O Agente de Combate às Endemias (ACE) tem a função de vigilância, prevenção e controle de doenças. São fundamentais no combate à dengue, zika, Chikungunya e febre amarela, as chamadas arboviroses, além da leishmaniose. O difícil trabalho desta peça fundamental no Sistema Único de Saúde (SUS) em Contagem, a terceira cidade mais populosa de Minas, com quase 700 mil habitantes, ganhou as telas do cinema. Protagonizado pela atriz Grace Passô, o filme "Temporada" foi gravado na regional Industrial e tem a participação de dois ACEs que atuam no Município.
O longa-metragem do cineasta contagense André Novais Oliveira ganhou cinco prêmios na edição 2018 do badalado Festival de Cinema de Brasília. No enredo, Grace Passô é Juliana, que acaba de se mudar de Itaúna, no interior, para começar uma nova vida trabalhando como ACE em Contagem. Além dos percalços da função nas andanças pela cidade grande, debaixo de sol ou chuva, levando portadas na cara e recusas no exercício da atividade, ela enfrenta todas as dificuldades de uma mulher negra, acima do peso dito ideal, da periferia e que enfrenta dificuldades no relacionamento com o marido.
Em janeiro e fevereiro deste ano “Temporada” esteve em cartaz no ItaúPower, em uma das mais de 15 salas de cinema dos shoppings de Contagem. Para dar naturalidade e verossimilhança ao filme, Janderlane de Souza, a Jade, interpreta Marcelina, e Hélio Ricardo conta sua própria história. Eles não são atores, mas fazem parte da equipe de cerca de 250 ACEs que trabalham em Contagem.
A convite do Portal da Prefeitura, os dois voltaram a alguns dos locais onde o longa foi gravado, no Industrial, para reviver momentos inesquecíveis. Aos poucos, deixaram transparecer que vida de ator também não é fácil. “Na cena do escadão, por exemplo, tivemos que subir e descer os 72 degraus mais de cinco vezes”, conta Hélio. “Tivemos que repetir algumas vezes a cena da vacinação contra a raiva nos cachorros”, relembra Jade.
[caption id="attachment_31016" align="aligncenter" width="700"] Os ACEs relembram o esforço de "atores" na cena da escadaria[/caption]No dia a dia de um ACE, Jade e Hélio fazem visitas domiciliares e orientam as comunidades sobre a correta destinação do lixo e dos chamados inservíveis, recipientes descartados que podem acumular água, como pneus, latas, vidros, garrafas, vasos de flores e seus pratinhos e até tampinhas de garrafa. Também chamam a atenção para os cuidados com caixas d’água, cisternas, piscinas e bebedouros de animais.
Realidades
Mesmo que "Temporada" não seja um filme que aborde de forma explícita temas como racismo e empoderamento feminino, essas questões vão aparecendo à medida que o cotidiano dos personagens se desenrola: a história de Juliana é a de muitas mulheres Brasil afora. Ao longo do filme, a ACE visita casas, conhece novas realidades e o cotidiano da periferia de Contagem.
Tão comum em outras áreas periféricas, essa realidade vai emergindo em meio à monotonia das cidades do interior, onde é possível tomar um cafezinho com bolo à tarde com alguém que confidencia memórias e recordações de um tempo ido. Aos poucos, olhares profundamente humanos surgem no contexto do combate às endemias.
Confira a premiação de “Temporada” na 51ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro: Melhor filme (Prêmio Técnico Dot Cine) Melhor atriz: Grace Passô Melhor ator coadjuvante: Russão Melhor fotografia: Wilsa Esser Melhor direção de arte: Diogo Hayashi