Se você tem 30, 40 anos ou mais você, provavelmente, se recorda de como era “osso” aprender tabuada, na base da “decoreba”, ali na ponta do lápis, no papel. Hoje com a tecnologia, quem começa a vida escolar aprende brincando quanto é 7x9, por exemplo. Em Contagem, os estudantes do primeiro ciclo do ensino fundamental das escolas municipais estão tendo a oportunidade de utilizar recursos como o tablet para ajudar não somente nas operações matemáticas, mas também na separação silábica, nos primeiros conceitos ligados às ciências, à história, à geografia. Com a ajuda do tablet, os alunos são convidados a explorar o espaço físico das escolas para que, em um ensino interdisciplinar, possam conectar conhecimentos. Assim, o aprendizado vai se deslocando de um modo rígido para algo mais flexível, consolidando um novo jeito de apreender conteúdos.
Em Contagem, a Prefeitura fez o dever de casa e investiu R$ 10.490.000,00 na compra de 10 mil tablets, que foram colocados à disposição dos alunos. Muitos deles, inclusive, não têm condições de ter um aparelho como esses em casa. Na Escola Municipal Carlos Drummond de Andrade, o Caic Riacho, a iniciativa tem gerado alunos mais interessados, produtivos e mais frequentes às aulas,segundo os professores. Nesta escola, por exemplo, uma das turmas beneficiadas tem 15 alunos, que estudam no período da manhã e participam da tutoria nas segundas e terças-feiras à tarde. Com o apoio do tablet, o professor passa as informações sobre como será a atividade direcionada a abordar as operações matemáticas.
Com o aplicativo kahoot, ele organiza a turma em dois grupos e durante um tempo cronometrado, os alunos vão respondendo sobre o valor das operações anunciadas pelo professor em voz alta. São três rodadas, um grupo contra o outro. O clima de brincadeira, empolgação ganha a sala e os alunos se animam. Nesse jogo não há vencedores, todos aprendem e quem gosta de matemática se diverte e mesmo quem não tem a disciplina entre as suas favoritas tem a chance de aprender mais um pouco mais. Esse é o caso da aluna da 5º ano , Nicoly Penélope dos Santos Lourenço, de 11 anos. “Eu acho matemática muito difícil, mas com o tablet temos a ajuda do professor e também da calculadora. Eu acho que é mais fácil com tablet, mas gosto mesmo é de histórias e ciências. Eu acho bem mais fácil.”, falou.
Já o aluno Isaac Schneider da Silva Matos, 10 anos, também do 5º ano, defende a matemática, declarando todo o seu amor à disciplina. “Eu gosto de matemática porque a vida é feita de matemática, tudo é feito de matemática. Tudo o que você for fazer, você vai precisar dela e o tablet me ajuda a gostar e aprender ainda mais”, disse.
Outro que também que gosta de matemática e das outras disciplinas, inclusive, o português é o Wesley Gabriel Sousa Dias, 11 anos, que também está no 5º ano. “Eu adoro matemática. “Acho que o tablet deixa mais divertido. A gente joga jogos que ensinam a tabuada, a divisão, a adição e a subtração”, ,explicou ele, que também prefere o aparelho aos tradicionais e sempre atuais cadernos e livros. “Eu acho mais divertido estudar pelo tablet do que pelos cadernos e livros”, comentou.
“Temos consciência que precisamos formar, qualificar um aluno bem para quando chegar a hora de ir para o mercado de trabalho , ele possa estar preparado. Como governo temos o dever de estar atentos às necessidades dos nossos alunos, colocando à disposição recursos que podem melhorar o aprendizado e o inserir nesse novo cenário de um mundo digital que se impõe.”, comentou a prefeita Marília Campos.
Prefeitura adquire amplificadores de voz para ajudar professores
De acordo com o professor Danilo Vasconcelos Morais, a utilização do tablet tem contribuído para uma melhora sensível no rendimento dos estudantes. “Quando há o uso da tecnologia, eles se animam mais”, afirmou. Além do jogo com a tabuada, realizado em sala de aula, o professor também propõe atividades no espaço externo da escola. Divididos em dois grupos, cada um é liderado por um aluno. Nas mãos o líder leva o tablet para registrar o que o professor pediu. As instruções são passadas em alto e bom som, graças a um amplificador de voz. Em 2022, a Prefeitura de Contagem adquiriu 2.940 unidades para os docentes ao custo total de R$ 3.763.200,00. Mais um investimento importante nas condições de trabalho dos profissionais, que acabam por influenciar diretamente na qualidade do ensino. “Eu costumo usar o amplificador quando estamos em uma área aberta como a do pátio da escola e preciso falar mais alto ou naqueles dias em que a voz está um pouco rouca”, comentou o professor, que é responsável pelas turmas regulares de 8º e 9º ano no período da manhã e das turmas tutoriais que reúnem alunos do 3º ao 9º no período da tarde.
Enquanto os alunos e alunas, se espalham pelo pátio para cumprir a tarefa de registrar o que mais gostam e depois justificar o porquê da escolha, o professor Danilo nos fala de como percebe uma mudança sensível na relação deles com a escola. “Eu percebo que não houve somente uma melhora no rendimento deles em sala, mas também uma forma diferente de ser aluno, de se relacionar com a escola. Eles se apropriam da escola, desenvolvendo um sentimento de pertencimento a este lugar, querendo participar. Por meio de atividades como essa ao livre, eles conseguem fazer algumas reflexões que somente no turno regular não conseguiriam, porque é muito corrido.”, frisou o docente.
