Com o objetivo de discutir a situação da esporotricose no Brasil, representantes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) participaram da 1ª Oficina para Estruturação de Vigilância e Controle das Micoses Sistêmicas, ofertada pela Coordenação Geral de Doenças Transmissíveis (CGDT) do Ministério da Saúde (MS). A oficina ocorre em um contexto no qual dados preliminares apontam um possível crescimento da doença no Brasil entre os anos de 2015 e 2018. A esporotricose é uma micose tratável, que pode afetar animais e humanos, cujos sintomas manifestam-se principalmente nos gatos.
A ação ocorreu nos dias 7 e 8 de junho, em Brasília. Participaram da oficina cerca de 35 pessoas, oriundas de aproximadamente dez cidades do Brasil. Pelo estado de Minas Gerais, que enviou representante, além de Contagem, somente Belo Horizonte e Conselheiro Lafaiete participaram do grupo.
O diretor de Vigilância e Controle de Zoonoses da SMS e médico veterinário José Renato de Rezende Costa integrou a equipe de Contagem, formada também pela médica e infectologista Tania Marcial e pela médica veterinária Maria Helena Franco Morais. Ambas fazem parte da equipe de epidemiologia da SMS.
José Renato explica que a esporotricose é uma doença (zoonose) que se caracteriza por uma micose subcutânea causada pelo fungo Sporothrix schenckii, que pode atacar humanos e animais. A esporotricose geralmente afeta a pele e os vasos linfáticos próximos a ela, mas pode também afetar ossos, pulmão e articulações.
Alerta para a possibilidade de diagnóstico de nova espécie no Brasil
O médico Veterinário José Renato explica que esta zoonose é encontrada em várias partes do planeta. “Esse fungo está presente na maior parte do mundo, mas principalmente em regiões de clima temperado e tropical, como a Ásia, África, Oceania e Américas. Por habitar a natureza, o S. Schenckii está presente no solo, vegetais e madeira, e pode atingir tanto humanos quanto animais. Sua disseminação é lenta e os sintomas se caracterizam por nódulos purulentos ou não e que aparecem, normalmente, nos membros superiores, como braços e mãos, e também na face”, acrescenta o técnico.
José Renato pondera, contudo, que alguns trabalhos vêm apontando uma nova espécie já diagnosticada no Brasil: “Estudos mais recentes mostram uma nova espécie, que é o S. brasilienses, que tem demonstrado, em alguns casos, patogenia mais severa e de disseminação mais rápida, o que tem trazido uma preocupação maior para todos os técnicos e, consequentemente, para a população em geral. Diante disso, iniciou-se o processo para considerar a esporotricose humana e animal como doença de notificação compulsória, uma vez que esta doença vem se espalhando de forma rápida por todo o território nacional e com uma patogenia bastante severa, tanto no animal quanto no homem. É preciso ter fluxos para o atendimento aos pacientes e dos animais e, ao mesmo tempo, deve-se criar uma ficha de notificação oficial para lançamento nos sistemas vigentes”.
O Centro de Controle de Zoonoses (CCZ de Contagem) vem recebendo animais suspeitos da doença, com coleta de material para o diagnóstico e encaminhamentos para a Escola de Veterinária da UFMG para confirmação.
No município, no ano de 2017, de acordo com o setor de Vigilância e Controle de Zoonoses da SMS, análises preliminares registram 11 casos notificados de esporotricose em humanos e 76 em gatos.
Prevenção, tratamento e controle
O diretor de Vigilância e Controle de Zoonoses da SMS, José Renato, explica que as medidas de controle da esporotricose estão baseadas na educação e na mobilização da população para o conhecimento da doença e suas formas de controle no meio ambiente, na capacitação para o diagnóstico e no encaminhamento ao tratamento.
“O diagnóstico no animal é muito importante. No caso dos animais domiciliados com tutores, existem tratamentos à base do Itraconazol. Esse tutores devem sempre procurar um médico veterinário para a correta administração dos medicamentos. É importante ressaltar que os animais ou as carcaças com suspeitas positivas ou confirmação da doença jamais deverão ser descartadas em lotes vagos ou mesmo no lixo comum, pois como o agente transmissor é um agente telúrico, que vive na terra, pode resistir por muitos anos no ambiente.