Era uma vez um coletivo de trabalhadores dos serviços de saúde mental de Contagem que ousou tecer, junto a usuários assistidos em um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da cidade, redes de laços sociais por meio de oficinas terapêuticas repletas de singularidades e ressignificações. Assim surgiu, nos idos do ano de 2006, o Grupo Oficina ZumZumZum, que por 10 dias circulou pela cidade levando a mensagem da Luta Antimanicomial com o aporte da música, da dança e do teatro. O grupo foi além e passou a desafiar os limites e os impasses entre a loucura e a cidade em mais e mais lugares. Aos poucos, foi conquistando autonomia e acabou se desinstitucionalizando do CAPS em 2009, o que não o impediu de se reencontrar com a rede SUS Contagem mais à frente: em 2012, o ZumZumZum tornou-se o Grupo Cultivarte, que é movido pelo cuidado de si e do outro como prática de liberdade e potência de vida. Com a criação do Cultivarte surgiu o Projeto TEIA – Território, Entrelaces, Inclusão, Autonomia. O Projeto TEIA reúne pacientes com histórico de isolamento, exclusão e internações psiquiátricas, familiares e trabalhadores da RAPS de Contagem. A partir da inclusão no Cultivarte, esses pacientes mantêm tratamento contínuo nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município. O TEIA materializa-se no Centro de Convivência Horizonte Aberto, que compõe a RAPS de Contagem e promove cuidados em saúde mental articulados à inclusão social de pessoas com histórico de sofrimento mental e/ou que estão em situação de sofrimento psíquico e/ou vulnerabilidade psicossocial. Sua finalidade é fomentar uma mobilização criativa e cidadã nos usuários assistidos, por meio da convivência e da oferta de oficinas terapêuticas para produções no campo do artesanato, da jardinagem, do teatro e da escrita, entre outras áreas. Projeto TEIA nos Cadernos de Cidadania de fevereiro a junho Graças à sua potencialidade de inclusão social e de produção de cuidados, singularidades e subjetividades, o Projeto TEIA é o tema principal da publicação “Caderno de Cidadania” deste mês de fevereiro. O Caderno de Cidadania integra o escopo de ações desenvolvidas pelo Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora (IMSNS), entidade beneficente e filantrópica que executa iniciativas de assistência social e oferta serviços que buscam, entre outros objetivos, promover e garantir direitos, como os direitos humanos. O intuito do Caderno de Cidadania, publicado pela Gráfica O Lutador, de Belo Horizonte, é divulgar entidades, instituições e serviços voltados para o público da assistência social. O encarte, gratuito e de periodicidade mensal, é distribuído em entidades de redes socioassistenciais e equipamentos públicos. No editorial da edição de fevereiro, a editora da publicação, a assistente social Juliana Gonçalves da Silva, enfatiza a importância da série de seis publicações especiais do Caderno de Cidadania que irá abordar o Centro de Convivência de Contagem: “Essa série de matérias tem como objetivo apresentar um modelo de atenção que pretende somar iniciativas de promoção de direitos humanos e de saúde, potencializando ações de mobilização social para produção de cuidados e inclusão. E por que falar de saúde mental? Historicamente, as pessoas em sofrimento psíquico foram colocadas à margem, ignoradas ou isoladas socialmente, como forma de contenção de sua “loucura” e de seus discursos fora do então chamado “mundo real”. É a reafirmação da luta contra a desigualdade e exclusão social, também ponto de atuação da assistência social”. O que vem por aí A gestora do Centro de Convivência/Projeto TEIA, a psicóloga Pollyana Costa Santos, detalha um pouco do processo que culminou na iniciativa. “Para construirmos a parceria, tivemos uma reunião, em dezembro do ano passado, com o intuito de somar esforços para ações de promoção dos direitos humanos e saúde mental e reafirmando nosso compromisso com a igualdade, a solidariedade e o protagonismo social. Nesta primeira de seis edições, eu assino os textos. Já nas próximas edições, apresentaremos ao público textos feitos a partir de produções colaborativas realizadas em oficina terapêutica do Centro de Convivência, bem como do coletivo Cultivarte e demais coletivos que estão emergindo a partir do Projeto TEIA, formados pelos usuários e trabalhadores da rede de saúde de Contagem. Será uma oportunidade para fazermos um trabalho de escrita e memória, para impulsionamento das redes de produção de cuidados não só em torno do Projeto TEIA, mas, sobretudo, memória e valorização do potencial do SUS, pela defesa em torno de direitos, como o direito à saúde, o direito à liberdade e à cidadania, sempre na perspectiva da história de vida, na articulação entre o que é singular e o que é coletivo. E, durante esse período, vamos também trabalhar e amadurecer a ideia de produzirmos nosso próprio jornal, alçando nossos próprios voos”, adianta a psicóloga. Vida longa ao Projeto TEIA! Boa sorte! Clique e saiba mais sobre a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) de Contagem