A Estação Bernardo Monteiro abriu suas portas na última sexta-feira (21/11) para receber a nova exposição da artista paraense Berna Reale, reconhecida internacionalmente por sua produção crítica e contundente. Suas obras - muitas construídas a partir de performances e instalações - abordam a violência de Estado, a brutalização dos corpos femininos e os mecanismos de silenciamento que atravessam a sociedade brasileira.
Logo na entrada, o público é confrontado com imagens esteticamente sedutoras que, ao mesmo tempo, expõem desigualdades profundas e vulnerabilidades coletivas. O conjunto de trabalhos tensiona a materialidade e os símbolos da violência, transformando a galeria em um espaço onde a arte se torna ato político e gesto de resistência.
O curador institucional da exposição e coordenador do Viaduto das Artes, Leandro Gabriel, destacou o significado de trazer a obra para um espaço público de grande circulação. “Trazer a Berna para a Estação é reafirmar que a arte precisa ocupar todos os lugares da cidade. A obra dela rompe com a neutralidade e cria fissuras no cotidiano. É uma chamada para que a sociedade encare aquilo que insiste em esconder.”
Ele também ressaltou a relevância de descentralizar o acesso à arte contemporânea. “Quando a arte chega aonde o povo está, ela deixa de ser privilégio e passa a ser direito.”
Entre os visitantes, a mestranda em arquiteta, Larissa Angélica, contou que a mostra a afetou de maneira profunda e necessária. “A exposição me impactou de forma positiva, mas ainda assim com um toque de mal-estar, ao trazer a violência cotidiana para dentro da galeria. Me senti convidada a refletir, através das obras da artista, sobre minha relação e meus desafetos com as opressões presentes na sociedade. Como mulher negra, me senti duplamente comovida e me vi em muitas situações retratadas”.
Para ela, o caráter político da mostra se destaca justamente pela forma como a estética provoca reflexão. “A exposição demonstra a capacidade da arte de trazer visibilidade às questões sociais. Ela usa a estética como ferramenta para trazer à tona temas que hoje são banalizados.”
A abertura reforça o papel da Estação Bernardo Monteiro como um território de encontro, arte e crítica social em Contagem. Assim como nas batalhas de hip-hop que ocupam o viaduto, ali o corpo se torna território, e a arte, um dispositivo coletivo de consciência e resistência.
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Trabalhos da artista expostos na Estação. Foto: Fábio Silva/PMC
Sobre Berna Reale
Reconhecida como uma das artistas contemporâneas mais provocadoras do Brasil, Berna Reale nasceu em Belém (PA) e construiu uma trajetória marcada pela ousadia estética e pela crítica social incisiva. Formada em Artes Visuais, ela desenvolveu uma produção que transita entre performance, fotografia, vídeo e instalação, sempre tensionando temas como violência urbana, opressão de gênero, violações de direitos humanos e a brutalidade do Estado.
Berna ganhou destaque nacional e internacional ao utilizar seu próprio corpo como ferramenta expressiva, encarnando personagens e situações que revelam estruturas de poder e desigualdade. Suas obras já ocuparam museus e galerias no Brasil, Europa e Américas, além de integrarem importantes coleções públicas.
A artista também atua como perita criminal oficial, experiência que atravessa sua poética e amplia a força de seu discurso visual. Entre as obras mais emblemáticas estão performances que questionam a banalização da violência e a naturalização do sofrimento cotidiano.
SERVIÇO - Exposição "Berna Reale"
Estação Bernardo Monteiro
Até 31 de janeiro de 2026
Terça a sexta: 9h às 17h | Sábado: 9h às 15h
Visitação mediada: equipe de educativo da Estação
Entrada gratuita

Berna Reale, em suas obras, denuncia violências e silenciamentos sociais. Foto: Fábio Silva/PMC









