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AGO
27
27 AGO 2025
COMUNICAÇÃO
REGIONAL RESSACA
Tradição, transformação e pertencimento: memórias e histórias de Contagem pela lente da região Ressaca
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Em celebração ao aniversário de Contagem, a Prefeitura está lançando uma série de matérias especiais, publicadas em duas edições por semana, no site oficial e nas redes sociais. A ideia é mostrar a história, desenvolvimento, cultura e os diversos espaços de convivência e lazer do município, destacando o que cada uma das oito regiões da cidade oferece. Além de apresentar os locais mais importantes e interessantes de cada região, as matérias também vão destacar histórias pessoais e marcantes de moradores, buscando fortalecer o sentimento de pertencimento e valorizar a identidade contagense. Desta vez, você vai conhecer a região Ressaca, síntese do crescimento de Contagem nas últimas décadas!

Quem busca entender como foi o desenvolvimento de Contagem nas últimas décadas precisa lançar seu olhar sobre a região Ressaca, que consegue sintetizar o crescimento do município a partir dos anos 1970. Se antes contava com extensas áreas verdes e pouca infraestrutura, hoje vem acolhendo o crescimento populacional da cidade, com um comércio cada vez mais forte; melhorias no acesso aos serviços públicos; lazer e mobilidade urbana. Mantendo suas características acolhedoras, se projeta para Minas e o mundo, por meio das manifestações culturais e de um filme premiado internacionalmente.

  
As celebrações após as colheitas na fazenda do Morro do Confisco, os fins de semana de lazer no Balneário do Ressaca e os remanescentes do que outrora foi a fazenda
Fotos: arquivo Secult/PMC (1 e 2) e Ronaldo Leandro/PMC (3)

Onde hoje está a região Ressaca foi, nos anos de 1.700, uma grande fazenda do Morro do Confisco, que fazia parte do sistema de arrecadação de impostos do governo colonial português, responsável por recolher mercadorias sem a devida documentação ou os tributos sobre tudo o que era trazido do nordeste do país para as minas do rio das Velhas e para Sabará. Entre as décadas de 1940 e 1950, a região era destino de lazer para muitos moradores da capital mineira, que frequentaram o extinto Balneário do Ressaca. Foi somente na década de 1950, com o loteamento da antiga fazenda, teve origem o desenvolvimento que a trouxe até a realidade encontrada hoje.
 

Antônio Jorge Muniz ou Toinzim do Ciriaco Foto: Heli Rodrigues/PMC

Antônio Jorge Muniz, 80, conhecido como “Toinzim do Ciriaco”, chegou à região em 1955 e viu a história ser construída, até que a região Ressaca se tornasse o que é hoje.

“Aqui era tudo fazenda em 1955, não tinha nada. Eu estava com idade entre 10 e 11 anos, era criança,
mas me lembro de tudo dessa época. Quando viemos para cá, a gente trabalhava tirando leite,
que depois era levado para a cooperativa no Centro de Contagem. Eu ajudava a cuidar das
vacas do meu avô, arava a terra, trabalhava como carroceiro”
, lembrou.


O crescimento da região foi intensificado com a construção da Central de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas), em 1974, que era o segundo maior entreposto do gênero no país, bem como do Distrito Industrial Doutor Hélio Pentagna Guimarães (Polo Moveleiro), no início dos anos 2000. A síntese do desenvolvimento fecha com a expansão populacional, resultado do crescimento desordenado da capital, que levou a uma ocupação da área em Contagem.

O empresário Enir Gomes Barbosa, 72, que é proprietário de uma distribuidora de legumes na CeasaMinas, desde que a central foi inaugurada, contou como as coisas eram naquela época. “Eu tinha uma banca de legumes no Mercado Central de Belo Horizonte e quando abriu aqui eu peguei uma loja. No começo, aqui era muito difícil, pois não tinha freguês. Eles achavam que era muito longe e já estavam mais acostumados com tudo muito perto, no centro da capital. Eu mesmo saí daqui por um ano, depois voltei e estou até hoje”, disse.

O comerciante ainda lembrou de como a região foi sendo transformada no entorno da Ceasa. “Não existia nenhum desses bairros aqui perto, mas depois foi crescendo, muito por causa das oportunidades daqui, e hoje está muito desenvolvido. Muita gente que mora aqui perto trabalha na CeasaMinas, mas também vem gente de outros bairros, mesmo mais distantes e até de outras cidades próximas”, explicou.

