única escola de ensino médio custeada exclusivamente pelo município”.
A coordenadora da feira, a professora de química, da unidade Centec, Kênia Leandro Silva, falou do orgulho de ver trabalhos feitos com dedicação, capricho e zelo: “Essa feira é um marco nesses 50 anos da Funec. Em 2024, vamos expandir dos atuais 30 projetos para 45 iniciativas científicas. Nosso propósito é, ainda, levar isso para o ensino fundamental”.
De acordo com a coordenadora, os estudantes são alunos dos cursos técnicos, regulares ou integrados da Funec. Cada um tem uma bolsa de R$ 300,00, sendo que todo o investimento é totalmente feito pela Prefeitura de Contagem. Em 2024, a Funec também celebrou uma parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) para abrir mais possibilidades aos estudantes de Contagem.
Nesta quarta-feira (25/10) é o último dia para a inscrição no processo seletivo
As inscrições para o Processo Seletivo 2024 da Funec, para estudantes do 9º ano do ensino fundamental estão abertas e terminam nesta quarta-feira (25/10). Ao todo são oferecidas 900 vagas, sendo 750 para o ensino médio regular e 150 para educação profissional técnica na forma integrada. A prova acontece no dia 10 de dezembro
As inscrições ocorrerão de forma on-line (clique aqui e acesse). O valor da taxa é de R$40,00.
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