Preservar o patrimônio cultural é valorizar a identidade das pessoas e da comunidade que integram. Baseando-se nisso e buscando enaltecer o patrimônio material e imaterial que caracteriza a identidade dos Arturos, a restauradora Laura Fiorini se dispôs a desenvolver um projeto, que acabou contemplado pelo edital Movimenta Cultura 2021, do Fundo Municipal de Incentivo à Cultura de Contagem (FMIC).
Denominado “Restauração de oito esculturas devocionais e cinco instrumentos ritualísticos da cerimônia do reinado de Nossa Senhora do Rosário, pertencentes ao acervo da Comunidade Quilombola dos Arturos de Contagem”, Laura buscou preservar a identidade daquele povo, através da manutenção dos objetos ritualísticos utilizados nas celebrações, além de imagens de devoção, importante não apenas nas celebrações religiosas, mas também no dia a dia.
“Tendo em vista a grande relevância dessa comunidade para a história, cultura e identidade da cidade de Contagem, este projeto foi idealizado com o fim de ajudar na manutenção dessa cultura e religiosidade, através da restauração das imagens religiosas e instrumentos ritualísticos usados para as expressões de fé”, explicou a restauradora.
“Nas peças selecionadas para esse projeto busquei realizar ações de conservação curativa, ou seja, ações com o objetivo de preservar a integridade do objeto, tanto da estrutura quanto da pintura, a fim de interromper qualquer processo de deterioração e, dessa forma, preservar a integridade do bem pelo maior tempo possível”, ressaltou.
O que mais me chamou a atenção da restauradora foi a possibilidade de recuperar alguns materiais com os quais ela nunca havia trabalhado, como o metal. “O resultado foi muito satisfatório e o retorno da comunidade foi gratificante”, salientou. Ao todo, a restauração contemplou cinco esculturas, cinco espadas e oito coroas. As obras restauradas se encontram na própria comunidade dos Arturos.
Os Arturos
A Comunidade Quilombola dos Arturos, situada na Rua Capelinha, 1, no bairro Jardim Vera Cruz em Contagem, surgiu ao final do século XIX e se consolidou como um dos maiores e mais originais símbolos de resistência da cultura negra em Minas Gerais. Ela é constituída por aproximadamente 80 famílias, cerca de 500 pessoas, descendentes e agregados do casal Arthur Camilo Silvério e Carmelinda Maria da Silva, fundadores da comunidade.
Os Arturos se identificam como um grupo familiar que reside em propriedade coletiva. São bastante conhecidos em toda a região por causa de suas festividades religiosas, nas quais divulgam e preservam crenças folclórico-culturais, herdadas pela ancestralidade africana.
A artista
Formada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Laura Fiorini é restauradora de pintura e escultura e há cinco anos mantém um ateliê em Contagem, buscando conservar e restaurar obras em Minas Gerais e por todo o Brasil.