  
A instalação da Ceasa e do Polo Moveleiro foram impulsionaram o desenvolvimento da região que não parou mais de crescer - Fotos: Janine Moraes/PMC (1) Milton Rocha/PMC (2) e Elias Ramos/PMC (3)

Com a expansão dos bairros e o crescimento populacional, composto por pessoas vindas de outras regiões de Contagem, de Belo Horizonte e até mesmo de outras cidades próximas, a região Ressaca foi se consolidando como morada para muitas famílias. Estima-se que aproximadamente cem mil pessoas vivem na Ressaca, o que representa quase 15% da população de todo o município. 

Identificação com a localidade

Mais do que apenas uma região para viver, é muito fácil encontrar pessoas com uma grande identificação com a localidade nos bairros da Ressaca. “Mesmo que chegasse uma boa proposta para mudar daqui eu não sairia. Tudo o que eu encontraria em outro lugar, eu tenho aqui. Além disso, tenho minha família aqui, meus sete filhos e onze netos e netas. Minha vida inteira eu gostei de lugar tranquilo. Temos alguns problemas aqui, como em outras regiões também, mas são bem pequenos”, reforçou Toinzim do Ciriaco.

É também a opinião de Lunny Pereira Marcia, 33, que mora no bairro Jardim Laguna desde que nasceu. “Vivi minha vida inteira aqui, então é como se cada rua tivesse uma lembrança. Gosto do clima do bairro, da vizinhança que se conhece e que se ajuda. Aqui é um bairro muito acolhedor e familiar”, afirmou. “Quero ver o bairro ficando cada vez mais bonito, seguro e com mais opções de lazer, mas sem perder aquele jeitinho acolhedor de sempre”, acrescentou.

Compartilha da mesma visão sobre a região Hamilton Moreira Jardim, que mora no bairro Parque Turistas há 32 anos. “Gosto da tranquilidade, do meu bom círculo de amizades e também da infraestrutura que encontramos aqui hoje. Mesmo assim, acredito que ainda pode melhorar mais na saúde, educação e também na segurança, que entendo como sendo uma responsabilidade do Estado”, ressaltou. 

Foto: acervo pessoal/divulgação

Há também quem faça da moradia o seu próprio estilo de vida, como foi o caso de Maria de Oliveira, que ficou conhecida como “Lia do Vagão”, que nasceu no Espírito Santo, mas escolheu o bairro Parque Recreio para viver. Ela ganhou esse apelido por ter trazido do Rio de Janeiro um vagão da extinta Central do Brasil e transformá-lo em moradia, onde pôde exercitar sua liberdade e produzir arte com tudo o que encontrava pelo caminho. Lia do Vagão teve sua história contada em um livro, chamado “Viagem no Vagão de Lia”, além do projeto teatral “Li-Maria-Mulher”.



Mais infraestrutura e acesso aos serviços públicos

Nos últimos anos, a Prefeitura de Contagem tem feito grandes investimentos para melhorar a infraestrutura da região Ressaca, o que vem proporcionando mais qualidade de vida, segurança e tranquilidade à população local. Um bom exemplo são as intervenções do Programa “Asfalto Novo”, que promove a revitalização das vias. Somente nos bairros que compõem a região, quase cem ruas e avenidas foram requalificadas, contando agora com um pavimento mais resistente, com duração prevista de até dez anos.

Outras obras foram executadas para trazer mais segurança e dignidade para as pessoas, como é o caso da construção de muros de contenção, do novo Restaurante Popular Ressaca, que está em construção, e também da nova ponte sobre o córrego Tapera. Esta última promoveu a interligação da rua Mandarim, no bairro Novo Boa Vista, à Alameda dos Rodoviários, no Cândida Ferreira, substituindo uma passagem de pedestres que havia no local e possibilitando uma melhor trafegabilidade e rapidez no deslocamento. Tem ainda a reforma do Monte São Mateus (Monte das Antenas), na divisa entre as regiões Ressaca e Nacional, que voltou a ser um local mais apropriado para manifestações de fé e religiosidade.

   
Investimentos em infraestrutura, saúde e educação estão levando mais dignidade e qualidade de vida aos moradores da região - Fotos: Ronnie Von/PMC (1), Adelcio Ramos/PMC (2) e Janine Moraes/PMC (3)

Já o viaduto Integração (antigo Teleférico), que passa sobre a BR-040 e liga os bairros Água Branca (região Eldorado) e Morada Nova, está prestes a ser entregue à população. Ele é essencial para a implantação do Sistema Integrado de Mobilidade (SIM), pois conecta as regiões, antes separadas pela rodovia, formando o chamado Corredor Ressaca. Essas, e outras tantas obras que estão sendo executadas, vêm transformando a vida dos contagenses que moram por lá.

