A realização da Gaymada busca a quebra dos preconceitos contra a comunidade LGBTQIAPN+ (Lésbicas, Gays; Bissexuais, Transgêneros, Queer, Intersexuais, Assexuais, Pansexuais e não-binarios), por meio da ocupação dos espaços públicos, de forma inclusiva. Por isso a atividade é aberta a todos que quiseram participar, independentemente da orientação sexual. “É trazer o esporte para envolver a política pública de diversidade e igualdade. É ocupar esses espaços mostrando que nós estamos aqui”, explicou um dos diretores do Cellos e integrante do Conselho Municipal de Promoção da Cidadania e Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (COMLGBT), Eduardo Mamede, mais conhecido como “Dudu Fashion”.
Moradora do bairro Novo Eldorado, Ana Carolina de Souza esteve em sua segunda participação na Gaymada. “Mostra para toda a população que a comunidade LGBT se integra às demais. Aqui não há esta diferenciação”, disse.
Ela falou, ainda, da importância de atividades como a Gaymada por meio da sua própria vivência familiar. Mãe de um transexual (pessoa que não se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu), ela explicou que toda sua família acolhe e respeita seu filho como pessoa trans. No passado, porém, a situação foi diferente. “Minha irmã quando disse ser lésbica, há 27 anos, para a família foi complicado. Todo mundo a criticava. Eu fui a única que fiquei ao seu lado, defendendo-a e ao seu direito de ser o que ela quisesse ser”. Assim ela reconheceu que essas vivências coletivas colaboraram para derrubar a hostilidade e a descriminação e que, hoje, a situação é bem melhor.
O psicólogo Leandro Neves, ativista da causa LGBTQIAPN+, aponta que a Gaymada é um ato político de ocupação. “Na verdade, o que a gente luta é por respeito. Se eu sou gay, se a pessoa é trans, se ela é lésbica, se ela é LGBTQIAPN+, não importa. Ela é um ser humano como qualquer outro. E a gente reivindica uma sociedade que seja de acesso para todos e todas e todes”.
Rafael Carvalho, também diretor do Cellos, lembra que quando era mais novo, na escola quase não o deixavam jogar bola: “Atividades como esta, que reúne tantos jovens, de várias idades, fomenta essa interação. Aqui a gente não tem só LGBT, há héteros, famílias inteiras, crianças. Essas atividades precisam ser permanentemente promovidas, não apenas durante o mês do orgulho”.
Morador do bairro Tropical, Higo Ferreira é heterossexual e fez questão de participar da atividade: “A gaymada e o vólei não são só para trazer lazer para toda a comunidade, mas também a diversidade para esses espaços. A comunidade LGBT tem direito a frequentar livremente onde quiserem, sendo respeitados, não apenas durante o período da Parada”.
O enfrentamento à discriminação tem histórias que reforçam a ideia de que “os bons são a maioria”. Dudu Fashion contou um caso inspirador. Como um dos organizadores da Parada do Orgulho LGBTQIAPN+, ele lembrou que há 18 anos ela acontece avenida João César de Oliveira, em frente ao Big Shopping. Em todo esse período havia a informação de que a direção do mall não gostava daquela atividade. “A gente até fazia o material de divulgação apontando a concentração na porta da Caixa Econômica, que é ao lado”, disse Dudu.
Esse ano, porém, ele procurou a direção do shopping para, por fim, entender porque supostamente eles não eram bem-vindos. A resposta o surpreendeu. “Não há problema algum com a Parada, muito pelo contrário. Ela é super bem-quista”, disse Alexandre Botelho, gerente do Big Shopping, completando: “O que vocês precisam para fazer a parada mais bonita da cidade?".
O dia a dia de descriminação acaba criando uma espécie antecipação à intolerância. O boato não só foi dirimido como esse ano a Parada do Orgulho LGBTQIAPN+ de Contagem terá o patrocínio do Big Shopping.
Também presente à Gaymada, a diretora de juventude do Cellos e integrante do Coletivo Trans-Viva, Agatha Cristine de Souza Costa, é moradora do bairro Jardim Laguna. Ela contou que é estudante da turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA) e que a direção escolar não estava preparada para o acolhimento de pessoas transexuais, como ela: “Tive problemas com o meu nome social. Um professor me chamou pelo meu nome de registro e eu o corrigi”.
A turma não sabia da sua condição de transsexual. O início meio confuso, mas tudo acabou bem. “A minha sala me abraçou e luta comigo por essa causa”. Em agosto, assim que retomarem as aulas, Agatha vai fazer uma palestra para os alunos sobre identidade de gênero.
Galeria de fotos: Newton de Castro Resende/PMC