Com o intuito de melhorar, a cada dia, o atendimento da população, a Prefeitura de Contagem promove, ao longo do ano, várias atividades de formação e de desenvolvimento pessoal e profissional dirigidas aos servidores municipais. Neste sentido, foi realizado nesta quarta-feira (9/8), o “Seminário Municipal: Respeito às Diferenças como Premissa da Política Pública”, no auditório da Funec-Centec, visando levar mais conhecimento e reflexão sobre a questão da diversidade no atendimento ao público.
Composto por três palestras, o debate contribuiu para reflexão dos servidores sobre os efeitos do racismo estrutural, do comportamento machista e da violência institucional no acesso às políticas públicas. Além disso, foram discutidas as estratégias de enfrentamento e de garantia de direitos dos cidadãos, fomentando o atendimento humanizado, visando a redução da intolerância às diferenças sociais.
A controladora-geral, Nicolle Bleme, reiterou a importância da realização do evento, visto que a proposta do seminário faz parte do Plano de Integridade de Contagem (PIC), que definiu valores institucionais para o município, entre eles, a promoção da sororidade, diversidade e da inclusão social. “O seminário é uma das ações do PIC, porque somos nós, funcionários públicos, que estamos na ponta final das políticas públicas, lidando diretamente com o cidadão e suas demandas”, destacou.
Nicolle também lembrou que Contagem faz parte da Open Government Partnership (OGP), uma organização internacional que fomenta a transparência, accountability (atitude, responsabilidade e comprometimento das pessoas e instituições) e participação social, sendo a única cidade da região metropolitana que tem um Plano de Integridade. “Por tudo isso, os conteúdos deste seminário são fundamentais para quebrarmos paradigmas e refletirmos o quanto é necessário sermos mais inclusivos e democráticos. O que temos de melhor está justamente na nossa diversidade”, ressaltou.
A secretária de Defesa Social, Viviane França, destacou o seminário como uma ação de prevenção da violência no município. “Esta capacitação de combate ao racismo, machismo e da violência institucional é a primeira de muitas que virão para reforçar o trabalho da Guarda Municipal e para promoção do acesso à cidadania”, disse.
O seminário foi conduzido pela superintendente de Medicina e Segurança do Trabalho, Carla França, que também é psicóloga e servidora da Prefeitura de Contagem.
Racismo
O primeiro palestrante foi o superintendente de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, João Carlos Pio de Souza, que provocou uma reflexão sobre a questão da igualdade no Brasil, que é o segundo lugar mais negro depois dos países africanos, e onde o racismo estrutural foi construído por meio de legislações e políticas de Estado, que proibiram o negro de estudar, trabalhar e de adquirir terras, colocando-o à margem da sociedade.
Segundo ele, nunca houve uma formação que discutisse as diferenças e o povo brasileiro foi constituído basicamente pelas diferenças. “Racismo não é só comportamento, é um processo histórico e político. Todos somos iguais, mas uns são mais iguais que os outros. Na verdade, a sociedade é diversa e a ideia de modernidade do homem branco, europeu e cristão nos é imposta como um modelo que não nos serve. O tratamento igualitário em relação às diferenças dificulta o nosso pensamento e a nossa ação em relação aos outros. A gente não pode tratar como igual um desigual”, afirmou.
Machismo
A mestre e doutoranda em direito e justiça, Jailane Devaroop Matos, começou a discussão do tema do machismo, associando ao racismo, como um “trauma social” que não passou e que ainda está presente hoje. “As mulheres negras e indígenas foram violadas, estupradas e nossos corpos ainda doem, de maneira simbólica e real, porque hoje isso também acontece. O mesmo projeto colonial não acabou e continua exterminando pessoas negras, homens e mulheres, nas grandes cidades”, afirmou.
Ela destacou que a maioria dos casos de feminicídio tem como autores maridos, namorados e parceiros. “A casa é um dos lugares mais perigosos para a mulher”.
Ainda segundo Jailane, o machismo é tão arraigado que ele já começa na socialização primária, onde os meninos são encorajados a ser agressivos e dominantes e as meninas a cuidarem das bonecas e da beleza. “É preciso repensarmos e desconstruirmos o machismo, porque ele mata e afeta os homens, que não podem sentir, se emocionar e ser provedor de cuidado”, afirmou.
Violência Institucional
O tema violência institucional abordou as formas agressivas de tratamento nas relações de trabalho e na família. A palestra foi proferida pelo professor da Faculdade Mineira de Direito da PUC-Minas e conselheiro Seccional da OAB Minas Gerais, Bruno Burgarelli Albergaria Kneipp. O professor ressaltou que é na conversa com o outro que nós adquirimos conhecimento. “É na troca de visão de mundo e de experiências entre os diferentes que ampliamos o nosso pensamento”, disse.
Para ele, o correto é vivermos de forma multifacetada, sentindo e pensando sem agressividade nas palavras, usando uma comunicação assertiva e não violenta. “Uma comunicação que acolha o outro e não de enfrentamento, principalmente na área pública e no atendimento ao público em geral, é fundamental”.
O professor ressaltou a importância de se adotar uma postura de não violência. “É preciso furar a bolha e debater com respeito e amorosidade com o outro, para ouvirmos e entendermos realmente o que outro está falando e validarmos os seus sentimentos”, enfatizou.
O evento foi organizado pela Secretaria de Defesa social (Seds), com apoio da Escola de Governo de Contagem (EGC), vinculada à Secretaria Municipal de Administração. Estiveram presentes representantes das secretarias de Administração, Defesa Social e Direitos Humanos e Cidadania.
Clique e confira as fotos. Fotógrafo: Ronnie Von/PMC