Outras entregas feitas pela gestão municipal vêm promovendo melhorias no acesso da população aos serviços públicos. Nos últimos anos foram entregues novas unidades de Saúde (UBS) e também de educação, como é o caso do Centro Municipal de Educação Infantil (Cemei) Darcy Maria de Oliveira Melo. Com capacidade para receber 152 crianças, de 1 a 5 anos, a nova unidade amplia e qualifica a educação na região.

A comerciante Emilana Renata, que tem uma loja no bairro Novo Progresso, falou das mudanças percebidas na região. “Vejo que tem se desenvolvido de forma significativa, com a melhoria na infraestrutura, com mais iluminação e asfalto novos, além da abertura de novos comércios. Isso valoriza nosso bairro e assim atrai mais empreendedores e clientes para nossas lojas. Tenho expectativa de que continue crescendo, precisamos de incentivos e oportunidades para sermos mais fortes e competitivos”, disse.
 

Praças, lazer e esporte

Os espaços de lazer e voltados para a prática esportiva também se destacam entre os avanços que vêm sendo conquistados na região Ressaca, com mais de 20 parques, praças e locais de convivência entregues entre o início de 2021 e o primeiro semestre deste ano. Talvez o maior símbolo seja o complexo da praça do Divino. No local, os moradores contam hoje com quadras de esporte, pista de skate, espaço de convivência, pista de caminhada, equipamentos para atividades físicas e muito mais. Também está em construção um novo ginásio poliesportivo, que vai oferecer novas possibilidades para os moradores dos bairros próximos.

Outro bom exemplo é a reforma do parque Sarandi, que está sendo totalmente revitalizado e tem como previsão de entrega para o segundo semestre de 2025. A proposta da Prefeitura de Contagem é disponibilizar para a população um local moderno, inclusivo com espaço de convívio para as famílias, para a prática esportiva e de lazer, além do contato com a natureza. A Reserva Ambiental do Cabral, o Caminho do Mergulhão e o Shopping Contagem também são espaços para o lazer na região.

  
Com a revitalização, além das tradicionais pistas de caminhada e ciclismo, o parque Sarandi vai contar com pista de skate, quadras, brinquedos e espaços de convivência - Fotos: Adelcio Ramos/PMC

Cultura e tradição

Entre os espaços históricos e culturais da região do Ressaca se destacam a antiga sede da fazenda do Confisco, o seminário Claretiano, bem como as igrejas de São Geraldo e São Joaquim. O CEU das Artes Ressaca é outro local que se destaca pela oferta de lazer, práticas esportivas, atividades culturais e educativas, promovendo integração social e acesso democrático ao conhecimento de forma gratuita. Sua presença fortalece a vida comunitária e amplia oportunidades para crianças, jovens e adultos da região, tornando-se um ponto de referência para toda a cidade. Prova disso é que, no último fim de semana, recebeu o 1º Festival de Cinema de Contagem, consolidando-se como palco de importantes iniciativas culturais e reafirmando sua relevância como centro de convivência e difusão artística.

  
O CEU das Artes Ressaca vem se firmando como importante espaço cultural, esportivo, de formação e conhecimento -  Fotos: Newton de Castro Resende/PMC (1 e 2) e Luci Sallum/PMC (3)

Já em relação às manifestações culturais, talvez a mais representativa seja a Irmandade Nossa Senhora do Rosário do Ciriaco, que foi fundada em 1952, tendo Ciriaco Celestino Muniz e sua esposa Maria Marciana Muniz como Rei e Rainha do Ano. Em 1954, a Guarda de Moçambique fez seu primeiro toque sob o comando de Ciriaco, mas somente em 1979 a Irmandade foi formalizada, com a definição de sua estrutura. 

Em 1980, Ciriaco passou o posto de Capitão Mor para seu filho Antônio Jorge Muniz, o Toinzim, personagem que vem nos ajudando a contar o desenvolvimento da região. Efigênia Muniz, esposa de Toinzim, fundou a Guarda de Congo feminina em 1986. Após a morte de Efigênia, em 2006, a irmandade manteve suas atividades. Hoje, os Ciriacos possuem duas guardas: Moçambique e Congo, lideradas pelo Capitão Mor, mantendo sua sede no bairro Novo Progresso. 

“É importante mostrar que é preciso preservar e manter essa tradição viva, que ela não pode acabar. Faz parte da história, de contar e celebrar nossos santos queridos. Foi com muita luta que eles a conservaram ao longo dos anos e nós estamos conseguindo levar adiante, com liderança e com o povo, pois se não tiver essa união, não caminha”, ressaltou Toinzim do Ciriaco.