Cultura Digital
A educação do século XXI não se resume somente às tradicionais disciplinas como português, matemática, ciências, história e geografia. Ela exige que hoje os estudantes e futuros profissionais tenham habilidades diversas, como gravar e editar vídeos, produzir áudios para montar podcasts, por exemplo, mas tem sempre como objetivo final o aprendizado. “Essas novas tecnologias vieram para mudar os paradigmas da educação. Vejo que com uma proposta ousada, a Prefeitura e Secretaria Municipal de Educação estão se esforçando para que os estudantes vivenciem uma escola diferente, antenada ao mundo digital, explorando seus espaços internos e vendo ali, diante dos olhos, o que veem na teoria dentro da sala de aula. Esses recursos, sem dúvida nenhuma, potencializam o aprendizado. Em uma atividade como essa eles fazem o registro e editam os vídeos que eles mesmo produzem e fazem uma apresentação explicando o porquê fizeram aquela escolha. É um material que enriquece muito o processo da aprendizagem.”, afirmou Danilo, que com seus 31 anos de idade ainda pegou uma transição do analógico para o digital, mas que agora se vê professor de alunos que já nasceram dentro da cultura digital, hiper conectada.
Vulnerabilidade social: atenuando dificuldades
O professor Danilo ainda lembra que para além da inserção dos alunos e alunas no meio digital, ao disponibilizar a eles os recursos tecnológicos, a Prefeitura tenta atenuar o fato de que muitos passam por um quadro de vulnerabilidade social. Muitas famílias não têm condições de adquirir um aparelho semelhante para que possam utilizar em suas casas. Um dos critérios para participar da tutoria é, além do interesse dos pais e do aluno, estar em situação de vulnerabilidade social. A aluna Emanuelly Orlandi Cruz, de 9 anos, é uma das que participam das aulas na tutoria. Ela conta que além dela, o irmão de 11 anos, também estuda na escola e participa da tutoria em outra turma. Ela conta que o tablet veio em boa hora, pois ela tinha um celular que a ajudava durante as aulas, mas que ele quebrou e a mãe não tem condições de comprar outro. “Eu e meu irmão aproveitamos aqui na escola o máximo que podemos”, disse. “Eu também não tenho condições de comprar um tablet, então, quando chego aqui tento também aproveitar como posso”, completou.
Consciente das carências da turma, o professor vai tentando na medida do possível inserir o recurso nas aulas já que muitos querem se tornar íntimos desse contato com a tecnologia. “Muitos alunos aqui não têm acesso à internet e a aparelhos como esse em casa. Vivemos em uma era muito tecnológica. Muitas vezes os meninos e meninas veem os colegas utilizando e nutrem a vontade de usar também. Então, observo que muitos chegam já perguntando se vamos utilizar o tablet naquele dia. Eles gostam desse contato. Na tutoria a gente gosta de explorar isso ao máximo, aliando sempre a algum conteúdo, habilidade que a gente queira desenvolver com eles, deixando que eles utilizem a criatividade.”, frisou.
Saiba mais sobre a tutoria
De acordo com informações da Secretaria Municipal de Educação (Seduc), a tutoria é um dispositivo pedagógico utilizado pelos profissionais para atender pequenos grupos de alunos, com foco no desenvolvimento dos conteúdos comportamentais e atitudinais a partir das relações – de maneira intencional e pedagógica - e não, exclusivamente, a partir dos conteúdos cognitivo e disciplinas.
Atualmente, as tutorias acontecem em 38 escolas municipais, atendendo, até junho, 2.220 estudantes. Fazem parte do conteúdo programático das tutorias oficinas esportivas, culturais e tecnológicas inseridas, dando espaço a aprendizados que ultrapassam a grade curricular tradicional. Por fim, as Organizações da Sociedade Civil (Oscs), parceiras, também atendem em seus espaços estudantes da rede municipal no contraturno escolar, articulando atividades de educação, esportes e cultura (CEPA e Crescer), atualmente atendendo a 350 estudantes.
Além disso, a Seduc destaca que existem outros quatro espaços em funcionamento para atividades da tutoria: Escola Municipal Antônio Carlos Lemos (que atende a pessoas com deficiência), Educartes Estação do Saber, Educartes Lucas Braga e Educartes Industrial. Ao todo nesses espaços são 500 alunos atendidos .
“A tutoria está dentro do programa Escola Viva e tem por objetivo a extensão dos tempos, espaços e estratégias educativas. Além da construção de ações intersetoriais nos territórios educativos para proporcionar à comunidade escolar o acesso às políticas públicas educacionais. Consolidando assim, um atendimento educacional de qualidade social, contínua e ininterrupta para todos (as) os (as) estudantes”, explicou a secretária de Educação, Telma Fernandes.
O programa Escola Viva começou no governo atual e tem como foco ampliar o tempo de permanência na escola, com foco na recomposição da aprendizagem e numa aprendizagem mais lúdica. É um espaço onde os estudantes aprendem de um jeito diferente.