Em lugar de muros, pontes, entrega e conexões, inclusive em tempos dominados por polarizações. É o que propôs a terapeuta ocupacional Handula Janine, servidora na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) há 14 anos, na palestra “Desenvolva conexões corajosas”. A diretora de Capacitação e Certificação do Programa Empreender – Capacitar para Crescer, Lívia de Paula, esteve presente à palestra e deu as boas-vindas aos participantes.
O evento ocorreu no auditório da Prefeitura de Contagem na quinta-feira (5) e foi mais uma promoção da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (Sedecon), por meio do Programa Empreender – Capacitar para Crescer que, neste ano, completa 21 anos oferecendo diversos treinamentos relacionados à melhoria da qualidade, da produtividade de instituições públicas e privadas e ao cumprimento de padrões estabelecidos em normas internacionais. Os cursos ofertados são gratuitos ou oferecidos a preços subsidiados, bem abaixo daqueles praticados no mercado. Para saber mais sobre o programa
Temas como a importância do estar atento à comunicação nas relações interpessoais, para que a empatia possa predominar sobre a influência dos inevitáveis pré-julgamentos de valor, independentemente de posições hierárquicas ou marcadas por diferenciadores sociais, foram tratados no evento. O auditório ficou lotado, com uma plateia atenta e participativa.
De um limão, uma limonada
A palestrante da noite, Handula Janine, é formada em terapia ocupacional pela UFMG e tem diversas especializações, entre elas, em terapia sistêmica familiar pelo espaço Holon. Ela também é estudiosa e aprendiz de “Comunicação Não-Violenta” pela Sinergia Comunicativa/SP. Ela já foi inclusive uma das fontes técnicas de uma matéria sobre a utilização do método Canguru no Centro Materno Infantil (CMI) Juventina Paula de Jesus, que pode ser conferida neste link
Mesmo com todas essas qualificações, como todo mundo, Handula já enfrentou situações que a deixaram abalada e que ensejaram reflexões profundas e mudanças corajosas. Em 2012, ela conta que passou por um divórcio relativo a um casamento que já durara 17 anos. Ela também contou que tinha muitas expectativas em torno dessa relação, que, pensava ela, duraria para sempre. Nessa perspectiva, uma separação poderia ser encarada como um “fracasso”. “Mas o que era um fracasso tornou-se uma oportunidade de crescimento. Foi nesse processo que conheci a Comunicação Não-Violenta (CNV). A CNV foi desenvolvida pelo psicólogo Marshall Bertram Rosenberg, que nos convida a pensar sobre a seguinte questão: o que leva alguém a entender que é mais do que o outro por causa de diferenças como a cor da pele, a classe social à qual pertence, a posição hierárquica que ocupa no mundo do trabalho?”.
A pesquisadora explica que a perspectiva oferecida CNV considera que as ações humanas são originárias da tentativa de satisfação de necessidades humanas, presentes em todas as pessoas, e que seria possível, por meio de conceitos-chave como empatia, obter comunicações sem a expressão de julgamentos em torno do certo ou errado. A aposta é que é possível expressar sentimentos e necessidades, em vez de críticas ou juízos de valor, gerando ganhos a ambas as partes envolvidas no ato de comunicar.
Para que isso seja possível, Handula Janine enfatiza que a preparação para a comunicação é importante, tanto quanto os preparativos para outras atividades fundamentais da vida, uma vez que sentimentos e visões de mundo estão em jogo. “Quando eu faço uma entrega do que eu quero ao me comunicar, e isso envolve também linguagem não-verbal, corporal, preciso me preparar para genuinamente dizer ao outro o que eu quero, para que possa haver conexão. Essa conexão envolve escolhas, acertos e erros. A conexão envolve uma postura de humildade para se colocar no lugar do outro, o que é extremamente desafiador. O outro não sou eu, isso é o básico. Então, preciso ser capaz de suportar isso e de abraçar o diferente. A relação com o outro é muito preciosa. Só estamos aqui por causa do outros”, salienta a pesquisadora.
O que está em jogo no ato de comunicar
Mas, como seria possível fazer com que o hábito de se colocar no lugar do outro prevaleça sobre o hábito de julgar, tão comum a todos? “Julgar é uma habilidade humana, e os julgamentos são inevitáveis. Todos os nossos ancestrais precisaram fazer algum julgamento para estarmos aqui, hoje. Julgar em si não é bom ou ruim, mas as réguas que fazem as medidas do julgamento são diferentes nas pessoas. Reconhecer isso nas relações já traz ganhos, e é preciso estar atento, presente a isso. Mas, o que podemos fazer com os nossos julgamentos? Essa reflexão é um convite feito pela Comunicação Não-Violenta (CNV). Quando eu imponho o meu julgamento ao outro, estou fazendo juízos moralizantes que têm métricas diferentes quando comparadas com as métricas do outro. Isso pode levar a perdas, ao passo que, com a CNV, todos vão ser beneficiados”, avalia Handula Janine.
A pesquisadora de CNV reforça que, para deixar que a empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro, prevaleça sobre os pré-julgamentos é preciso ter coragem e fazer escolhas conscientes. “Se você se conecta com o seu propósito de vida, que provavelmente envolve um desejo por crescimento, e se isso é o que o outro, que se relaciona comigo, provavelmente deseja, se isso é comum entre nós, como podemos fazer isso juntos, para desconstruir a relação de dominador e dominado, para que entre a gente possa prevalecer um ganho mútuo – eu ganho e o outro também ganha? Isso é possível. Mas é preciso coragem. As pessoas escolhem estratégias para cuidar de necessidades que são muito semelhantes, e trazer isso para o diálogo pode aproximar, principalmente, em tempos de polarização. Tanto eu quanto aquele que escolheu algo diferente de mim estamos buscando, muitas vezes, coisas muito semelhantes. A gente pode discordar na forma de fazer isso, mas, se a gente parar para pensar, veremos que estamos buscando o mesmo. Em vez de muros, a CNV propõe as conexões e a construção de pontes. E isso requer coragem, entrega, escolhas conscientes”, finaliza a especialista.