   
A tradição, que passa de geração em geração, mantém vivas a história, os festejos e a cultura popular - Fotos: arquivo Ciriacos

A Irmandade Nossa Senhora do Rosário, festeja três vezes por ano sua religiosidade, fé e tradições afro-brasileiras, com a comunidade. Em abril tem a Festa de São Jorge e no mês de maio acontece a Festa de São Benedito, onde se comemora a libertação dos negros da escravidão. Já no último domingo do mês de setembro, a irmandade realiza a grande festa da padroeira, Nossa Senhora do Rosário. Outras irmandades são também convidadas a participar das comemorações, assim como os Ciriacos também integram as celebrações de outros grupos dentro e fora de Minas Gerais. 

“Quando você vê todo mundo na rua festejando, você fica feliz da vida, por ver que aquilo que gosta e que recebeu dos seus pais, tem continuidade. Veio dos meus avós, passou para o meu pai, que passou para mim, eu simplesmente sigo fazendo. Fico muito feliz com isso, dessa tradição se manter viva”, comemorou Toinzim do Ciriaco. 

Cinema: de Contagem para o mundo

Se durante décadas as produções cinematográficas apostaram em uma estética que deixava de lado as periferias, muitas produções vêm se consolidando ao mostrar exatamente o contrário. Criada em 2009, a Filmes de Plástico é uma produtora que nasceu em Contagem, pelas mãos dos diretores André Novais Oliveira, Gabriel Martins, Maurílio Martins e o produtor Thiago Macêdo Correia. Gabriel e Maurílio cresceram nos bairros Milanês e Jardim Laguna, ambos na região do Ressaca.

Para Maurílio Martins, mostrar a periferia da cidade é mais do que apenas uma escolha estética, mas sim uma questão de identificação. “Uma grande inspiração para mim é seguir povoando esse imaginário cinematográfico brasileiro com essa imagem periférica, essa imagem tão particular da nossa região Ressaca, porque sim, a gente também pode fazer parte desse cenário”, afirmou.

As produções já foram selecionadas em mais de 200 festivais nacionais e internacionais, entre eles a Quinzena dos Realizadores em Cannes, Festival de Cinema de Locarno, Festival de Rotterdam, FID Marseille, Indie Lisboa, BAFICI, Festival de Cartagena, Los Angeles Brazilian Film Festival, Festival de Cinema de Brasília e Mostra de Cinema de Tiradentes, recebendo mais de 50 prêmios.

   
A região está se consolidando como um berço de atores, diretores, roteiristas e da produção audiovisual, recebendo, inclusive, o 1º Festival de Cinema de Contagem - Fotos: divulgação Filmes de Plástico (1 e 2) e Júlia Tonelli (3 e 4)

O diretor entende a importância do destaque que a produtora vem tendo, mas espera que o audiovisual possa ser mais inclusivo. “Eu gostaria que eu e todos nós da Filmes de Plástico não fossemos tratados como exceções. Sonho muito com um dia que seja comum, que pessoas vindas de espaços como o bairro Jardim Laguna, ou regiões parecidas com a da Ressaca, não sejam exceções, nesse cenário de construção de narrativas através do cinema”, reforçou.

Essa visão de um audiovisual mais inclusivo ecoa o forte sentimento de pertencimento que impulsiona aqueles que, como Toinzim do Ciriaco, encontram valor em suas raízes. Para ele, o conhecimento genuíno e a conexão com a comunidade são incomparáveis. “A questão é que eu não vou conseguir o conhecimento que eu tenho aqui. Para qualquer um que perguntar, vai falar tranquilo que sabe quem sou, onde é que eu moro. Eu conheço todo mundo e todo mundo me conhece e é isso que importa”, concluiu Toinzim do Ciriaco.

O que visitar na Ressaca:

  • Reserva Ambiental do Cabral 
  • Antiga sede da Fazenda do Confisco 
  • Igrejas de São Geraldo 
  • Igreja São Joaquim 
  • Seminário Claretiano 
  • Irmandade Nossa Senhora do Rosário
  • Praça do Divino 
  • Caminho do Mergulhão
  • Parque Monte Sinai
  • Parque Linear Sarandi
  • CEU das Artes Ressaca 

Autor: repórter Etiene Egg e estagiário Matheus Monteiro, com colaboração de Pedro Mesquita / Edição e revisão: Ana Paula Figueiredo