Pelo terceiro ano consecutivo Contagem promoveu o Dia Nacional da Visibilidade Trans, domingo (28/1), no parque Fernão Dias, no Riacho. O evento foi promovido pela Prefeitura de Contagem no intuito de apoiar e dar protagonismo a este público. Quem foi ao local pôde assistir a muitas performances de dança e música. A Prefeitura também ofereceu aos presentes serviços como orientações jurídicas, cadastro no CadÚnico e orientações sobre a nova Carteira de Identidade Nacional.
Entre as pessoas presentes muitas histórias de superação para ressignificar a vida diante de preconceitos declarados ou, na maioria das vezes, velado. História de quem buscou forças em seu íntimo para seguir em frente pelo simples e fundamental direito de existir como é o caso do homem trans e o professor, Marlon Nonato Silveira, 63. Natural de Contagem, ele cresceu na região da Ressaca, no bairro Novo Progresso B.
“Eu nasci para ser o que sou”, disse ele ao se lembrar de que aos 15 anos de idade compartilhou com a mãe sua orientação de gênero e sexual. Enfrentando todo o tipo de preconceito, inclusive o familiar, em um corpo com o qual não se identificava, ele atravessou quatro décadas e há cerca de 7 anos faz terapia hormonal. Feliz, comemorou a cirurgia de mastectomia (remoção da mama) realizada em agosto de 2023.
Para ele, apesar do preconceito que teima em existir nos dias atuais, trazer a questão trans à luz, tirando-a da sombra é momento para se comemorar. “Melhorou muito da minha época para agora. Estou vendo aí pessoas trans com 20 anos, com 18 anos. Estou vendo a transição. Olha onde eu fui começar. Com mais de 50, quase 60 anos. Isso também por não ter apoio antes. Mas está melhorando. Em Contagem, vemos quea gora o Dia da Visibilidade está no calendário oficial da cidade”, opinou ele, que sempre foi para Belo Horizonte para vivenciar as lutas da comunidade LGBTQIAP+.
Já a transexual, Leona Blanco Gerolono, 38, natural de Lagoa Dourada (MG), moradora de Contagem há 20 anos, também reconheceu que a luta avançou e que ocupar espaços públicos é um sinal desse passo importante que a sociedade vem dando aos poucos.
“Penso que hoje está cada dia mais normal, se a gente puder dizer assim. Normalizado. As pessoas nos veem, sim, no parque, em todos os espaços públicos, o que por muito tempo nos foi negado”, contou ela do alto de seus mais de 1,80m, que não se rendeu ao preconceito, assumindo-se em uma cidade pequena, como uma mulher trans.
Em Contagem, ela afirmou que tem sentido e visto nos últimos anos um avanço mais significativo para as questões da população trans. “As lideranças têm que definir o caminho para as pessoas seguirem. Se for um caminho ruim, vai ser um caminho ruim. As lideranças estão tentando melhorar. Sabemos que não será do dia para a noite”.
No entanto, ela lembrou que a luta é longa e se dá no dia a dia. “O que temos vivido nos últimos anos é uma vitória, mas a sociedade não entende que é um problema de décadas, não sei de quanto tempo, de sofrimento, sem dúvida. Isso nunca vai ser liberto de hoje para amanhã. A gente vive em 2024 mas, podemos dizer, foram anos de ‘escriavidão’ em sua maioria. Até hoje há preconceitos contra negros. Imagina a homossexualidade, que está ai desde que o mundo é mundo”.
Contagem avança apoiada em políticas públicas
A subsecretária de Direitos Humanos e Cidadania, Lorena Lemos, lembrou que historicamente a população trans e travesti enfrentam uma série de barreiras. “Esse momento é de uma agenda de visibilidade que tem toda uma perspectiva a partir da performance artística, que é muito importante para essa população, mas também numa articulação com outras políticas públicas de Contagem. É um momento de reflexão, sobre visibilidade, com oferta de serviços a essa população específica, em um espaço público, que é importante, o parque Fernão Dias, que ficou muitos anos fechado e que hoje está reaberto para todas e todos”.
Lorena ainda lembrou que no primeiro semestre, Contagem avançará ainda mais na política social de respeito aos gêneros e orientações sexuais, com abertura de um Centro de Referência da População LGBTQIAP+. O espaço vai funcionar no prédio onde se encontrava o Procon, na avenida José Faria da Rocha, no Eldorado. Atualmente, o Procon está funcionando na av. João César de Oliveira, 1434, onde também está a Administração Regional Eldorado.
Assim, Contagem segue tentando mudar o cenário de violência vivenciado pela comunidade LGBTQIAP+. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania revelou no sábado (27/1), que em 2023, o Disque 100 registrou mais de 4.000 denúncias de violações de direitos humanos contra a população trans.
O Brasil é, pelo 15º ano consecutivo, o país em que se mata mais trans no mundo, com Minas Gerais ocupando o 4º lugar, como o estado da federação onde esses crimes mais acontecem. Em 2023, o Brasil teve 145 pessoas trans assassinadas. Em relação a 2022 foram 14 a mais. Os dados são do relatório anual da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) divulgado nessa segunda-feira (29/1), Dia da Visibilidade Trans.
Não se cale, denuncie!
Em caso de violências e/ou discriminação é fundamental registrar o boletim de ocorrência, se possível com testemunhas. Lembre-se que toda delegacia deve atender as vítimas de transfobia. As denúncias também podem ser feitas pelo 190 (Polícia Militar) e pelo Disque 100, do Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos.
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