A praça da Jabuticaba, Centro de Contagem, foi palco no dia 19 de agosto, do Dia Nacional de Luta das Pessoas em Situação de Rua, uma ação da Secretaria de Desenvolvimento Social, Trabalho e Segurança Alimentar - SMDSTSA, para marcar a data. Oferecendo atendimentos diversos nas áreas de saúde, cadastramento no CadÚnico, realização de oficinas para elaboração de currículo, corte de cabelo gratuito, entre outras atividades, o espaço ficou movimentado com apresentação de show e ginástica coletiva.
Usuário do Centro Pop de Contagem, equipamento de acolhimento da SMDHC, o faz tudo, Wendel Ferreira de Carvalho, era um dos presentes na praça. Dos seus 24 anos de vida, seis deles foram vividos e sobrevividos na rua, mais exatamente sob as árvores da praça Paulo Chagas, no Novo Eldorado, onde lavava carros nas imediações para ganhar alguns trocados. “Eu frequentei e ainda frequento muito Centro Pop. Lá me ajudaram demais naquele tempo em que a rua era minha casa. Foi uma precisão. Eu não tinha um meio de ter uma casa, um teto. Foi um período difícil, que vi de perto os perigos da rua, mas também onde aprendi muito”, conta ele que hoje trabalha como montador de estruturas metálicas. Graças a esse trabalho, conseguiu alugar uma casa e tem hoje a chance de chamá-la de lar. “Hoje ‘tá mais suave’. É bom ter para onde voltar. Um canto para poder descansar, a vida vai entrando no trilhos”, alegra-se ele ao relembrar a trajetória que o levou às ruas permeada por abandono e conflitos familiares e o uso abusivo de drogas, que o colocaram em um cenário de vulnerabilidade social.
Histórias como a dele se repetem aos montes entres eles. Aos 47 anos de idade, 19 anos deles sobrevivendo nas ruas, está também Webelt Ribeiro. Atualmente, desempregado, ele busca uma oportunidade na área de vendas e cobrança comercial. Enquanto ela não vem, faz bicos com recicláveis e outros pequenos serviços que lhe garantem manter a esperança por dias melhores. “Eu vim para rua como resultado de uma vida familiar sem estrutura. A vida na rua não é fácil. Você tem que ter cuidado com quem anda, onde dorme, há risco por todos os lados. Eu tenho encarado a rua como meu ponto de partida para realizar o meu sonho de ter um canto para chamar de meu”, conta ele que encontrou no Centro Pop apoio profissional para enviar currículo, tomar banho, lavar as poucas roupas que tem e lanchar diariamente.
Outro que aproveitou o dia para arrumar os cabelos ou dar um “tapa no visual” com a equipe do salão do Dudu Fashion, dando mais destaque ao black power que ostenta foi o artesão, João Vitor Silva Santos, 26 anos. Também usuário dos serviços oferecidos pela SMDSTSA, hoje ele vai tramando o futuro por meio dos fios de lã com os quais tece tapetes, roupinhas de bebês, bonés, entre outras peças que vende em uma busca para mudar a própria realidade. A realidade de quem saiu de São Paulo Capital e sobreviveu nas ruas de Contagem. “Um dia como esse é bacana, já que muitas vezes não temos um momento de lazer, de tranquilidade. Um momento legal para dar um tapa no visual e ainda levantar a autoestima”, comentou.
A secretária municipal de Desenvolvimento Social, Trabalho e Segurança Alimentar, Daniela Tiffany, presente ao evento, destacou que entre os objetivos estava a busca de aproximar os usuários dos serviços oferecidos pelo município, dando visibilidade às políticas públicas existentes na cidade para este público. Ela ainda lembrou que um dos pilares de ação da secretaria, é buscar no caso das pessoas em situação de rua, restabelecer os laços familiares e, quando não mais possível, respeitar a autonomia do sujeito e, portanto, sua escolha. “Mas temos sempre como norte trabalhar para que a pessoa que esteja na rua não fique na condição de mendicância.”
Tiffany ainda ressaltou que o evento também foi uma oportunidade para que a sociedade possa mudar a visão negativa e discriminatória que há sobre as pessoas em situação de rua. “Muitas vezes a situação deles se confunde com a condição do sujeito. Por desconhecimento nosso há o julgamento e a discriminação.”
A secretária adiantou que um censo da população em situação de rua está sendo finalizado para que possa ser divulgado em setembro com o lançamento do Plano Municipal para Pessoa em Situação de Rua, elaborado pelo Comitê Interinstitucional, formado inclusive com a participação de pessoas que vivem nessa condição. “O censo será útil por ser uma ferramenta de aprimoramento das políticas públicas existentes. Temos observado que a crise econômica acaba empurrando famílias inteiras para as ruas por não terem como pagar o aluguel diante dos aumentos registrados”. Dados da secretaria apontam que a cidade tem, aproximadamente, 350 pessoas vivendo nas ruas.
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