A 7ª Audiência Pública sobre o projeto do Rodoanel Metropolitano de Belo Horizonte, realizada na terça-feira (23/11), foi cancelada pela Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade - Seinfra durante as discussões no auditório do Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais - DER-MG, em Belo Horizonte. Devido ao cancelamento, a prefeita Marília Campos, uma das chefes do Poder Executivo presente à reunião, não conseguiu falar sobre a proposta de Contagem para o traçado da alça Sudoeste do Rodoanel que passará pela cidade.
Segundo informações do sargento Wagner Junior, do 1º Batalhão de Polícia Militar da Capital, presente e responsável pelo policiamento no local, haviam 160 pessoas dentro do auditório, e mais de 120 pessoas manifestando do lado de fora do edifício.
A integrante do Movimento SOS Vargem das Flores, Cristina Oliveira, que foi em caravana para a reunião, manifestou sua preocupação com o traçado imposto pelo governo estadual e criticou a falta de apoio do Estado à participação popular. “Acompanhamos este projeto há mais de 20 anos, pois é um projeto antigo. Nós acompanhamos com muita apreensão para que o traçado fosse retirado da bacia de Vargem das Flores, o que não aconteceu mesmo com a consulta pública feita pelo governo estadual. Esse governo não ouve o contraditório. Mas nós vamos continuar a defender a retirada do traçado de dentro de Vargem das Flores, agora mais do que nunca", declarou.
Para a prefeita de Contagem, Marília Campos, o governo estadual valorizou pouco a participação popular. "Em Contagem, a audiência pública feita pelo Estado foi cancelada por problemas técnicos para transmissão. E aqui, aconteceu a mesma coisa. O microfone não funcionou com o prefeito Medioli e eu nem tive o direito a fala para apresentar as nossas considerações. Minha expectativa é que eles refaçam a audiência com boas condições para a participação popular e com boas condições do ponto de vista técnico”, avaliou.
E completou: “Se o problema não for resolvido, vamos procurar o Ministério Público para denunciar este traçado proposto pelo Governo do Estado. É um traçado que além de prejudicar a população ao passar no meio de bairros, desaloja as pessoas. Além disso, em Contagem, ele impacta negativamente porque passa na bacia de Vargem das Flores, o que pode provocar, inclusive, o secamento da lagoa Várzea das Flores. E comprometer o abastecimento de água na nossa cidade, em parte de Betim e de Belo Horizonte".
Audiência interrompida
Toda a confusão começou quando a fala do prefeito de Betim, Vittorio Medioli, foi interrompida por problemas técnicos. Ele falava dos problemas encontrados na proposta do Estado e sobre o fato do governo estadual e Seinfra não darem o espaço a proposta alternativa de Betim, que aglutina outros municípios, dentre eles Contagem, Sarzedo, Ibirité, Brumadinho, Sabará, para a construção do corredor viário.
Segundo Medioli, "todos os prefeitos que pensam um minuto sobre este traçado chegam à mesma conclusão: ele não resolve os problemas atuais, mas agrava os problemas atuais, fazendo das cidades apenas travessia. Ele devasta vários bairros, ao cortar os dois municípios, impacta o transporte coletivo piorando as condições”.
Estavam também presentes os prefeitos de Sabará, Wander Borges, e de Sarzedo, Marcelo Pinheiro, além de representantes de prefeitos de outras cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Logo após cancelar a audiência desta terça-feira (23/11), o governo estadual informou que ela será retomada na próxima sexta-feira (26/11), das 13h às 17h , no auditório Juscelino Kubitschek, na Cidade Administrativa.
A diferença entre os traçados de Betim e o imposto pelo Governo Estadual
Após receber no dia (27/10), o prefeito de Betim Vittorio Medioli, na Prefeitura de Contagem, a prefeita Marília Campos apoiou a proposta da cidade vizinha por entender que ela é uma alternativa que traz menos impactos à população e preserva a região da Área de Proteção Várzea das Flores – APA, que fica na divisa entre os dois municípios.
Pela proposta alternativa de Betim que incorporou as considerações da Prefeitura de Contagem, o traçado do Rodoanel vai circundar a APA preservando a Bacia Hidrográfica de Várzea das Flores e não cortando bairros da região, como o Tupã. O que causaria impactos negativos do ponto de vista social, econômico e ambiental em toda a região, dificultando, inclusive, a integração entre as regiões da cidade.
A proposta alternativa corrige equívocos da proposta apresentada pelo Governo de Minas, causando menos impactos também para as cidades de Ibirité, Sarzedo, Brumadinho e outras da região. A primeira mudança proposta por Betim aumenta em, aproximadamente, 5 km o percurso, aproximando as BRs 040, 381 e 262. “Pela nossa proposta serão criadas interligações entre as rodovias, o que vai atrair investimentos, diversificar o parque logístico, com maior preservação do meio ambiente”, explicou Medioli. Por essa proposta ainda seria criada uma ligação direta entre Inhotim e a Capital, favorecendo o turismo na região, além de um aeroporto, que seria importante ponto para atrair investimentos.
O projeto elaborado por Betim prevê três pistas, com trânsito rápido e eficiente, acessos diretos, ausências de interseções e com a redução nos custos de desapropriações e no baixo impacto social. “A proposta do Estado, segundo ele, já nasce ultrapassada e saturada, ao prever duas pistas”, completou. “Não podemos aceitar o impacto social, o último a ser considerado pelo Estado, da maior obra de todos os tempos na região metropolitana, o que poderá impactar por 50, 100 anos toda a área”, afirmou Medioli.
O projeto do Estado está orçado em R$ 5 bilhões, aproximadamente, sendo R$ 3,07 bilhões oriundos do Estado, do valor de acordo firmado com a Vale pelo crime ambiental em Brumadinho.
O Estado tem promovido audiências públicas nas cidades que serão impactadas pela construção do Rodoanel. Porém em Contagem a reunião foi cancelada, por problemas técnicos na transmissão do evento, que é obrigatório no trâmite legal para a aprovação da proposta.