No mês da Consciência Negra, celebrada em 20 de novembro, Contagem vive um momento simbólico e profundamente afetivo com a continuidade do legado de Juventina Paula de Jesus, parteira e benzedeira da Comunidade dos Quilombola Arturos, referência de resistência e tradição na cidade. Na maternidade que leva seu nome, nasceu no dia 2 de novembro a mais nova descendente da matriarca, a trineta que carrega, no primeiro choro, a força de uma história centenária.
A pequena Aylla Sophia veio ao mundo nos braços da mãe, Beatriz Aparecida Luz Silva, que viveu seu primeiro parto justamente na maternidade construída para acolher histórias como a da própria família. Beatriz Luz celebra a continuidade desse ciclo de vida e ancestralidade. “Para mim é muito gratificante, porque me fez lembrar a época da inauguração da maternidade quando nossa comunidade veio com o congado. Em relação ao atendimento, não poderia esperar nada melhor. Fui bem acolhida e estou recebendo toda a assistência. Fora que Aylla se tornou um evento para a maternidade todo mundo quer tirar foto com a trineta da vovó Etina”.
A avó da bebê, Juliana Rosária, também destaca a importância de Juventina e a emoção da comunidade quilombola com a chegada da nova integrante. “É uma honra pertencer ao quilombo dos Arturos. Sempre destaco a história da vovó Entina que trouxe tantas crianças da comunidade ao mundo.”
Em relato sobre o atendimento, a médica pediatra e referência técnica do Centro Materno Infantil, Marcela Barbosa, destacou a condução do parto e as primeiras horas de vida da bebê. “O nascimento ocorreu de forma tranquila e dentro do esperado. A bebê apresentou boas condições clínicas logo após o parto, com sinais vitais estáveis e ótima resposta aos primeiros cuidados. Nas primeiras horas de vida, nossa equipe realizou todos os protocolos de acolhimento, garantindo segurança e monitoramento constante para a recém-nascida e para a mãe”.
Ao recordar sua relação com a história da unidade, a superintendente do Centro Materno Infantil, Dulcinéia Carvalho, destacou a emoção de receber o nascimento da trineta de Dona Juventina Paula de Jesus. “Tive a alegria de conhecer Dona Juventina na inauguração da maternidade. Ela é uma figura histórica e muito querida pela comunidade. Ver sua trineta nascer justamente aqui, no espaço que leva seu nome, enche nossa equipe de orgulho e reforça o vínculo com esse legado tão importante para Contagem”.
Juventina Paula de Jesus deixou um legado de acolhimento e história
Foto Divulgação
Parteira e benzedeira respeitada, Juventina Paula nasceu no dia 25 de agosto de 1925, faleceu em 30 de junho de 2005. Ela ajudou a trazer ao mundo gerações de crianças, muitas vezes caminhando longas distâncias, debaixo de chuva, para garantir que vidas florescessem com segurança. Seu trabalho atravessou décadas e marcou profundamente a história da cidade.
E por essa relevância que, em 2016, o município inaugurou o Centro Materno Infantil Juventina Paula de Jesus, unindo tecnologia, humanização e respeito à ancestralidade.
Maternidade estrutura que acolhe, protege e transforma
A maternidade de Contagem se tornou referência ao unir qualidade técnica e cuidado humanizado. O espaço conta com cinco unidades de parto normal, preparadas para garantir conforto, privacidade e segurança; nove leitos de pré-parto, quatro salas cirúrgicas e cinco leitos de recuperação pós-anestésica. Além disso, a unidade conta com recursos para parto humanizado, como massagens, banhos relaxantes, musicoterapia e bola de pilates. Somente este ano, a unidade já realizou mais de dois mil partos, entre normais e cesáreas.
No cuidado com recém-nascidos, o serviço dispõe de estrutura completa com 20 leitos de CTI neonatal, 15 de cuidados intermediários (UCI) e cinco leitos canguru, além do Banco de Leite Humano, que auxilia as mães na retirada e armazenamento do leite materno. O acompanhamento inclui ainda psicologia, serviço social e fonoaudiologia, garantindo um acolhimento integral às mães e aos bebês.
A integração desses setores garante assistência intensiva e humanizada para bebês que necessitam de atenção especial. Programas que fortalecem vínculos e garantem direitos das gestantes, crianças e puérperas de Contagem.
Programa Mãe Contagense
Promove visitas guiadas, orientações sobre aleitamento e cuidados com o bebê, além de apresentar à gestante todo o percurso de parto e acolhimento. O agendamento pode ser feito pelas UBS ou pelo telefone da unidade.
Casa da Gestante, Bebê e Puérpera
Acolhe gestantes de alto risco e famílias com bebês internados no CTI, oferecendo estadia, alimentação e acompanhamento multiprofissional.
Projeto Doulas
Com atuação desde 2006, conta com 12 voluntárias que oferecem apoio emocional, alívio da dor e presença ativa durante o parto. Também promovem vivências simbólicas, como o carimbo de placenta.
Referência em Amamentação
O CMI é reconhecido há 20 anos como Hospital Amigo da Criança, incentivando práticas como o contato pele a pele e a amamentação precoce.
Banco de Leite Humano
Em parceria com o município de Betim, coleta, processa e distribui leite humano pasteurizado para bebês prematuros e de risco, salvando vidas e fortalecendo redes de solidariedade.
Dia da Consciência Negra: memória, luta e continuidade
O 20 de novembro marca a morte de Zumbi dos Palmares e simboliza a resistência do povo negro no Brasil. Em Contagem, o nascimento da trineta de Juventina, dentro da maternidade que honra seu nome, reforça esse movimento de afirmação, identidade e continuidade histórica.
A Comunidade dos Arturos, reconhecida como patrimônio cultural imaterial de Minas Gerais e descendente direta de famílias negras escravizadas, segue firme em sua missão, que é preservar memórias, lutar contra a extinção da cultura e transmitir às novas gerações o orgulho da ancestralidade.
Neste ano, especialmente, a cidade celebra não só a data, mas a renovação de uma história que segue viva, agora, nos olhos de uma menina que chega trazendo consigo tudo o que foi e tudo o que ainda será.









