Seja na biblioteca, na sala de aula ou até mesmo no refeitório, os cantinhos de leitura das escolas da rede municipal de educação estão presentes em todos os espaços, estimulando o acesso ao universo literário tanto de crianças da educação infantil quanto de estudantes do ensino fundamental. Como disse o educador Rubem Alves: “Um livro é um brinquedo feito com letras. Ler é brincar”.
Na Escola Municipal Eduarda Pereira de Oliveira, no Petrolândia, a professora Rosália Milagres reúne os estudantes toda terça-feira na biblioteca, onde eles escolhem os livros que querem ler e outros para levar para casa. Na semana seguinte, é feito um sorteio para que um dos estudantes conte sobre a história lida. “Eu costumo falar para eles, quem não aprende depende. E sem a leitura não é possível chegar a algum lugar, quem não sabe aonde quer chegar, qualquer caminho serve. A leitura é o alimento da alma”.
Momento de leitura na biblioteca, com a turma da professora Rosália
Foto: Adelcio Ramos / PMC
Nas salas de aula da escola também existem os “Cantinhos de Leitura”, que a professora Rosália explora toda semana. “Sempre no finalzinho do último horário, a gente tira meia hora para eles escolherem os livros, lerem e vir na frente, explicar porque escolheram aquele livro”.
Literatura e arte
Quem também explora o universo literário em suas aulas na escola Eduarda Pereira é a professora Girlane Marques. Como leitora assídua, ela utiliza o teatro para estimular a leitura dos estudantes. “Quando cheguei aqui na escola e vi o cantinho da leitura gostei muito, porque gosto muito de ler. E aí, já organizei uma sacolinha de leitura. Essa sacolinha da leitura, toda semana, um aluno leva para ler em casa e traz de volta, com algumas anotações no caderno sobre o livro, sobre o autor, sobre o que mais gostou e apresenta para a turma, de forma criativa”.
É justamente para estimular essa criatividade que a professora utiliza o teatro com sua turma. “Uso o teatro para estimular a leitura também e eles amam. Ajuda na desenvoltura, eles ficam mais desinibidos, podem se expressar e tem ajudado muito, percebemos também melhora na dicção, na forma de se expressar”.
Professora Girlane e sua turminha de leitores artistas
Foto: Adelcio Ramos / PMC
Na E.M. Eduarda Pereira existem oito "Cantinhos de Leitura" que são utilizados livremente por professores e estudantes. Nos últimos dois anos, desde o início do projeto, o interesse pela leitura aumentou muito, segundo a diretora Luciana Lisboa. “É muito importante, a partir do cantinho da leitura percebi o interesse dos estudantes pelos livros, é uma oportunidade para incentivarmos eles”.
“Eu já li”
Na Escola Municipal Professora Maria Olintha, no Eldorado, o projeto “Eu já li” vem ganhando cada vez mais adesão pelos estudantes. Organizado pela auxiliar de biblioteca Adriana Rodrigues, a proposta é reunir a turma em uma espécie de clube de leitura, durante o horário do recreio.
“No recreio acontecem essas pequenas reuniões, dos alunos falando para outros alunos. Eles acabam se interessando, buscando livros que eles acabaram de ouvir de outros alunos. Então, eles já reservam ou pegam um livro, se o livro estiver disponível”.
Relatos de estudantes da E.M. Maria Olintha durante o horário do recreio
Foto: João Pedro Alcântara / PMC
A participação no projeto vai além do simples compartilhamento de experiências de leitura, exige comprometimento por parte dos estudantes, conforme detalha a auxiliar de biblioteca Adriana. “O projeto é direcionado para os alunos do ensino fundamental dois e aberto a todos que quiserem participar. Eles escolhem um livro e depois eu faço uma entrevista semiestruturada com eles, envio as perguntas para responderem, eles elaboram um texto e, a partir desse texto escrito, trabalhamos também a oralidade. Então, eles gravam vídeos com seus depoimentos e realizamos a divulgação de várias formas, como em formato de podcast, ou em pequenas reuniões com amigos que eles mesmo convidam para vir, ou ainda como palestras”.
A experiência de leitura e de compartilhar os sentimentos provocados pelos livros mobiliza muitos estudantes que, mesmo no horário do recreio, aproveitam para trocar relatos, curiosidades e dicas de livros.
Valentina Fernandes, estudante do 8º ano, foi uma das que compartilhou sua experiência. “Falei sobre o livro da Paula Pimenta, 'Apaixonada por palavras'. Sempre tive dificuldade para lidar com meus problemas, até começar a ler e foi muito bom. Sempre que estou triste, eu pego um livro e esqueço de tudo, é como se estivesse lá dentro. O projeto é muito bom, posso me expressar como os livros mudaram minha vida”.
A inspiração dos livros contagiou outras estudantes, como Athena Vasconcelos, do 9º ano. “Eu li a saga Crepúsculo e, quando comecei a participar do projeto, eu comecei a ler mais, porque fiquei inspirada no livro. Sempre que for ver um filme, eu recomendo primeiro ler o livro, é completamente diferente”.
As irmãs Rafaela Scaraboto e Isabela Scaraboto, junto da colega Luiza Eloa, todas do 9º ano, também compartilharam suas histórias com os colegas. “Muito legal participar do projeto, fizemos fotos, gravamos um vídeo. Quando falamos do livro que gostamos, nós incentivamos outras pessoas”, disse Rafaela. “Além de incentivar outras pessoas, também somos incentivadas a ler outros livros”, completou Luiza.
O estímulo à oralidade é um ponto alto do projeto, como destacou Leticia Eloa, também do 9º ano. “Foi incrível participar. Fizemos um podcast que passou para toda escola, falando da minha experiência. Espero que todo mundo participe”.
O universo da poesia foi o que mais atraiu Yasmin Campos, do 7º ano. “Poesia não é algo que muita gente gosta, mas a Paula Pimenta mostra que cada verso, cada estrofe tem um sentido, um sentimento diferente. Eu gostei bastante e recomendo muito que leiam poesias”.
A auxiliar de biblioteca, Adriana Rodrigues, com a turma de jovens leitoras da E.M. Maria Olintha
Foto: João Pedro Alcântara / PMC
Programa de Biblioteca e Leitura
A Secretaria Municipal de Educação de Contagem (Seduc) criou, em 2006, um programa para contribuir com as políticas de informação e leitura da cidade. Em 2013, ele passou a ser denominado “Programa de Biblioteca e Leitura - Contagem das Letras”, que segue fomentando políticas de democratização do acesso ao livro e promovendo o acompanhamento das bibliotecas escolares da rede municipal de educação.
O programa é composto por sete bibliotecárias e trabalha em parceria com as(os) auxiliares de biblioteca com vistas a promover ações de incentivo ao livro, à leitura, à literatura e à biblioteca, atuando em três eixos: a democratização do acesso, o processo contínuo de formação de sujeitos leitores e políticas de promoção de práticas leitoras.
Nesse sentido, compreende o papel fundamental das auxiliares de biblioteca para estimular o contato das estudantes com os livros, o desenvolvimento do gosto pela leitura e a consolidação na formação de leitoras. Além disso, reconhece a importância dos “Cantinhos de Leitura” nas salas de aula, que são mais uma ferramenta para que a leitura aconteça em todos os espaços nas escolas.
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