Na segunda-feira (26), com 13kg a mais, barba feita e um sorriso no rosto ele retornou ao local para visitar os amigos que fez e a equipe que lhe deu apoio durante sua permanência na unidade. “Foi muito bom o que encontrei aqui, me senti importante, cuidado, as pessoas me trataram bem, o que não ocorria há muito tempo,” contou Igor Júnior.
Ele contou que sua rotina era passar pela avaliação médica, fazer as medicações necessárias e fazer as refeições que era a ‘melhor parte do dia’. “Eu vivi uns dias de muita inquietação, fome e sono, acho que era devido a abstinência. Nas horas de espera, queria ajudar e conversar com as pessoas e todos foram muito receptivos, senti calor humano das enfermeiras, médicos, copeiras, porteiros e demais colaboradores” completou.
“Este carinho e atenção me tocaram profundamente, foi o que fez eu recuperasse minha autoestima e começar a planejar uma nova vida, buscar um emprego e construir uma família, e bem longe das drogas,” destacou Igor.
“Apesar de parecer tímido, Igor é muito comunicativo e inteligente”, descreve a gerente da unidade Olívia Bonfim. Para ela, a equipe fez o seu trabalho de assistência à saúde, tratou o que era necessário e de alguma forma foi a companhia certa para ele naquele momento. “Com 10 anos de experiência neste serviço, vivemos muitas histórias, boas e ruins. Acredito que a partir do momento que confiamos nele, ele resgatou o que tinha de bom em si para mudar a sua história,” comentou a gerente.
Quem compartilhou um pouco dos dias do ex-paciente no local foi a nutricionista Marriethe de Oliveira Carneiro que confirmou como ele gostava destes horários. “Todo dia sempre era um pedido a mais na hora das refeições, ora um pão a mais, ora uma marmita extra. A refeição também faz parte do acolhimento e no caso dele foi bem importante. Em retribuição ele sempre foi educado e gentil, se prontificando em ajudar as copeiras e demais pessoas” explicou a nutricionista.
Confiança e dignidade
Igor contou que durante os dias que passou na UPA JK duas situações mexeram muito com ele. Primeiro, a visita da sua mãe que mesmo morando juntos, há dois anos não se falavam, pois ela não aceitava como ele levava a sua vida e ele ficava alguns períodos sem passar por lá. “Não sei como eles conseguiram o contato da minha mãe, entrei no local como indigente e, mesmo chateada comigo ela foi me ver e visitar sempre que possível. Hoje estamos bem,” disse Igor que mora no bairro Parque Recreio. A equipe do Serviço Social da UPA que localizou a mãe.
Outra situação foi um desentendimento entre ele e outro paciente que estava na unidade. Ele pensou que seria expulso do local, mas por ser honesto sobre o episódio acabou tendo outro desfecho para a história. “Foi muito bom saber que as pessoas ainda confiam em mim apesar do meu histórico, isso nos motiva a sermos melhores”.
Atualmente, Igor faz acompanhamento médico pós-cirúrgico e do gesso no braço. Ele aproveita as consultas para visitar a unidade, rever os colaboradores do local, conversar e deixar mensagem para as pessoas que agora o considera como amigos. Ele espera por uma oportunidade de trabalho, já que está desempregado, para retomar com uma vida mais digna e saudável.