Para construir uma campanha conjunta com empresários e entidades da cidade na conscientização e enfrentamento à violência contra a mulher, a prefeita Marília Campos recebeu em seu gabinete representantes da Associação Comercial e Industrial de Contagem – Acic, da Câmara de Dirigentes Lojistas - CDL, do Centro Industrial e Empresarial de Minas Gerais - Ciemg, dos três shoppings do município (Big, Itaú e Contagem) – entre outras entidades de classe.
A ação terá ainda a participação das secretarias de Desenvolvimento Econômico - Sedecon, e Comunicação e Transparência - Secom, além da Superintendência de Políticas Públicas para Mulheres.
Na proposta inicial da campanha, as empresas que aderirem terão direito de fixar um selo de identificação que demarca seu compromisso com a causa, seja em seus produtos ou na identidade visual da instituição. Isso qualificará e valorizará as ações do empresariado e de entidades junto às respectivas marcas.
O encontro integra o conjunto ações desenvolvidas pela Prefeitura de Contagem para a Campanha “Agosto Lilás”, que celebra duas legislações emblemáticas: a Lei Maria da Penha (lei 11.340/06) que completou quinze anos no início do mês, no dia sete de agosto, e a lei 23.144/2018, que instituiu a data de 23 de agosto como o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio – de autoria da então deputada estadual, Marília Campos.
Entre as políticas públicas necessárias à superação desse quadro – além da conscientização – a prefeita Marília Campos destacou que as empresas poderiam adotar políticas de recrutamento para a contratação de mulheres ameaçadas ou vítimas de violência. “Reconheço que cada entidade tenha sua própria política de recursos humanos, mas mais que apoiar e estimular a denúncia em casos de violência doméstica, também é necessário garantir a subsistência dessas mulheres”, disse.
A prefeita explicou que a falta de perspectiva em que muitas se encontram, dada a relação de dependência econômica, é que as mantém sob o jugo dos seus agressores. “Estamos estudando um mecanismo de incentivo para que as empresas priorizem a contratação de mulheres vítimas de violência”.
A superintendente de Apoio às Políticas Públicas para Mulheres, Neimara Coelho, destacou sobre a política de RH. “Uma política de RH eficiente além de desenvolver um olhar atento ao drama vivido por suas colaboradoras, também garante a preservação dessas mulheres no seu quadro de funcionários”.
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Renê Vilela, destacou sobre a participação das entidades de classe. “Embora seja uma adversidade que todos de alguma forma têm algum conhecimento, reiterar esses números e esses dramas no ambiente de trabalho é muito importante para darmos à população o exato contorno que a questão precisa”.
Adesão e reconhecimento
Os representantes que participaram da reunião aderiram à campanha e reconheceram a importância da iniciativa.
Apontando a participação cada vez mais crescente das mulheres em cargos estratégicos dentro das organizações empresariais, o presidente da Ciemg, Fábio Sacioto, destacou que a violência doméstica impacta também o futuro do desenvolvimento dos negócios. “Na Ciemg temos o acúmulo de boas práticas nesse sentido e queremos contribuir com sua socialização”.
Já a superintendente executiva da Ciemg, Maria Helena de Sá, destacou a importância desses debates serem estimulados pelas entidades de classe. “É primordial que façamos a difusão de uma cultura de denúncia e de enfrentamento à violência contra as mulheres. Boa parte delas têm dificuldade de sair desse ciclo. É justamente quando se tem contato, em seu local de trabalho, com outras vivências e experiências individuais inspiradoras que se cria a oportunidade de romper com essa lógica. Tudo isso fomenta o melhor ambiente de negócios das empresas”.
Em sua intervenção, o presidente da CDL Contagem, Frank Sinatra, apontou que este é um problema que pode atingir a todos até pessoalmente. “Eu tenho filhas. Muitas mulheres são minhas colaboradoras diretas. Nosso empenho tem de ser na reeducação dos homens e nossa mobilização tem que estender essa campanha até mesmo aos nossos clientes”.
Representante do Conselho da Mulher Empresária da Acic, Cenita Barbosa, concluiu destacando a força da soma de esforços entre o poder público e a sociedade civil. “É uma ação que há tempos se fazia necessária. As mulheres de Contagem estavam relegadas a segundo plano, e a atual gestão prioriza o resgate da cidadania da mulher. Antes de se criar uma rede de proteção, devemos buscar a criação dessa grande rede de cidadania
Dados sobre a violência
Uma das principais instâncias de empoderamento feminino vem da sua capacidade de trabalho, e a violência contra mulher deprecia esse capital produtivo. Causada pelo homem, essa agressão sabota a afirmação da mulher nas relações de poder no interior do próprio lar, mas também no seu ambiente de trabalho. As consequências vão além da perda do ganho de autonomia e prestígio experimentados pela mulher. Estima-se que a economia brasileira tenha um prejuízo anual de mais de R $1 bilhão. Uma supressão de valores que se dá pela perda de concentração que ocasiona erros, faltas ao trabalho, entre outras desvantagens.
Dados da Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher (PCSCDF), desenvolvida pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com o Instituto Maria da Penha, apontam que somente nos primeiros seis meses deste ano 155 mulheres foram vítimas de feminicídio. Quase um assassinato por dia.
Repórter Guilherme Jorgui