A história de vida de Maria das Dores, estudante da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal Giovanini Chiodi, em Vargem das Flores, é um exemplo de resiliência, sobrevivência, alegria e esperança. Sua vivência foi transformada quando resolveu voltar à escola e, a partir de então, passou a experimentar a linguagem cinematográfica, ganhou os palcos e inspirou outros artistas.
"Maria" também é o nome do clipdoc produzido pelo artista Ayam Ubrais Barco, por meio da Lei Paulo Gustavo, que utiliza o formato audiovisual unindo ao videoclipe musical, depoimentos e elementos da vida cotidiana e verídica, típicos da linguagem do filme documentário. O filme foi exibido em sessão especial à comunidade da E.M. Giovanini Chiodi em fevereiro deste ano.
“Depois que definimos esse conceito de clipdoc, compreendemos a canção e iniciamos a busca por alguém, cuja vida tivesse semelhanças com a letra. Mal começamos a busca e dona Maria já nos tinha encontrado. A equipe fez os contatos na escola para descobrirmos quem era aquela senhora e fomos até sua casa, ‘dois dedin’ de prosa e confirmamos”, descreveu o artista Ayam.
De acordo com Ayam, a canção “Maria” representa a luta por libertação e a vida de Maria das Dores traduz essa luta. “Maria é, a um só tempo, uma metáfora para todas as lutas revolucionárias”,disse.
Ainda conforme o artista, houve um casamento da música com a personagem. “Preconcebemos a ideia em encontrar uma protagonista cuja vida se assemelhasse ao espírito da canção, não necessariamente ela deveria se chamar Maria. Mas quando encontramos dona Maria das Dores, além do nome ser o mesmo da música, a vida dela era a própria”.
Por fim, Ayam destacou todo o processo de produção do clipdoc. “Acompanhar toda a construção, desde a composição, foi e é um trem que descarrilha sem tombar, há um sentimento de maternidade/paternidade que acompanha os filhos se forjando na vida, é um tipo de convicção de uma campesina quando planta uma semente na terra”.
A letra da música é de autoria de Ayam Ubrais em parceria com o historiador Erhasto Felício. A produção foi feita por Andreia Carvalho e Poli Dias.
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Maria das Dores durante premiação na 19ª CineOP
Maria das Dores
A carteira de identidade marca 1935 o nascimento de Maria das Dores, data contestada por ela. “Não sei minha idade, lá (identidade) fala 1935, mas acho que está errado”. Maria perdeu os pais ainda criança e, mesmo diante de todos os desafios que a vida lhe deu, seu sorriso e o gosto pelo violão são marcantes.
Tendo que trabalhar desde nova, precisou abandonar os estudos. Depois que perdeu o marido, encontrou na escola a força da superação. “Fiquei muito sozinha, foi muito ruim. Aí falei, quer saber de uma coisa? Vou estudar. Fiquei pelejando, tinha vergonha”, contou Maria das Dores.
Foi pela escola, portanto, que Maria alcançou os palcos e as telas. Participou e venceu o júri popular da “2ª Mostra Audiovisual Escolar de Contagem” (MAVE) com o filme “Relatos”. O filme foi indicado e venceu, em 2024, a “19ª Mostra de Cinema de Ouro Preto” (CineOP).
“A escola é um sonho para mim, gosto de lá. Tem as professoras, os jovens, todos me tratam muito bem. Eu amo a escola”, disse Maria.
A participação na CineOP levou Maria de volta às telas como personagem do clipdoc de Ayam, experiência que marcou, novamente, sua vida. “Eles apareceram aqui em casa e depois gravamos lá no parque perto da Prefeitura (Parque Ecológico Gentil Diniz). O parque é lindo, tem os pés de jabuticaba. Foi bom demais, facinho, eu adorei”.
“Fiquei muito emocionada quando vi o filme, pensando no meu pai e na minha mãe”, finalizou Maria das Dores.
Veja o filme "Relatos", vencedor da 2ª Mave e da 19ª CineOP: clique aqui