A doação de órgãos é um dos maiores atos de bondade que um ser humano pode fazer pelo outro. Além de salvar vidas, representa também o amor da família do paciente que partiu e, em meio à dor da perda, permite o ato acontecer e transformar a trajetória de desconhecidos aguardando pela oportunidade de viver.
Foi o que aconteceu com a família de Bruno Franklin Faria, vítima de um acidente de trânsito. Após uma conversa com a equipe responsável pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), do Hospital Municipal de Contagem (HMC), os familiares decidiram autorizar a doação.
A médica intensivista Luiza Melo destacou que nestes momentos a abordagem sempre é delicada, mas pensando nos receptores, esse trabalho precisa ser feito. “Eu abordei a família e eles pensaram e concordaram em contribuir com esse gesto humanitário, mesmo sofrendo muito com a dor da perda desse familiar”.
De acordo com Luiza Melo, os órgãos de Bruno salvaram ao menos cinco pessoas. O pai dele, Sebastião Clóvis, disse que esse último ato do filho marcou sua curta trajetória de vida. "Nossas lágrimas não serão enxugadas por esse ato, mas as de outras famílias sim. A dor de perder um filho é imensa, mas também é grande a felicidade de ver outros pais cheios de esperança ao perceberem que seus filhos terão mais tempo de vida. Por isso, não devemos adiar essa decisão que pode salvar tantas vidas. Nós entendemos a importância da doação, graças às orientações da equipe do Hospital Municipal de Contagem".
Em homenagem a esse gesto tão emocionante, a equipe da CIHDOTT realizou um corredor de palmas para os familiares do doador, como forma de reconhecer a grandeza dessa decisão que salva vidas. No dia da captação dos órgãos de Bruno Faria estiveram presentes seus pais, madrasta, irmãos e o sogro que presenciaram esse ato de carinho dos colaboradores do HMC.
Como e quem pode doar?
A enfermeira, coordenadora da CIHDOTT, Cynthia Oliveira, explica que toda pessoa tem potencial para ser doador. Para isso, protocolos rigorosos são seguidos, garantindo que os órgãos estejam em perfeitas condições. Existem duas principais formas de doação: a morte encefálica possibilita a doação de múltiplos órgãos e a doação de tecido ocular pode ser feita mesmo após a morte por coração parado.
Cynthia Oliveira destaca que apesar de algumas pessoas registrarem em documentos o desejo de doar, apenas a família pode autorizar oficialmente. “Por mais que o doador deixe por escrito ou identifique no documento, somente a família pode autorizar a doação. O ideal é conversar antes com os familiares e deixar claro esse último desejo. Para incentivar esse ato tão importante, costumo dizer às famílias que nem todo fim precisa ter um ponto final, Podemos sempre colocar um vírgula de esperança para que alguém continue a viver”.
Mitos e verdades sobre doação
Entre os desafios enfrentados para a doação de órgãos, a médica Luiza Melo destaca que os maiores são a falta de informação e a dificuldade das famílias em esperar pela conclusão dos protocolos médicos. Outro ponto recorrente é a preocupação com a aparência do corpo após a retirada dos órgãos. “A doação de órgãos é segura, pois inclui inúmeros protocolos. O corpo ficará como antes, sem nenhuma deformidade, apenas com cicatrizes discretas da cirurgia, imperceptíveis. O sepultamento e o velório acontecem normalmente”, esclareceu.
A Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT) atua no Hospital Municipal de Contagem desde 2019. Nesse período, 159 doadores já passaram pela unidade, possibilitando a doação de múltiplos órgãos. Em parceria com o MG Transplantes, o hospital assegura a realização de todos os exames necessários para o cumprimento dos protocolos de doação.
A CIHDOTT tem a missão de incentivar a doação de órgãos e acolhe as famílias de forma humanizada, promovendo ações de apoio e conscientização que reforçam a importância desse gesto solidário capaz de transformar vidas.