Símbolo que sintetiza a identidade histórica, cultural e industrial de Contagem, a Casa de Cacos de Louças, localizada no bairro Bernardo Monteiro, está passando por uma grande reforma. O projeto de restauração pretende valorizar a história de Contagem e reavivar a memória afetiva dos contagenses, promovendo uma maior conexão da população com a cidade.
A Casa de Cacos funcionou como museu até o ano de 2005, quando foi interditada pela Defesa Civil por motivos de segurança. As obras de restauração, orçadas em R$2,4 milhões de reais com financiamento da Caixa Econômica Federal - CEF, começaram em maio deste ano e já estão bem avançadas. A previsão é que o local esteja pronto para visitação no primeiro semestre do ano que vem.
Segundo o projeto, além de restaurar, totalmente, a estrutura física do imóvel e dos elementos decorativos que compõem a casa, nos fundos, será construído um anexo com um café, um espaço administrativo e um mirante que vai proporcionar uma vista panorâmica do local.
Segundo a secretária de Cultura, Monique Pacheco, a Casa de Cacos é um dos mais importantes patrimônios culturais da cidade. "Ela nos representa por sua singularidade artística, por ser uma obra única. Nós estamos fazendo esta restauração, com muito capricho, para devolver este espaço cultural à população da cidade, que tem uma memória afetiva muito forte com o local. Além disso, queremos impulsionar na cidade o turismo e a economia local, mostrando toda a beleza, poesia e facetas nela contidas”.
De acordo com o assessor da Secretaria de Cultura, Lúcio Honorato, a proposta do restauro e da reabertura da Casa de Cacos de Louças, resgata o espaço como um elemento importante do patrimônio histórico da cidade, por sua singularidade e diversidade cultural, representada pelas mais variadas histórias que a compõem. “Os mosaicos criados ali carregam uma dimensão tanto artística, de criação e fruição estética, quanto simbólica e filosófica, porque neles também contém um pouco da história, da memória e da construção da identidade de Contagem”, explica.
História, memória e identidade
A Casa de Cacos de Louças, uma construção da década de 1960, traz consigo a história do seu criador e morador, o geólogo Carlos Luís de Almeida, o Seu Carlos, e em cada espaço, é possível identificar traços da sua personalidade, dos seus gostos, da sua história e da época.
Tudo no local, incluindo paredes, móveis, objetos, muros e fachadas, foi customizado com mosaicos feitos a partir de cacos de louças, vindos das mais diversas procedências. Além dos mosaicos, há esculturas de cachorros, cabras e uma curiosa elefanta, chamada “Fifi”.
Segundo consta nos registros, alguns cacos seriam vindos do Palácio do Planalto, um presente da mulher do ex-presidente Ernesto Geisel ao artista. Outro assíduo fornecedor de cacos teria sido o proprietário do extinto Café Pérola, na Praça 7, em Belo Horizonte.
Valor artístico, histórico e turístico
A Casa dos Cacos de Louças é a única em sua tipologia no Brasil. O seu valor histórico e turístico foi reconhecido pelo poder público, por meio do Decreto 10.445, que tombou o local em 1991, tornando-a como parte do acervo cultural de Contagem. Ao longo do tempo, a Casa de Cacos tornou-se conhecida na cidade, em outros estados e também fora do país.
“A casa desperta curiosidade por ser uma construção exótica, um tanto excêntrica. Ela também se torna interessante e atrativa, por seu potencial identitário e turístico, que gera conexão, uma contextualização do fazer e do consumo cultural na cidade. Contagem é uma cidade antiga, que se desenvolveu rapidamente, com a chegada das indústrias ao território, na década de 1940, consolidando seu crescimento nos anos de 1960”, conta Lúcio Honorato.
Segundo ele, a visão de Contagem é de uma cidade industrial. Mas, na verdade, a cidade é multifacetada, porque contém o ambiente histórico, o rural e o urbano, convivendo ao mesmo tempo. “Assim como a Casa de Cacos, Contagem é um mosaico de várias experiências culturais, com uma identidade plural e muita rica. O desejo da atual administração é reavivar esta identidade multifacetada da cidade e transformar o centro de Contagem em um grande circuito histórico cultural”.
De acordo com o também assessor da Secretaria de Cultura, Milton Leão, “o bairro Bernardo Monteiro, onde fica a Casa de Cacos, guarda uma identidade muito ligada aos tempos em que o trem era o principal transporte para se chegar até a cidade. Há um bairrismo, uma identidade local, que ajudou a guardar a importância do imóvel”.
Para Milton, a Casa de Cacos ainda é um símbolo da identidade de Contagem porque alia memória, história e um marco político. “A restauração também quer dizer que nós valorizamos a inteligência, a cultura e a arte, e que não haverá mais espaços importantes abandonados e esquecidos na cidade. O retorno da Casa de Cacos é uma nova oportunidade de viver o passado com um olhar para o futuro”.
A Casa de Cacos fica na rua Ignez Glanzmann de Almeida, 132, no bairro Bernardo Monteiro.